A telemedicina veio para ficar!

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 10 meses

A pandemia do coronavirus trouxe muitos prejuízos, sequelas e mortes. Porém, foi graças a ela que algumas tecnologias ganharam um enorme impulso. Google Meet, Zoom e Teams tornarem-se termos corriqueiros na vida de muitos. A familiaridade com tais ferramentas aliada com a necessidade imperiosa de continuar cuidando da saúde sem poder sair de casa, foi o empurrão que faltava para que a telemedicina ganhasse vida. Com as novas regulamentações, hoje é possível fazer consultas no conforto do seu lar, trabalho ou até mesmo dentro de um ônibus ou outro veículo. Apesar de inicialmente eu ter dúvidas sobre sua adoção, hoje já é possível afirmar: A telemedicina veio para ficar!

Modalidades da telemedicina

Telemedicina e teleconsulta se confundem. O primeiro é muito mais amplo e engloba todas as modalidades de saúde à distância, porém, o que a maioria das pessoas têm contato mais direto, são os atendimentos de consulta remota com um médico.

O termo telemedicina acabou tornando-se sinônimo de teleconsulta, porém, além das consultas realizadas com o médico e o paciente em lugares diferentes conectados através de uma tela e ou equipamento de vídeo, a telemedicina vai além. Em maio de 2022 o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou várias modalidades para os atendimentos remotos.

Além da teleconsulta estão regulamentadas as consultas entre médicos para tratar de casos de pacientes, a emissão de laudos de exames por um médico em local diferente de onde foi realizado o exame, as cirurgias robôticas, a triagem remota de casos, além do monitoramento remoto de pacientes.

Neste último, apesar de parecer cena de ficção científica, é uma realidade já utilizada para o acompanhamento de pacientes, porém não necessariamente em tempo real. Pessoas que usam CPAP para dormir, por exemplo, devido a problemas respiratórios como apneia do sono, podem ser monitoradas e terem seus equipamentos ajustados a distância pelo médico assistente. O monitoramento dos valores de açúcar no sangue de pacientes diabéticos também já pode ser analisado remotamente. É uma área em franca expansão e merece um artigo dedicado só para esse tema ;-).

Vantagens e evoluções

Com as novas regulamentações, empresas como a Docway, fundada em 2015, avançaram e muito no mercado brasileiro. Ela conecta pacientes e médicos, através do convênio com operadoras de planos de saúde, num modelo de pronto atendimento digital. De um lado os pacientes pedem por uma consulta no pronto atendimento e ficam aguardando no conforto do seu lar em qualquer cidade brasileira, num quarto de hotel localizado na França ou nos Estados Unidos, ou até mesmo dentro de um carro parado no engarrafamento de uma grande cidade como São Paulo. Do outro, os médicos ficam de plantão aguardando os pacientes, munidos de um computador e vestindo seus jalecos, sentados numa cadeira confortável em suas próprias casas.

Em muitos casos um enfermeiro remoto pode ser acionado para fazer uma triagem e já dar a devida tratativa para o caso do paciente, resolvendo a queixa com orientações diretas ou conduzindo o caso para um médico.

Assim que um médico fica disponível um paciente que estava esperando na fila é encaminhado para este, que avalia a queixa e a demanda. Além do próprio vídeo, fotos de lesões, manchas de pele, resultados de exames, entre outros documentos podem ser enviados previamente para a avaliação do médico. Bebês recém-nascidos, gestantes, adultos, idosos e até pacientes com dificuldade de locomoção ou institucionalizados podem ter o atendimento por essa modalidade sem precisar se expor à um ambiente hostil de um pronto atendimento presencial, num hospital lotado de pessoas à espera de um atendimento.

Prescrições eletrônicas

Realizado o diagnóstico, o médico pode então prescrever medicamentos, propor tratamentos, orientar, solicitar exames ou fornecer atestados. Aqui entra em ação outra solução criada e aprimorada com a pandemia: a de emissão de documentos médicos eletrônicos. Para isso, e também para adequação às leis brasileiras, o CFM determinou que é necessária a assinatura eletrônica dos documentos gerados durante os atendimentos com o uso de certificado digital. Para facilitar sua adoção o CFM inclusive realizou parceria em 2021 com uma empresa de certificação digital de forma a permitir que todo e qualquer médico brasileiro possa prescrever e assinar documentos médicos de forma eletrônica.

O próprio CFM criou uma ferramenta para assinatura e validação de documentos médicos. Porém outra empresa tem roubado a cena. Criada em 2012, a Memed permite a criação e assinatura de documentos médicos, além do envio de forma simples para os pacientes através de mensagens de texto SMS, WhatsApp ou e-mail. As receitas assinadas não precisam ser impressas, basta o paciente mostrar o código enviado para o atendente da farmácia diretamente na tela de seu celular para que a receita seja processada, validada e vendida.

O sistema da Memed permite que o farmacêutico dê baixa nas medicações vendidas na receita, de forma que não seja possível comprar o mesmo remédio de forma indefinida em outras farmácias. A venda de medicações online tornou-se uma realidade também, permitindo que pelo próprio celular seja realizada a pesquisa de medicamentos nas diversas farmácias da região e um motoboy venha fazer a entrega diretamente na porta do paciente, sem a necessidade de tirar os pijamas e sair para comprar os remédios.

Diferentemente do que acontece na versão em papel, a prescrição eletrônica permite que, em receitas contendo mais de um medicamento controlado, o paciente possa comprar cada medicamento em uma farmácia diferente.

Mesmo na prescrição eletrônica as regras de validade para as receitas continuam as mesmas da receita de papel: de 30 dias a partir da data da emissão para a maioria dos medicamentos controlados e de 10 dias para antibióticos. As receitas de medicações de via simples têm como regra prática a validade de 6 meses para os medicamentos disponibilizados pelo programa Farmácia Popular.

Algumas (poucas) desvantagens

Alguns medicamentos que necessitam de receita especial (azul, amarela entre outras) ainda precisam do documento em papel para serem compradas.

Muitas queixas podem ser tratadas diretamente com o médico por uma consulta remota, porém algumas precisam de consulta presencial, seja em pronto atendimento de emergência ou em consultas eletivas. Às vezes fica difícil saber se o que o paciente tem é algo grave ou não. Nestes casos o enfermeiro ou o médico conseguem avaliar essa necessidade pela consulta remota e orientar o paciente a procurar um serviço de saúde presencial. 

Pela facilidade no atendimento, alguns pacientes acabam fazendo várias consultas em sequência de forma a tentar obter múltiplas receitas ou tentar encontrar um médico que forneça algum atestado mesmo que não bem indicado.

As resoluções do CFM orientam que pacientes com doenças crônicas (diabetes, pressão alta, hipotireoidismo, asma, entre outras) precisam de consulta presencial em intervalos não superiores a 180 dias. Isto a meu ver é ótimo pois o exame físico do paciente é essencial. Ainda não é possível substituir o toque, a palpação do abdome ou a ausculta do coração e dos pulmões dos pacientes, apesar de muitos médicos terem abandonado essa prática simples e demorada pela agilidade dos exames complementares, que muitas vezes são desnecessários, caros e que podem trazer sequelas (porém isso também é tema para outro artigo).

Resumo e conclusão

Muitas das modalidades da telemedicina já vêm sendo usadas há mais de uma década. A pandemia do coronavírus acelerou o processo, principalmente no que diz respeito as teleconsultas, que une médicos e pacientes cada um no conforto de seu lar. Apesar de não resolver todos os problemas, as teleconsultas são um aliado importante no avanço ao atendimento de saúde da população. E mesmo que a pandemia tenha arrefecido, as novas resoluções e as empresas turbinadas com essa revolução não nos deixam dúvidas: A telemedicina veio para ficar!

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Indicação de textos complementares, opiniões diversas ou sugestão de outros temas são sempre bem-vindos.

Um forte abraço.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

2 comentários em “A telemedicina veio para ficar!”

  1. Dr. Angelo, achei fantástica essa modalidade de consulta. Embora com diabetes, hipotireoidismo, entre outras, que necessitam de consulta presencial, é muito válido poder apenas enviar o resultado do exame sem necessitar me deslocar até a cidade da consulta ou mesmo até o consultório. Gratidão pela preciosa informação.

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    • Oi Claudete. É isso mesmo. Por resolução do CFM as consultas para acompanhamento de doenças crônicas podem ser realizadas por teleconsulta, porém precisam de uma consulta presencial no intervalo de 180 dias. Forte abraço.

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