Pessoas que têm DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) podem evoluir com uma falta de ar severa, cuja melhora só se dá com o uso de oxigênio suplementar, o que é chamado de oxigenoterapia domiciliar prolongada. Esse artigo descreve as indicações para seu uso, equipamentos utilizados, alguns detalhes sobre as burocracias envolvidas no aluguel desse tipo de equipamento e para a obtenção desse tratamento da DPOC pelo SUS, além de algumas orientações gerais.
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Vídeo: O uso da Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada na DPOC
Indicações
Quando a falta de ar na DPOC se torna severa e as bombinhas ou outros tratamentos não estão mais resolvendo, talvez seja necessário o uso de oxigênio suplementar para aliviar os sintomas.
Além de melhorar a sensação de falta de ar, dois grandes estudos publicados no início da década de 1980 (NOTT e MRC) apontaram que o uso de oxigênio pode aumentar o tempo de vida de alguns pacientes. Estes estudos são a base do que se sabe hoje para indicações de oxigenoterapia domiciliar prolongada.
Se a falta de ar for severa, o médico poderá solicitar um exame chamado de gasometria arterial. Neste exame, uma amostra de sangue arterial (coletado normalmente de uma artéria do antebraço próximo a uma das mãos) é obtido para avaliar a “quantidade” de oxigênio presente no sangue, avaliando um parâmetro chamado de PaO2 (algo como pressão parcial de oxigênio no sangue arterial). O exame pode ser desconfortável e um pouco dolorido, mas é importante pois é nesse sangue que se obtém a concentração mais próxima do oxigênio recebido pelos pulmões. Normalmente uma PaO2 menor ou igual a 55 mmHg costuma ser utilizada como indicação para a oxigenoterapia.
O médico pode também solicitar, de forma complementar, um hemograma, esse obtido a partir de uma amostra de sangue venoso, para avaliar a porcentagem de eritrócitos presentes no sangue. Quando há falta de oxigênio o organismo produz mais células que o transportam (chamados de eritrócitos), de forma a tentar compensar a falta de oxigênio com a presença de mais células que o possam armazenar e transportar.
Outras avaliações de problemas e doenças no coração ou pulmões também podem ser utilizadas pelo médico para determinar a necessidade da oxigenoterapia.
A saturação periférica de oxigênio pode também ser utilizada como complemento. Esse é aquele exame que ficou conhecido na pandemia, realizado com um oxímetro de dedo que avalia a porcentagem de oxigênio que circula em um dos dedos da mão. Normalmente valores abaixo de 88% podem ser indicativos de necessidade de oxigenoterapia.
O simples resultado de um exame alterado não é indicativo de necessidade de oxigênio. O médico fará a avaliação individual de cada paciente e cada caso, pesando prós e contras antes de indicar seu uso.
O médico é o responsável por determinar o fluxo de oxigênio (dado em litros por minuto), bem como o tempo de duração da terapia. Normalmente são indicados o uso de pelo menos 15 horas por dia ou mais, com uso inclusive durante o sono. Alguns pacientes precisam de oxigênio inclusive para tomar banho.
Não altere o fluxo de oxigênio sem o conhecimento e a orientação de seu médico. Fluxos elevados podem fazer mal, levando a retenção de gás carbônico no corpo e possíveis danos aos pulmões.
Cada caso é um caso. Siga as orientações dadas por seu médico.
Equipamentos
Uma vez tendo uma indicação correta, o próximo passo é conseguir os equipamentos que fazem parte da terapia. Eles podem ser comprados ou alugados. O processo de aluguel pode ser burocrático pois precisa de cópia dos exames, como a gasometria, além do laudo assinado pelo médico que o indicou. Mais sobre isso abaixo.
A base da oxigenoterapia se dá com o uso de um concentrador ou de um cilindro de oxigênio.
Concentrador
O concentrador é um equipamento conectado à energia elétrica e que obtém o oxigênio diretamente do ar ambiente. Ele pode ficar ligado 24 horas por dia e é o principal recurso utilizado na oxigenoterapia domiciliar prolongada. Ele tem uma válvula em que se regula o fluxo de oxigênio. Os concentradores domésticos normalmente permitem fluxos de até 5 litros por minuto.
Ele tem a vantagem de ser relativamente pequeno, pouco maior do que uma mochila, e poder ser transportado para qualquer cômodo da casa, podendo ser utilizado no quarto na hora de dormir, ou na sala nos momentos de lazer, por exemplo.
O principal problema é que ele precisa ficar sempre conectado a uma tomada elétrica, o que o impede de ser utilizado para o transporte, dentro de um veículo. Existem versões que possuem bateria recarregável porém com fluxo menor de até 2 litros / minuto. Para suprir o problema da necessidade de energia usa-se o cilindro.
Cilindro
O cilindro tem uma capacidade fixa, determinada pelo seu tamanho. Ele armazena o oxigênio na forma comprimida e precisa de uma válvula acoplada a ele em que se regula o fluxo de oxigênio a ser liberado.
A principal vantagem é que ele não precisa de energia elétrica para funcionar. Existem cilindros pequenos que podem ser utilizados dentro de uma mochila pendurada nas costas, ou colocados em um carrinho que pode ser levado para qualquer lugar.
Porém, os cilindros costumam ser pesados e terem uma capacidade limitada de armazenamento.
Um cilindro grande de capacidade de 40 litros permite normalmente armazenar até 8 m3 de oxigênio comprimido em seu interior, isto equivale a 8.000 litros de oxigênio. Se for usado um fluxo de 2 litros/minuto, por exemplo, um cilindro desses teria condições de manter a terapia por cerca de 66 horas contínuas antes de se esgotar (cerca de quase 3 dias de uso contínuo). O custo para encher um cilindro desses também pode ser um problema.
Mas de qualquer forma, um cilindro pode e deve estar disponível para momentos em que não aja outra alternativa disponível, como equipamento de reserva, ou ainda para momentos de falta de energia ou para permitir o deslocamento do paciente fora de casa.
Cânula nasal
A cânula nasal é o equipamento que leva o oxigênio do cilindro ou concentrador até as narinas do paciente. Nada mais é do que um tubo de plástico flexível. Existem cânulas com tubos de vários comprimentos, podendo chegar a 20 metros ou mais.
O importante é fixar bem a cânula nas narinas, de forma confortável, e passar as laterais por cima das orelhas, de forma a impedir que a cânula se solte durante o sono por exemplo.
E não há um padrão bem estabelecido, mas recomenda-se fazer a troca periódica da cânula, incluindo o seu tubo flexível. Em hospitais é comum a troca a cada 7 dias. Em ambiente domiciliar uma sugestão é a de trocar a cada 30 dias ou sempre que perceber sujeiras ou redução no fluxo de ar. Não é recomendado lavar a cânula usada. O ideal é descartar em lixo reciclável.
Máscara
Em alguns casos, quando é necessário um fluxo maior de oxigênio, ou o paciente tenha dificuldades em usar a cânula, a máscara pode ser indicada. Tem o mesmo propósito da cânula, porém tende a ser mais desconfortável e dificultar que o paciente converse ou se alimente.
Umidificador
Os concentradores normalmente já possuem um copo umidificador acoplado, já os cilindros permitem acoplar um umidificador na saída de oxigênio. Seu uso parece adequado e necessário quando se usam fluxos maiores do que 4 litros /minuto, de forma a manter o ar úmido e evitar ressecamento das vias aéreas. Para fluxos menores pode-se manter o umidificar cheio de forma a trazer mais conforto para o paciente.
Se for utilizado, deve-se preencher seu conteúdo com água destilada. Na falta de água destilada, água filtrada ou fervida pode ser utilizada.
Os fabricantes não recomendam que se utilize água mineral nem soro fisiológico, pois podem trazer danos aos equipamentos além de favorecer a contaminação do copo umidificador.
Oxímetro de dedo
Um equipamento que pode ser bastante útil é o oxímetro de dedo, muitas vezes chamado de oxímetro de pulso. Com ele tem-se um monitoramento da saturação de oxigênio medido em um dos dedos das mãos. Saturações muito elevadas (acima de 95%) devem ser evitadas, e saturações muito baixas (menores do que 88%) podem indicar que o fluxo de oxigênio não está adequado.
Os valores citados são apenas para referência. Seu médico lhe indicará os valores adequados para seu caso, como ajustar o fluxo de oxigênio em cada situação, e em que momentos fazer o monitoramento.
Para uma medição correta, o ideal é estar com os dedos aquecidos, com as unhas cortadas e sem esmaltes. Mantenha a mão parada enquanto realizando a medição. Na dúvida peça ajuda e orientações de seu médico.
Burocracias
Em algumas situações é possível obter o aluguel dos equipamentos por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, as companhias de energia elétrica são obrigadas a informar aos usuários de tais equipamentos sobre a interrupção programada no fornecimento de energia elétrica.
Obtenção da oxigenoterapia pelo SUS
O SUS tem sua administração descentralizada e o programa de oxigenoterapia varia em cada cidade. Você precisa procurar a Unidade de Saúde mais próxima de sua casa para saber os detalhes de como obter os equipamentos.
Normalmente é necessário levar documentos que comprovem o endereço de residência (conta de água, luz, telefone), seus documentos pessoais (RG, CPF), solicitação médica, cópia de exames que comprovem a doença e a necessidade da oxigenoterapia domiciliar prolongada (gasometria arterial e/ou outros).
Algumas localidades podem exigir que a solicitação médica seja feita por um médico do SUS, ou ainda por um pneumologista ou médico de família. Procure a Unidade de Saúde para se informar.
Um recadastramento normalmente precisar ser realizado periodicamente, com exames e acompanhamento médico para garantir que a terapia está sendo efetiva e se mantém necessária.
Além disso, a visita da agente comunitária torna-se comum nas casas de quem faz uso de oxigenoterapia pelo SUS. Elas costumam avaliar mensalmente ou de tempos em tempos o uso dos equipamentos.
Energia Elétrica
O Governo Federal, através da Agência Nacional de Energia Elétrica, dispõe da Resolução Normativa Nº 1.000/2021, que trata do cadastro das unidades consumidoras das pessoas que utilizam equipamentos elétricos essenciais à sobrevivência humana. A partir desse cadastro as empresas são obrigadas a avisar com antecedência aos consumidores sobre a interrupção programada de energia elétrica, de forma que seja possível se preparar para tais situações com a recarga de cilindros de oxigênio, por exemplo.
Como as empresas de energia não conseguem adivinhar quais as casas que utilizam tais aparelhos, é necessário fazer um cadastro prévio junto a companhia de energia elétrica. Procure a concessionária de energia de sua cidade para saber como proceder.
Além disso, pacientes de baixa renda têm, em alguns estados, descontos nas tarifas de energia elétrica. No Paraná o programa Energia Solidária, instituído pela lei 20943/2021, regulamenta tal benefício. Informe-se com a companhia de energia elétrica de sua cidade para saber se você pode e como receber o desconto.
Viagens de avião
Dentro de um avião as pressões são aumentadas de forma artificial, e normalmente são menores do que as pressões em terra, além de terem variações durante o voo. Para a maioria das pessoas isso não interfere em nada, porém para portadores de DPOC graves, estas pequenas alterações podem fazer muita diferença.
Mesmo pessoas que não precisem de oxigênio em solo podem eventualmente necessitar de oxigênio suplementar dentro de um avião.
Antes de viajar, se prepare, de preferência com alguns meses de antecedência. Algumas recomendações:
- Converse com seu médico para avaliar se você precisará de oxigenoterapia dentro do avião.
- Se informe com as companhias aéreas sobre as regras para levar os equipamentos dentro da aeronave. É possível que seja necessário algum documento médico e exames que comprovem a necessidade do oxigênio.
- Se você estiver levando um concentrador, tenha certeza de que os plugues de energia e a voltagem sejam compatíveis no destino.
- Garanta que a capacidade do cilindro ou a carga da bateria de seu concentrador sejam suficientes para sua viagem. Calcule um período extra para imprevistos. Seu médico poderá lhe ajudar.
- Obtenha uma lista de médicos e hospitais de referência no seu destino.
Orientações gerais
Algumas orientações gerais que podem variar conforme o caso:
- Inicie com oxigênio em cânula com fluxo contínuo de acordo com o prescrito pelo seu médico.
- Talvez seja necessário aumentar o fluxo durante a noite. Converse a respeito com seu médico.
- Use o oxigênio por pelo menos 15 horas ininterruptas por dia e se possível por 24 horas por dia, diariamente. Esse tempo pode variar de acordo com as indicações médicas.
- Ajuste o fluxo de oxigênio somente conforme orientação médica.
- Evite saturações periféricas de oxigênio elevadas.
- Entre em contato com seu médico sempre em caso de dúvidas ou necessidade.
- Não fume nem permita que fumem próximo do concentrador, do cilindro ou da cânula.
As informações e orientações aqui servem de base apenas. Nunca inicie a oxigenoterapia sem um acompanhamento médico. Ele é o principal responsável pela sua condição e saberá lhe ajudar sempre que necessário.
Conclusão
A oxigenoterapia prolongada domiciliar pode ajudar e melhor o sintoma de falta de ar de pacientes com DPOC, além de poderem aumentar a expectativa de vida de pacientes graves. Seu uso deve ser indicado por médicos e são necessários alguns exames para isso, sendo o principal deles a gasometria. A terapia é realizada com cilindros ou concentradores, conforme a necessidade, sendo que o cilindro precisa ser recarregado frequentemente e o concentrador depende de energia elétrica pra funcionar. É possível obter os equipamentos pelo SUS, porém cada cidade tem suas regras e burocracias próprias. As empresas de energia são obrigadas a avisar os usuários sobre desligamentos programados de energia, desde que você faça um cadastro prévio. E um último reforço nas recomendações: Não faça os ajustes no fluxo do oxigênio sem o conhecimento de seu médico.
Espero que tenha gostado do artigo. Para mais informações sobre saúde leia outras publicações no blog.
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Até a próxima.
*Imagem que ilustra este artigo: © James Mutter de Getty Images via canva.com.
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Olá. Veja o item https://angelo.med.br/blog/oxigenoterapia-domiciliar-prolongada-na-dpoc/#Obtencao_da_oxigenoterapia_pelo_SUS