DPOC: A falta de ar causada pelo cigarro

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 8 dias

O cigarro tem o potencial de causar muitas doenças. Uma delas é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma doença evitável, porém incurável e cujo principal sintoma é a falta de ar. Nesse artigo tento descrever o que é e como se desenvolve a doença, quais seus principais sintomas, como é feito o diagnóstico e o tratamento. O principal objetivo é tentar conseguir pelo menos um motivo para você largar o cigarro. A batalha é árdua, mas não posso deixar de lutá-la.

Boa leitura. 

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Vídeo: DPOC: A falta de ar causada pelo cigarro

DPOC: A falta de ar causada pelo cigarro

O que é a DPOC?

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma doença que afeta os pulmões e é bastante comum. Estima-se que cerca de 10% das pessoas com mais de 40 anos tenham DPOC no mundo. A doença é caracterizada pela diminuição do ar que chega até o interior dos pulmões devido a anormalidades nas vias responsáveis por esse transporte ou ainda pela destruição dos alvéolos, que são os responsáveis por fazer o oxigênio chegar até a corrente sanguínea. 

Ela se divide em três subtipos:

  • enfisema: quando ocorre destruição do espaço de troca de oxigênio no interior dos pulmões.
  • bronquite crônica: quando há tosse produtiva causada pelo cigarro.
  • asma obstrutiva crônica: um tipo de inflamação persistente das vias respiratórias.

A principal causa é a exposição contínua à partículas nocivas ou gases tóxicos, sendo o principal deles o cigarro. Fumar, independentemente da quantidade, porém de forma contínua, é a principal causa da doença. Apesar de menos comum nos dias de hoje, a exposição diária por anos à fumaça do fogão à lenha ou ao fumo passivo, naquele em que se convive no mesmo ambiente que um fumante por longos anos, pode também desencadear a doença. É provável que o cigarro eletrônico cause o mesmo mal no decorrer de longos anos de uso contínuo.

Quais os sintomas?

O principal sintoma da DPOC é a falta de ar. Conforme a doença evolui os sintomas tendem a piorar. É comum sentir falta de ar para caminhar ou fazer atividades do dia a dia como subir escadas, tomar banho ou se vestir.

Os pulmões também podem produzir sons estranhos chamados de sibilos, que parecem um assobio ao respirar.

Em alguns casos pode-se ter tosse associada com produção de catarro.

Pessoas que têm DPOC podem ter complicações quando tem gripes, sendo mais susceptíveis a ter pneumonias, muitas vezes com necessidade de internamento hospitalar para seu tratamento.

Como saber se tenho a doença?

Nem toda falta de ar em pessoa que fumou a vida inteira é DPOC. A falta de ar pode estar relacionada a outras doenças como asma, outros problemas pulmonares, incluindo câncer ou ainda doenças do coração. Apesar de muitas vezes problemas no coração terem relação direta com a DPOC, ela pode se manifestar de forma isolada.

Para saber se você tem DPOC o médico pode solicitar um exame chamado de espirometria, o exame do sopro. Nesse exame você precisa encher bem os pulmões de ar e assoprar com o máximo de força no aparelho que mede o volume de ar dos seus pulmões (Capacidade Vital Forçada – CVF), bem como a quantidade de ar que sai dos seus pulmões em 1 segundo (Volume Expiratório Forçado em 1 segundo – VEF1). O teste é feito antes e depois de você aspirar um remédio pela boca, o broncodilatador, que como o nome sugere, age aumentando o calibre das vias respiratórias. Na DPOC esse remédio faz pouco efeito, e alterações tanto antes quando depois de seu uso confirmam a doença (por definição VEF1/CVF < 0,7 indicam limitação das vias aéreas).

A espirometria é o exame de escolha para o diagnóstico da doença, porém é um exame que nem sempre está disponível, além de custar caro. Em alguns casos outros exames podem ser utilizados como um teste que estima o pico máximo de fluxo de ar durante a espiração, um exame simples que pode ser realizado no consultório, porém que tem baixa sensibilidade para a doença.

A oximetria de pulso – aquele exame que ficou conhecido na pandemia da covid e que mede a saturação de oxigênio medido em um dos dedos da mão – é utilizada não para o diagnóstico, mas sim para o acompanhamento de doentes de DPOC. A saturação pode reduzir em doentes de longa data, sendo que alguns precisam de oxigênio suplementar para melhorar seus sintomas.

Oxímetro de dedo

Outros exames podem ser pedidos, mas não para confirmar a doença e sim para afastar outras causas:

  • Radiografia ou tomografia de tórax: um simples raio x pode ajudar a mostrar o padrão da doença e afastar causas graves como tumores ou outras doenças.
  • Eletrocardiograma (ECG) ou outros exames de avaliação do coração: o médico pode pedir exames para avaliar se há algum problema com o seu coração. O ECG é um dos mais comuns.

Tem cura?

A DOPC não tem cura, mas têm tratamento.

O primeiro passo é parar de fumar. Isso para evitar a progressão da doença e ajudar a controlar melhor os sintomas.

Além disso, o médico pode sugerir 4 tipos de tratamento:

  • Medicamentos
  • Oxigênio
  • Reabilitação pulmonar
  • Cirurgia pulmonar

Medicamentos

As “bombinhas” são o principal tipo de tratamento. Elas são usadas na forma inalatória, que consiste em aspirar o conteúdo do remédio pela boca 1 ou mais vezes por dia.

Mulher inalando medicação

Existem pelo menos 5 tipos de remédios disponíveis na forma de bombinhas inalatórias:

  1. Beta agonistas de curta duração. O salbutamol (aerolin) é um dos mais conhecidos e está disponível de graça pelo programa “Aqui tem Farmácia Popular” do SUS. É uma medicação que sempre deve estar no bolso do portador de DPOC, pois é o remédio de resgate que deve ser usado sempre que tiver uma crise de falta de ar.
  2. Beta agonistas de longa duração. O formoterol é um de seus representantes e está disponível em alguns estados brasileiros pelo SUS.
  3. Antagonistas muscarineos de curta duração. Ipratrópio é um dos medicamentos dessa classe. Não tem pelo SUS.
  4. Antagonistas muscarineos de longa duração. Tiotrópio é um dos medicamentos dessa classe. Também não tem pelo SUS.
  5. Corticoides. A beclometasona (clenil) é um de seus representantes disponibilizado pelo SUS no programa “Aqui tem Farmácia Popular”.

Não use nenhum medicamento por conta própria!

Somente o médico saberá indicar qual a melhor medicação ou combinação de medicações de acordo com o estágio de sua doença. Algumas bombinhas contêm combinação dos remédios citados acima.

Uma das falhas mais comuns na medicação está na dificuldade de uso. Converse com seu médico sobre a forma correta de aspirar a medicação. Normalmente você tem que esvaziar o ar dos pulmões e só então aspirar o remédio pela boca, aguardando alguns segundos antes de soltar o ar. Pacientes com dificuldade podem se beneficiar do uso de espaçadores

Espaçador para inalação

Quem usa corticoide deve limpar a boca após o uso do remédio, seja escovando os dentes ou lavando a boca com água, de forma a evitar que a medicação elimine organismos protetores da boca.

Oxigênio

Em alguns casos avançados da doença ou durante exacerbações (pneumonias ou outras doenças associadas em paciente com DPOC) pode ser necessário o uso de oxigênio suplementar.

O uso de oxigênio normalmente é feito durante a maior parte do dia e da noite, inclusive nos períodos de sono e até para tomar banho. Ele é feito com a ajuda de cilindros ou de concentradores que levam o oxigênio para o nariz ou para a boca através de tubos ou máscaras. É um tema complexo e você pode ler mais sobre isso nesse outro artigo.

Reabilitação pulmonar

O médico pode indicar o acompanhamento com um fisioterapeuta para fazer exercícios que ajudem a melhorar a musculatura pulmonar. Isso pode o ajudar a ficar longe do oxigênio, ou reduzir a necessidade de medicações.

Cirurgia pulmonar

Em casos muito específicos e selecionados o médico pode sugerir cirurgias para a remoção de partes do pulmão que não estão funcionando ou ainda o transplante pulmonar, que é uma cirurgia bastante complexa e com riscos elevados. É um tipo de tratamento menos comum e usado apenas em casos particulares. 

Recomendações

Se você tem DPOC, as principais recomendações são:

  • Pare de fumar!
  • Mantenha-se ativo, fazendo exercícios físicos por mais simples que sejam. Caminhadas, natação, ginástica, movimentação conforme sua tolerância. O melhor exercício é aquele que você faz!
  • Se sentir falta de ar que não melhora com o uso da bombinha de resgate ou se sentir doente e mais cansado que o usual, entre em contato com seu médico e procure um hospital imediatamente!

Conclusões

A principal causa da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é o uso crônico de cigarro. A falta de ar durante atividades corriqueiras é o principal sintoma. A espirometria é o exame de escolha para seu diagnóstico. É uma doença evitável e tratada principalmente com o uso de bombinhas inalatórias. Se você está sentindo falta de ar que antes não sentia, procure seu médico. Se aceitar um único conselho: pare de fumar o quanto antes!

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Até a próxima semana.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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