Bengala: como escolher e usar corretamente?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

A bengala é um dispositivo utilizado para ajudar a evitar quedas, sendo empregada principalmente por idosos ou qualquer pessoa que tenha dificuldades de caminhar e que afete apenas um lado do corpo, como artrose de joelho ou quadril.

Nesse artigo você vai descobrir como escolher uma bengala, como deve ser feito o ajuste de altura e como usá-la adequadamente.

Boa leitura.

O que é uma bengala?

Uma bengala é um tipo de órtese. Diferente da prótese, que é um dispositivo utilizado para substituir parte do corpo, uma órtese é um dispositivo extra, utilizado para ajudar na função de uma parte comprometida do corpo.

A bengala é formada por 3 partes: cabo, haste e ponteira.

O cabo é a parte superior da bengala, a parte que a pessoa segura. Pode ser feito de vários materiais, como madeira, plástico ou metal, e possui diferentes formatos (curvo, em T, anatômico).


A haste é o corpo principal da bengala, geralmente feito de madeira, alumínio ou outros metais leves e duráveis. Ela pode ser dobrável ou fixa.

Já a ponteira é a parte inferior da bengala, que entra em contato com o solo. Normalmente, é de borracha para evitar deslizamento e proporcionar maior aderência. A ponteira pode ser simples, simples articulada ou de quatro pontas.

Quem pode se beneficiar do uso de uma bengala?

São candidatos ao uso da bengala pessoas de qualquer idade que tenham qualquer tipo de limitação em um lado do corpo: uma perna “boa” e outra “ruim”.

Seu uso é mais comum para aqueles que têm artrose em um dos joelhos ou no quadril. Mas outras condições podem indicar o uso de uma bengala, como recuperação de cirurgias ortopédicas, entorses, doença de Parkinson, AVC, entre outras. Seu uso pode ser temporário ou não, dependendo da orientação do médico ou fisioterapeuta.

E para aqueles que têm dificuldades nos dois lados do corpo, ou fraqueza generalizada, o ideal é utilizar o andador.

Como escolher uma bengala?

Uma vez indicadas pelo médico, a escolha da bengala é uma questão de preferência pessoal. Existem pessoas que se dão melhor com o cabo ergonômico, e outras que preferem o em T ou o curvo. Algumas querem que seja desmontável outras preferem as fixas.

Prefira modelos que tenham regulagem de altura, pois permitem adaptação ao corpo do usuário.

Algumas bengalas têm maior limitação para peso e o limite para altura. O limite de peso não é necessariamente o peso do utilizador, mas sim o quanto ele vai colocar de peso na bengala, normalmente algo de até cerca de 60% do peso do corpo. Mas é algo que pode variar.

Se o usuário for muito alto, talvez seja necessário procurar modelos específicos para o seu tamanho, sendo que os de modelo padrão podem ser insuficientes.

Com relação à ponteira, as simples costumam deixar a bengala mais leve e fácil de manusear. Também evitam que a ponteira se enrosque nas pernas. Porém, as ponteiras de 4 pernas têm a vantagem de permitir deixar a bengala sempre à mão, sem necessitar apoiá-la em alguma cadeira ou parede. É uma questão pessoal e de adaptação.

Como ajustar a bengala?

O cabo da bengala precisa ser ajustado de tal forma que fique na altura da parte do osso da coxa, o fêmur, chamada de trocanter maior.

O trocanter maior é a parte mais saliente do osso, percebida na região do quadril, especialmente ao girar a perna sobre seu próprio eixo.

A bengala deve ficar na altura do trocanter maior quando posicionada a cerca de 25 cm do pé. Isto vai deixar uma leve angulação no cotovelo. E evitar sobrecarga e dores em outras partes do corpo.

O médico ou fisioterapeuta poderá e deverá orientar com relação a esse ajuste.

Como usar a bengala?

As bengalas devem ser utilizadas na mão do lado “bom” do corpo, aquele que não tem artrose, nem dor (ou o que tem menos dor). Se o joelho direito é o que dói, a bengala deve ir à mão esquerda, e vice-versa.

E ela é um “espelho” da perna “ruim”. Ou seja, ao caminhar, a bengala deve seguir a movimentação da perna comprometida. Enquanto a perna boa se move para frente, a bengala e a perna ruim ficam paradas. Ao mover a perna ruim, a bengala vai junto.

Ao subir escadas utilizando a bengala, o ideal é que a perna “boa” suba o degrau primeiro, seguido da perna ruim juntamente com seu “espelho”, a bengala.

Para descer é o oposto. A perna “ruim” e a bengala vão primeiro, seguidos da perna “boa”.

O ideal é que não se utilize a bengala para se levantar ou sentar em cadeiras ou assentos. Mas, se o fizer, pode-se utilizar as duas mãos, sendo que uma delas deve ficar no cabo e a outra na parte mais superior da haste.

Encontrar um local seguro para deixar sua bengala enquanto está sentando ou deitado é importante, para evitar que ela caia e cause acidentes.

A recomendação é que se faça um treino com a bengala juntamente com o fisioterapeuta, pois ele irá orientar sobre a correta postura e o uso mais ergonômico da órtese.

Manutenção

Bengalas precisam de manutenção, sendo que o principal item a ser substituído é a ponteira. Não há uma regra fixa, mas o ideal é trocar a ponteira sempre que ela estiver desgastada, danificada ou com alteração na sua consistência.

Troque a ponteira também se ela não estiver segurando firmemente no chão, um sinal de desgaste e que aumenta o risco de quedas.

Algumas ponteiras possuem um indicador de desgaste que apontam o momento ideal para a troca.

Bengala é coisa de velho!

A principal limitação no uso da bengala é que muitos idosos tem o estigma de que estão ficando velhos, mas não se sentem como tal, e que por isso não devem usar a bengala.

Isto é natural. Ninguém quer envelhecer. Muitas vezes o corpo sente o peso do tempo mas a mente continua ativa e com espírito jovem.

Lembre-se de que a bengala serve para evitar quedas e uma queda pode levar a consequências muito graves, inclusive com necessidade de hospitalização, cirurgias e até o óbito.

Outra questão comum é a de muitas pessoas abandonarem o uso da bengala logo nos primeiros dias. Isto normalmente acontece por falta de orientação adequada e treinamento para seu uso. Procure orientação de seu médico ou de um profissional de fisioterapia preparado para orientá-lo.

Conclusão

Bengalas são dispositivos usados para ajudar a evitar quedas, sendo empregadas principalmente por idosos ou qualquer pessoa que tenha alguma dificuldade de locomoção e que afete apenas um lado do corpo, como artrose de joelho ou quadril. Para usar uma bengala corretamente e de forma a trazer mais benefícios do que malefícios, é necessário realizar um treinamento antes. E esse treinamento deve ser realizado de preferência por um fisioterapeuta especializado em gerontologia ou em órteses. Além disso, a bengala deve ser ajustada para a altura do seu corpo e precisa ser indicada por um médico. A manutenção regular, especialmente a substituição da ponteira, assegura sua eficácia em prevenir quedas. Superar o estigma associado ao uso da bengala é crucial, lembrando sempre que sua utilidade vai muito além da idade, oferecendo segurança e preservando a independência.

Espero que o artigo tenha sido útil. Se ficou com dúvidas comente abaixo ou nas redes sociais.

*Independentemente das orientações aqui descritas, procure sempre seu médico e um fisioterapeuta de confiança para ter as indicações e recomendações específicas para o seu caso.


**Imagem que ilustra este artigo: © Peopleimages.com – YuriArcurs via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

Escreva um comentário