Varíola dos Macacos (Mpox) – Preciso me preocupar?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

A pandemia da covid ainda não desapareceu e outro vírus começa a chamar a atenção, é o mpox, causador da doença conhecida como varíola dos macacos ou mokeypox. Em 23 de julho de 2022 a Organização Mundial da Saúde decidiu que o surto global de varíola dos macacos representa uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Desde então as preocupações só aumentam. Mas será que é necessário mesmo se preocupar? É o que tento responder neste artigo.

O que é a Varíola dos Macacos (Mpox)?

A doença conhecida somente por “varíola” é a primeira e única doença causada por um vírus que foi erradicada do planeta em 1977 graças as vacinas, a um esforço mundial para vacinar a maior parte da população e a sua característica de somente infectar pessoas, sem ser transmitidas entre animais. 

O vírus mpox é irmão da varíola e foi detectado pela primeira vez no final da década de 1950 em macacos de laboratório utilizados para pesquisas de vacinas de poliomielite, tendo sido registrado como causador de doenças em humanos em 1970 na República do Congo.

Por serem parecidos, a vacina da varíola possivelmente protege contra o vírus monkeypox, porém desde 1975 a vacina não faz mais parte do calendário vacinal brasileiro. É provável que quem foi vacinado na época ainda esteja protegido contra o vírus monkeypox, especialmente de formas graves da doença. Porém há relatos de pacientes vacinados da década de 1970 e que pegaram a varíola dos macacos em 2022. 

Em maio de 2022 alguns países da Europa começaram a reportar casos de monkeypox em locais que nunca haviam registrado a doença. A maior parte deles, a princípio, em homens que fazem sexo com homens.

No Brasil o primeiro caso foi registrado em 09 de julho de 2022 no estado de São Paulo e o primeiro e único óbito até o momento notificado ao Ministério da Saúde em 29 de julho.

Na data de escrita deste artigo (06 de agosto de 2022) haviam, segundo o CDC, 28.220 casos confirmados de varíola dos macacos em 88 países diferentes, sendo 1.474 casos só no Brasil. Não é fácil obter informações confiáveis sobre óbitos, mas ao que tudo indica são 10 casos até o momento.

Como se transmite?

A transmissão do monkeypox pode se dar de animais para humanos e de humanos para humanos. O contato com fluídos ou mordida de animais contaminados é uma das formas de transmissão. O consumo de carne crua ou malcozida e contaminada também pode transmitir a doença. Na África foram encontrados vários tipos de animais contaminados, entre eles, esquilos, ratos e macacos.

A transmissão entre humanos pode ocorrer de várias formas:

  • Contato direto: o contato com feridas contaminadas e fluídos corporais são as principais formas. Durante o surto mundial de 2022 a principal forma de contágio tem sido através de relação sexual e de contato íntimo (beijos, massagens, abraços) com pessoas contaminadas.
  • Contato indireto por fômites: Fômites são qualquer material que possa carregar o vírus. Lembre-se de que o vírus não tem pernas nem asas, mas pode ficar depositado em roupas, toalhas, talheres e outras superfícies. Apesar de ser recente e não termos conhecimento real das cepas atuais, o ideal é evitar contato com superfícies potencialmente contaminadas.
  • Secreções respiratórias: a respiração de secreção, especialmente gotículas contaminadas, pode ser uma forma de transmissão, porém é necessário contato face a face prolongado para a infecção ocorrer.
  • Transmissão vertical: uma gestante pode contaminar seu bebê pois o vírus consegue atravessar a placenta.

O período de incubação, ou seja, do dia da contaminação até o aparecimento da doença tem sido reportado como de 5 a 13 dias, porém pode variar de 4 a 21 dias. Infecções assintomáticas têm sido raras até o momento.

Uma pessoa é considerada contaminada do início do aparecimento dos sintomas até que todas as lesões de pele tenham cicatrizado e que nova pele esteja fechando completamente as feridas. Isto pode levar mais do que 21 dias.

Quais os sintomas?

Os sintomas reportados são:

  • Febre
  • Calafrios
  • Dores no corpo
  • Cansaço
  • Ínguas (caroços doloridos espalhados pelo corpo)
  • Feridas na pele

As feridas na pele costumam aparecer por volta do 4º dia do início dos sintomas, mas também podem aparecer sem mostrar nenhum outro sintoma antes. As lesões podem variar de poucas até centenas e ser localizadas principalmente no rosto, mãos, pés e região genital, com tamanho entre 2 e 5 mm de diâmetro. Alguns casos têm sido reportados com lesões apenas em região genital.

As feridas costumam doer inicialmente e coçar principalmente na fase de cicatrização. O CDC disponibilizou algumas imagens que mostram as lesões mais comuns

A maioria dos casos se resolve espontaneamente sem necessitar nenhum cuidado adicional. A doença pode eventualmente complicar com pneumonia, infecção generalizada e infecção da córnea. Os casos mais graves parecem ocorrer em crianças e pacientes com comprometimento do sistema imunológico (tratamento para câncer, aids avançada, entre outros). Gestantes confirmadas ou suspeitas devem ser acompanhadas por especialistas se possível.

Como sei se tenho a doença?

Na presença dos sintomas, especialmente com as feridas típicas, e em casos de contato com casos confirmados deve-se suspeitar da doença. A presença de apenas febre ou dores no corpo, sem contato com caso confirmado, não indicam a presença da doença. É muito mais provável que seja covid ou gripe do que varíola dos macacos.

Casos suspeitos só podem ser confirmados com a detecção do vírus. Isto é feito com a coleta dos vírus nas feridas. É um teste parecido com o PCR do Covid, porém com a amostra do vírus sendo obtido diretamente das feridas suspeitas e não do nariz. É possível que em algum momento sejam desenvolvidos testes rápidos para monkeypox, mas no momento as amostras são enviadas para o laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, que é a referência em monkeypox no Brasil, ou para algum outro grande laboratório que consiga processar as amostras. 

Pode levar até uma semana para se ter o resultado. Durante esse período o médico deve fornecer atestado e isolar os pacientes suspeitos do contato com as demais pessoas.

Quanto tempo devo ficar isolado?

O isolamento deve ocorrer do início do aparecimento dos sintomas até que as feridas cicatrizem. Isto pode levar mais de 21 dias. Somente o médico poderá definir o momento ideal para o fim do isolamento.

Quais os cuidados necessários?

Durante o isolamento deve-se:

  • Pacientes e contatos devem usar máscara simples quando no mesmo ambiente. 
  • Evitar contato direto com objetos potencialmente contaminados (aqueles tocados por alguém doente).
  • Não compartilhar, copos, talheres, toalhas e demais objetos de uso pessoal.
  • Se possível, manter o paciente doente em cômodo separado dos demais.
  • Não receber visitas.
  • Evitar contato físico (abraços, beijos, massagem).
  • Não tocar nas lesões.
  • Uso de álcool 70% nas mãos e em superfícies potencialmente contaminadas é essencial.

Tem algum remédio?

Não há nenhum medicamento específico para a doença. O médico provavelmente irá prescrever tratamento para os sintomas (febre, dores, coceira). Lembre-se de que a varíola dos macacos é causada por um vírus, então antiparasitários e antibióticos provavelmente terão pouco ou nenhum benefício para seu tratamento.

A vacina para a varíola pode ser utilizada para evitar o contágio pela monkeypox. No momento da escrita deste artigo o Ministério da Saúde estava articulando a aquisição de vacinas e estudando a necessidade da vacinação da população.

Conclusão

Conforme descrito, a doença na maioria das vezes não causa sintomas graves e tem seu curso autolimitado, curando sem necessidade de nenhum medicamento em particular.

Idosos que tomaram a vacina da varíola, administrada até 1975 no Brasil, possivelmente estão imunizados contra a doença, especialmente de suas complicações, porém isso é algo a ser confirmado. 

Como crianças, gestantes e pessoas imunocomprometidas podem ter formas mais graves da doença, e sabendo que há formas de evitar o contágio, é recomendável se proteger para evitar a propagação da doença.

Se a vacina vier a ser disponibilizada, é imprescindível a sua adoção.

E ai? Está preocupado? Deixe seus comentários abaixo sobre este artigo.

Indicação de textos complementares, opiniões diversas ou sugestão de outros temas são sempre bem-vindos.

Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © somboon kaeoboonsong via canva.com

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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