Ansiedade: quando a preocupação faz mal

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

Os transtornos de ansiedade estão entre as condições de saúde mental mais prevalentes na população brasileira, sendo que o Brasil é o país com mais casos de ansiedade do mundo. Existem inúmeros tipos de transtornos de ansiedade (síndrome do pânico, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros), mas esse texto foca no seu tipo mais comum: o transtorno de ansiedade generalizada. O objetivo é mostrar os principais sintomas e sinais que podem e devem fazê-lo procurar ajuda, além de apontar os possíveis tratamentos que o médico poderá lhe propor. 

Boa leitura.

*Prefere assistir? O conteúdo deste artigo também está disponível no vídeo abaixo. 

Vídeo: TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA: Quando a preocupação faz mal

ANSIEDADE: Quando a preocupação excessiva faz mal

O que é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

A ansiedade é uma reação do organismo a situações que causem algum tipo de expectativa. É completamente normal sentir sintomas ansiosos antes de uma entrevista de emprego, uma prova escolar, uma consulta médica ou pela espera do resultado de um exame. Tais sintomas podem incluir o aceleramento do coração, pensamentos recorrentes e de preocupação, respiração ofegante, dificuldade de dormir, dificuldade de se concentrar, irritação, tensão nos músculos. Passada a expectativa os sintomas somem sem deixar sequelas.

Porém, quando ocorre uma preocupação excessiva, de difícil controle, prejudicando as atividades do dia a dia e ocorrendo quase diariamente por pelo menos 6 meses, estamos diante de um possível quadro de Transtorno de Ansiedade Generalizada. Essa definição faz parte do DSM-5, o principal manual de diagnóstico de transtornos mentais usado por médicos e psiquiatras no mundo todo.

A idade média de diagnóstico é aos 30 anos, porém podem iniciar em qualquer idade, inclusive em idosos.

É uma doença crônica, com períodos de melhora ou piora. Pode-se passar anos sem sintomas, sendo que cerca de metade dos pacientes melhoram sem ter nenhum novo episódio durante toda a vida. A outra metade pode acabar tendo períodos de recorrência da doença.

Não há necessariamente uma cura, mas é possível controlar a doença seja com psicoterapia e/ou medicações.  

Quais as causas?

Parece que há algum componente genético na doença. Isto não quer dizer que se seu pai ou sua mãe têm transtorno de ansiedade generalizada você também terá, porém as chances são maiores.

As características do ambiente também parecem influenciar na doença e sua evolução. Pessoas com a doença parecem mostrar uma tendência em interpretar situações corriqueiras do dia a dia de maneira negativa, algo muitas vezes modificável com psicoterapias e ou medicações. 

As pesquisas com adultos mostram que parte dos portadores da doença tiveram uma infância com eventos traumáticos ou difíceis. Pessoas tímidas também parecem ter uma tendência maior em desenvolver a doença.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por um médico de família, generalista ou obviamente um psiquiatra, basicamente pelo histórico dos sintomas obtidos em uma consulta médica. Exames normalmente não são necessários, a menos que haja dúvidas de que a causa da ansiedade possa ser devida a alguma outra doença.

O objetivo principal do médico é determinar se os sintomas de ansiedade são devidos ao transtorno de ansiedade generalizada ou por outras causas.

Para saber isso o médico poderá lhe fazer perguntas para saber se:

  • A ansiedade está relacionada aos eventos do dia a dia (trabalho, saúde, finanças, entre outras)?
  • A ansiedade é difícil de controlar?
  • Existem sintomas como irritação, dificuldade de concentração, cansaço excessivo, tensão muscular?
  • Os sintomas ocorrem na maioria dos dias?
  • Os sintomas estão presentes há mais de 6 meses?
  • Os sintomas estão causando sofrimento ou dificuldade na vida social, no trabalho ou em outros aspectos da vida?

Se todos estes aspectos estão presentes, é possível que se esteja diante de um quadro de transtorno de ansiedade generalizada.

O médico irá ainda lhe fazer perguntas para tentar quantificar o grau dos sintomas, de forma a definir o melhor tratamento. 

Tem tratamento?

Cada pessoa é única e as necessidade de tratamento variam inclusive com os desejos do paciente. O médico não deve impor um tratamento, mas sim discutir as possibilidade com o paciente de acordo com suas expectativas e desejos.

Os principais objetivos do tratamento são reduzir os sintomas ansiosos e melhorar a qualidade de vida.

Os tratamentos indicados são a psicoterapia e as medicações, podendo ser realizados somente um deles ou os dois em conjunto. Você e seu médico devem decidir juntos pela melhor alternativa.

A terapia cognitivo comportamental é o tipo de psicoterapia com mais estudos e validações para o uso no transtorno de ansiedade generalizada, mas outras podem ser úteis, conforme a preferência do paciente.

Dentre as medicações, a primeira escolha é para algum medicamento da classe dos Inibidores de Recaptação de Serotonina (sertralina, fluoxetina, paroxetina, escitalopram, venlafaxina, duloxetina entre outros), porém outras classes podem ser utilizadas dependendo do caso.

Qualquer medicamento tem seus efeitos colaterais, e o médico decidirá caso a caso qual a melhor medicação para iniciar, além de sua dose. Não é porque seu amigo tem sintomas parecidos com o seu e está tomando um medicamento, que esse medicamento será adequado para seu caso. Alguns medicamentos podem causar sonolência para algumas pessoas, outros podem tirar o sono, alguns podem não ser recomendados para serem utilizados junto com outro remédio que já está em uso. Por isso, nunca é demais lembrar: não use nenhuma medicação sem o conhecimento de seu médico!

O médico provavelmente vá iniciar a medicação escolhida numa dose mais baixa, de forma que seu organismo se “acostume” com o remédio, evitando ou diminuindo seus efeitos colaterais. Após algumas semanas é possível que ele aumente a dose para aquela que faça o melhor efeito.

Ainda é possível que seja necessário adicionar um segundo medicamento ou trocar o medicamento por outro, caso a primeira escolha não tenha obtido o efeito desejado ou tenha causado efeitos colaterais indesejados.

As medicações costumam levar algumas semanas para produzir algum efeito, e em casos específicos, o médico poderá iniciar um outro medicamento tempoirário para ajudar nesse período inicial, principalmente em casos de sintomas mais graves.

Uma vez iniciada a medicação e ajustada a dose que ela faça seu melhor efeito, ela costuma ser mantida por pelo menos 12 meses. Muitos pacientes as usam por vários anos. Isto é particular de cada caso, e o acompanhamento periódico com seu médico de confiança se faz indispensável.

A terapia cognitivo comportamental normalmente é realizada em 10 a 15 sessões, porém os pacientes são incentivados a manter as habilidades aprendidas na terapia de forma a prevenir a recorrência dos sintomas. Novas sessões uma vez por ano podem ser benéficas para algumas pessoas. 

Outros tratamentos adjuvantes incluem: técnicas de relaxamento respiratório, higiene do sono, atividade física aeróbica, meditação e yoga. 

Conclusão

Os sintomas ansiosos são uma reação normal do organismo para situações que geram expectativas. Quando se tornam persistentes e atrapalham o dia a dia, é necessário procurar ajuda. O médico irá fazer o diagnóstico e propor um tratamento que pode incluir psicoterapia e medicações. As medicações podem levar algumas semanas para fazer efeito e uma vez iniciada devem ser mantidas por pelo menos um ano. A terapia cognitivo comportamental é realizada normalmente em 10 a 15 sessões. Atividade física aeróbica regular, bem como meditação e técnicas de relaxamento podem ajudar a combater os sintomas.

Espero que a leitura tenha sido útil.

Se tiver dúvidas escreva nos comentários do artigo ou nas redes socias.

Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © tomertu de Getty Images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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