Hipotireoidismo: A doença do metabolismo lento

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

O hipotireoidismo é uma doença em que ocorre a redução da produção dos hormônios T3 e T4, responsáveis pelo metabolismo do corpo. É muito comum a queixa de queda de cabelo, pele seca e fria, aumento de peso e intestino preso.

Este artigo aborda mais detalhes sobre a doença, seus sintomas, diagnóstico e tratamento.

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HIPOTIREOIDISMO: A doença do metabolismo lento

O que é o hipotireoidismo?

A tireoide é uma glândula que tem o formato que lembra uma borboleta de asas abertas, fica localizada na região do pescoço, logo à frente da traqueia e que produz basicamente dois hormônios: a tiroxina, também chamada de T4 e a triiodotironina ou T3.

Estes hormônios atuam nas diversas células do corpo regulando a velocidade de funcionamento delas, ou seja, seu metabolismo. Na falta de T3 e T4 o corpo começa a funcionar mais lentamente do que deveria, resultando em sintomas como cansaço, intolerância ao frio, ganho de peso, intestino lento ou constipado, pele seca, dores musculares e irregularidades na menstruação.

É uma doença mais comum em mulheres a partir dos 40 anos de idade, com sua prevalência aumentando com o envelhecimento. Homens também podem ter a doença. É uma doença que não traz risco à vida, porém pode trazer muitos sintomas associados.

Existe uma outra doença da tireoide chamada de hipertireoidismo, que é quando a produção de T3 e T4 estão elevadas. É uma doença muito menos comum e tema para outro artigo.

O que causa o hipotireoidismo?

A principal causa do hipotireoidismo é devido ao sistema imunológico do próprio individuo considerar que a tireoide é um inimigo e começar a destrui-la. Esse processo autoimune é chamado de doença de Hashimoto em homenagem ao médico japonês que descreveu a doença pela primeira vez no início do século XIX.

Outras causas comuns incluem:

  • Cirurgia de tireoide;
  • Radioterapia na região do pescoço;
  • Uso de alguns medicamentos como lítio e amiodarona.

Causas bem mais raras e incomuns de hipotireoidismo incluem:

  • Doenças infiltrativas da tireoide.
  • Defeitos hereditários na produção dos hormônios tireoidianos.
  • Resistência ao hormônio tireoidiano.

No pós-parto imediato pode acontecer um hipotireoidismo transitório, que costuma se resolver sem necessidade de tratamento.

Além disso alguns tipos de tumores cerebrais podem levar ao hipotireoidismo chamado de central. Esse tipo de hipotireoidismo é facilmente suspeitado e descartado pelo resultado de exames de sangue.

Quais os sintomas e consequências do hipotireoidismo?

A falta de T3 e T4 leva a duas principais consequências: a redução do metabolismo do corpo e ao acúmulo de algumas substâncias nos espaços entre as células. Isto pode levar a uma série de sinais e sintomas. Lembrando que nem todos podem estar presentes e os que estão podem estar em maior ou menor grau:

  • A pele pode ser fria e seca, além de mais pálida. 
  • A queda de cabelo se acentua, com diminuição drástica da quantidade de fios.
  • As unhas podem se tornar quebradiças.
  • Aumento do risco de sangramentos e anemia.
  • Redução da contração e da frequência dos batimentos do coração. Isto pode reduzir a tolerância ao exercício físico.
  • Aumento da pressão arterial.
  • Aumento do colesterol.
  • Cansaço, falta de ar, fraqueza, apneia do sono.
  • Redução da sensação do paladar, doença celíaca, aumento da gordura no fígado, ganho de peso moderado.
  • Dificuldade de engravidar, redução ou aumento do fluxo menstrual.
  • Síndrome do túnel do carpo.
  • Aumento da toxicidade de outros medicamentos pela redução do metabolismo e eliminação dos remédios.
  • Redução da capacidade de concentração, memória, humor deprimido, apatia.
  • Intolerância ao frio.
  • Intestino preso (constipação).

Alguns estudos sugerem que o hipotireoidismo pode ser um fator de risco para a doença de Alzheimer, porém as evidências são fracas.

Quando suspeitar e como diagnosticar?

Na presença dos sintomas mencionados anteriormente, o médico pode suspeitar do hipotireoidismo e pedir alguns exames para fazer o diagnóstico. Para entender como é feito o diagnóstico é importante entender o papel do hormônio tireoestimulante ou TSH. O TSH é produzido no cérebro e é quem regula a produção de T3 e T4. Quando os níveis de T3 e T4 estão muito baixos, o cérebro começa a produzir mais e mais TSH, tentando estimular a tireoide a produzir T3 e T4.

Por isso é que o diagnóstico do hipotireoidismo é feito medindo-se o hormônio TSH. O valor de TSH esperado é entre 0,5 e 5,0 mU/L, podendo variar entre laboratórios. Se o valor do TSH estiver acima de 5, o médico normalmente solicita a repetição do TSH para confirmar o valor inicial e dosa o hormônio T4 Livre, que é uma forma mais simples de avaliar a quantidade de T4 produzido pela tireoide. Se há a confirmação de um valor elevado de TSH e um valor baixo de T4 Livre, confirma-se a doença hipotireoidismo primário. Quando o TSH está muito baixo e o T4 Livre também, é que se suspeita de um hipotireoidismo central (uma doença bem mais rara).

O médico pode pedir ainda a dosagem de anticorpos anti tireoperoxidase (anti-TPO), que se elevados, confirmam que a causa do hipotireoidismo é a doença autoimune de Hashimoto.

Tem cura? Como tratar o hipotireoidismo?

As principais causas do hipotireoidismo não têm cura e por isso o tratamento da doença é feito pela vida toda. O tratamento consiste em tomar diariamente pela manhã doses de hormônio T4 ou derivados deste. O T4 é convertido em T3 no próprio corpo, por isso não é necessário repor o T3.

O medicamento mais comum é a levotiroxina, que é a versão sintética do T4. Ele é encontrado nas farmácias com o nome de Euthyrox, Puran T4, Synthroid ou Levoid. 

O principal cuidado com o medicamento é que ele precisa ser a primeira coisa que se coloca na boca pela manhã ao acordar, juntamente com um pouco de água. Deve-se esperar pelo menos 30 minutos antes de tomar qualquer outro medicamento ou se alimentar.

O médico irá medir o valor do TSH, no início a cada 4 ou 8 semanas e fará ajustes da dose de levotiroxina. Uma vez atingido os valores adequados, uma nova dosagem de TSH é recomendada a cada 6 ou 12 meses para verificar se o tratamento continua fazendo efeito.

O tratamento precisa ser individualizado, nem todos que tenham um TSH elevado precisam de tratamento. Um TSH acima de 10 normalmente requer tratamento, para outros valores o tratamento vai depender dos sintomas associados, outras doenças existentes, bem como a idade do paciente. 

Uma vez decidido pelo tratamento, o alvo do TSH também pode variar conforme o caso, permitindo um valor mais elevado para idosos.

Conclusão

O hipotireoidismo é uma doença em que ocorre a redução da produção dos hormônios T3 e T4, responsáveis pelo metabolismo do corpo, levando ao aparecimento de sintomas como queda de cabelo, intolerância ao frio, ganho de peso, pele seca, entre outros.

É mais comum em mulheres a partir da meia idade. A doença autoimune de Hashimoto é a causa mais comum. É uma doença que não tem cura, porém não ameaça a vida.

O diagnóstico é feito medindo o hormônio TSH e o tratamento é realizado com a reposição do hormônio T4. Medidas semestrais ou anuais de TSH são necessárias para garantir um acompanhamento apropriado da doença.

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Abraços e até a próxima.


*Imagem que ilustra este artigo: © Shidlovski de Getty Images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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