Luto: como enfrentar a perda?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 12 dias

A perda de um ente querido é uma experiência inerente à condição humana, um momento de dor profunda que marca a jornada da vida. É um processo que todos provavelmente teremos que encarar uma ou mais vezes durante a vida. Cada indivíduo, em sua individualidade, experiencia o luto de maneira própria, gerando um mosaico de reações que desafiam generalizações.

Neste artigo você vai conhecer como acontece o processo natural do luto. Vai saber as fases esperadas durante o luto, entender quando as reações do luto estão se estendendo demais e em que casos é necessário procurar ajuda.

O que é o luto?

O luto é muito mais do que a tristeza pela perda de um ente querido. É um conjunto de reações abrangentes que envolvem aspectos emocionais, físicos, cognitivos e sociais. As emoções podem variar de tristeza profunda e raiva a confusão, culpa e até mesmo alívio. Fisicamente, o luto pode se manifestar através de fadiga, insônia, alterações no apetite e dores. Cognitivamente, a pessoa enlutada pode ter dificuldade de concentração, lapsos de memória e sentir que a realidade se tornou impossível. Socialmente, o luto pode levar ao isolamento e à dificuldade de manter relacionamentos.

As fases do luto

Em 1969 a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross publicou o livro Sobre a Morte e o Morrer em que ela teoriza que existem 5 fases para o luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Este modelo foi concebido após anos de experiência de convívio da autora com pacientes terminais e seus familiares. Não existem evidências científicas fortes que comprovem que o luto se desenvolva exatamente dessa forma, nem que todos passem por todas as fases e exatamente nessa ordem, porém o trabalho dela ajuda a entender um pouco melhor sobre o que é esperado do luto.

  • Negação: A incredulidade e choque marcam essa fase. O indivíduo pode ter dificuldade em aceitar a realidade da perda, buscando explicações alternativas ou negando a morte. É um mecanismo de defesa inicial que permite um amortecimento do impacto da notícia.
  • Raiva: Com a realidade da perda se instalando, a raiva pode emergir, direcionada à pessoa falecida, a terceiros ou mesmo a si mesmo. O indivíduo pode questionar o porquê da perda, sentir-se injustiçado e expressar revolta através de irritabilidade, frustração e até agressividade.
  • Barganha: Na tentativa de reverter a situação, o indivíduo pode buscar soluções “mágicas” ou fazer promessas, como “Se eu tivesse feito diferente…” ou “Se eu pudesse voltar no tempo…”. É uma forma de lidar com a culpa e o desejo de controle diante da impotência da perda.
  • Depressão: A tristeza profunda e persistente é a principal característica dessa fase. O indivíduo pode sentir-se desesperançoso, isolado, com falta de energia e interesse em atividades que antes lhe traziam prazer. É importante diferenciar a depressão como fase do luto da depressão como doença, que exige acompanhamento profissional.
  • Aceitação: A fase final não significa necessariamente alegria ou conformidade, mas sim a aceitação da realidade da perda e a adaptação à nova realidade. O indivíduo consegue seguir em frente, reinvestindo em seus relacionamentos e atividades, aprendendo a conviver com a saudade e a honrar a memória do ente querido.

A importância da individualidade no processo de luto

Cada pessoa é única e, portanto, a forma como lida com o luto também é. Fatores como a natureza do relacionamento com a pessoa falecida, a causa da morte, a personalidade do indivíduo, seu sistema de apoio social e suas crenças culturais e religiosas influenciam a experiência do luto. Algumas pessoas podem precisar de mais tempo para se adaptar à perda, enquanto outras podem apresentar uma maior resiliência.

Luto normal e luto complicado

É fundamental distinguir o luto normal do luto complicado. O luto normal é um processo natural e esperado, que se resolve com o tempo e o apoio adequado. Já o luto complicado, também conhecido como luto prolongado ou persistente, é caracterizado por sintomas intensos e persistentes que interferem significativamente na vida diária da pessoa.

Sinais de alerta para o luto complicado:

  • Tristeza intensa e persistente que não melhora com o tempo;
  • Dificuldade em aceitar a morte;
  • Sentimentos de desesperança, inutilidade ou culpa excessiva;
  • Isolamento social;
  • Dificuldade em retomar atividades diárias;
  • Pensamentos recorrentes sobre a morte;
  • Comportamentos de risco ou autodestrutivos;

Quando procurar ajuda médica?

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando um luto complicado, é fundamental procurar ajuda médica. Um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra, pode oferecer suporte e tratamento adequados. Além disso, o médico de família pode ser um importante aliado nesse processo, oferecendo acolhimento, orientação e encaminhamento para outros especialistas, se necessário.

O importante é contar com um profissional de sua confiança, para que você se sinta acolhido e tenha um ambiente seguro para abrir suas emoções.

Como lidar com o luto de forma saudável

Existem diversas ações que podem ser realizadas para se lidar com o luto. Entre elas estão:

  • Permita-se sentir: Não reprima suas emoções. É importante vivenciar a tristeza, a raiva, a saudade e qualquer outro sentimento que surgir.
  • Busque apoio: Converse com familiares, amigos ou um profissional de saúde mental. Compartilhar suas emoções pode aliviar o peso da dor.
  • Cuide de si mesmo: Mantenha uma alimentação saudável, pratique exercícios físicos e durma bem.
  • Respeite seu tempo: O luto é um processo que leva tempo. Não se cobre para superar a perda rapidamente.
  • Honre a memória do ente querido: Encontre maneiras de lembrar e homenagear a pessoa que faleceu. Isso pode ajudar a manter viva a sua memória e o legado que ela deixou.

Com o tempo a dor tende a diminuir. Uma cicatriz sempre acabara existindo e lembranças virão à tona nos momentos mais inusitados. Tenha calma, respire, chore se for preciso, mas resignifique sua vida e enalteça as memórias positivas.

Recursos adicionais

Se estiver se sentido desesperançoso, procure seu médico, psicologo ou profissional de saúde.

Outras opções de ajuda:

  • Vamos Falar Sobre o Luto – Uma plataforma digital de informação, inspiração e conforto para quem perdeu alguém que ama ou para quem deseja ajudar um amigo nessa etapa tão difícil.
  • Centro de Valorização da Vida (CVV) – telefone 188 – Um serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

Conclusão

O luto é uma experiência humana universal e individual. Cada pessoa vivencia o luto de maneira única e singular. É fundamental acolher e validar os sentimentos de quem está enlutado, oferecendo apoio, compreensão e respeito ao seu tempo. Se você está enfrentando um luto complicado, não hesite em procurar ajuda médica. Lembre-se que você não está sozinho nessa jornada.

* A imagem que ilustra esse artigo foi gerada por IA via ChatGPT/DALL·E.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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