Câncer de colo de útero e o Papanicolaou

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

O câncer de colo de útero é um dos mais frequentes nas mulheres e que pode ser curado se descoberto em sua fase inicial. Por esse motivo existe a indicação de rastreio periódico desse tumor com a realização do exame do Papanicolaou.

Neste artigo você vai aprender o que é o câncer de colo de útero, qual a causa, e com que frequência deve ser realizado o exame de detecção precoce do câncer.

No final vai descobrir ainda a melhor forma de se proteger.

Boa leitura.

O que é o câncer de colo de útero?

O colo é como se fosse o “pescoço” do útero, ficando localizado na parte mais inferior do órgão, em contato direto com o canal vaginal. Ele tem um pequeno orifício que conecta a vagina ao útero e que permite a entrada dos espermatozoides além de ser o caminho de saída do bebê no caso de um parto normal.

O câncer nada mais é do que a multiplicação exagerada e de forma errada das células que compõe o colo do útero.

Excluído os tumores de pele do tipo não melanoma (CBC, CEC e outros), o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de câncer mais comum em mulheres (7% dos casos de câncer em mulheres) atrás apenas do câncer de mama (30%) e do intestino (10%).

No início da doença, normalmente o câncer não tem sintoma algum. Em alguns casos pode se apresentar como sangramento uterino após relação sexual ou ainda com ciclos menstruais irregulares ou com volume aumentado.

Com a evolução da doença e do crescimento do tumor, é possível que a mulher apresente dor na região pélvica, dor durante a penetração, dor nas costas, dificuldades para urinar, e ainda urina ou fezes com sangue.

Se não tratado há o risco de o tumor produzir metástase, isto é, de o câncer se espalhar para outros órgãos do corpo.

Quem tem mais chances de ter câncer de colo de útero?

O câncer de colo de útero é causado por alguns tipos de vírus HPV (PapilomaVírus Humano). O HPV se adquire por penetração sexual desprotegida (sem uso de preservativo) com pessoas contaminadas. Apesar de não haver informação definitiva, acredita-se que o contato digital-anal ou digital-vaginal também possa ser fonte de transmissão.

Dessa forma, os principais fatores de risco para adquirir câncer de colo de útero estão diretamente relacionados a infecção pelo HPV. E os principais riscos para se adquirir o HPV são:

  • Vida sexual de início precoce. O risco é duas vezes maior para mulheres que iniciaram a vida sexual antes dos 18 do que aquelas que iniciaram aos 21 ou depois.
  • Ter múltiplos parceiros sexuais.
  • Histórico de ter tido outras doenças de transmissão sexual como sífilis, hepatite C, clamídia, herpes genital, entre outras.
  • Ser imunocomprometida (por exemplo ser portador de HIV ou outra condição).
  • Ter relação com parceiro que tenha maior risco para HPV.

Como saber se posso estar com câncer de colo de útero?

Na presença de sintomas como sangramento uterino fora do período menstrual ou em grande quantidade, ou ainda da presença de dor na região pélvica, ou durante relação sexual, é essencial procurar um profissional ou uma unidade de saúde. Urina ou fezes com sangue também precisam ser investigados.

Ginecologistas, médicos de família e enfermeiros são os profissionais de escolha por estarem habituados com essas queixas.

Como deve ser feito o rastreio do câncer de colo de útero?

O rastreio do câncer de colo de útero é um dos mais bem estudados e estabelecidos. De acordo com o INCA e o Ministério da Saúde o rastreio deve ser feito com a realização do exame Papanicolaou (a pronúncia mais comum é papanicolau), muitas vezes chamado de preventivo.

O exame é batizado com o nome do médico grego Geórgios Papanicolaou, que foi quem o criou.

É importante deixar claro que, apesar de todos chamarem o exame de preventivo, o Papanicolaou não previne o câncer de colo de útero, mas sim permite um diagnóstico precoce da doença, onde há maiores chances de cura. Pode-se dizer que o rastreio bem feito previna formas graves da doença.

Exame Papanicolaou

O exame consiste em obter uma amostra da pele da região do colo do útero, bem como do orifício que liga o útero ao canal vaginal. Para isso o exame é realizado com a colocação de um espéculo no canal vaginal. O espéculo é como se fosse duas pequenas pás de plástico ou metal e que permitem visualizar o colo do útero.

É um exame normalmente indolor, mas que pode ser desconfortável e que dura poucos minutos. Uma espátula normalmente de madeira e parecida com um palito de picolé é utilizada para coletar uma amostra das células do colo do útero. Além disso uma amostra das células do orifício cervical é obtida com a ajuda de uma pequena escova de cerdas parecidas com as de uma escova de dentes.

As amostras de células são colocadas numa lâmina de vidro, fixadas com um líquido próprio e enviadas para um laboratório para serem analisadas num microscópio.

Recomendações para o exame

O ideal é que a mulher não esteja menstruada no dia da coleta pois a presença de sangue pode inviabilizar a avaliação da lâmina.

Apesar de não necessariamente ser contraindicado, o ideal é evitar relação sexual a partir do dia anterior ao exame.

Higiene local da região genital com água e sabonete pode e deve ser realizada. Mas evite lavar dentro do canal vaginal, pois isso pode acabar selecionando bactérias resistentes e causando corrimento e mal cheiro.

Periodicidade do Papanicolaou

O exame deve ser realizado em todas as mulheres à partir dos 25 anos de idade desde que já tenham tido relação sexual. Lembre-se de que o HPV é o causador do câncer e sem relação sexual não há HPV.

Realiza-se o primeiro exame aos 25 anos e o próximo depois de 1 ano. Se estes dois exames vierem normais, o rastreio deve então ser realizado a cada 3 anos até os 64 anos de idade. Exames realizados anualmente ou a cada 3 anos têm as mesmas taxas de detecção, além de não mudarem o desfecho, com a desvantagem para o rastreio mais frequente de ter mais intervenções e maiores custos associados.

Se a mulher tem mais de 64 anos de idade e nunca realizou o exame, há a indicação de coletar duas amostras com intervalo de um a 3 anos entre elas e encerrar o rastreio se estas vierem normais.

Mulheres que removeram o colo do utero (histerectomia total) por causa de miomas e que tenham exames anteriores normais, não precisam de rastreio. Porém, se a remoção do colo do útero foi por algum tipo de câncer, o rastreio deve ser realizado de acordo com o tipo de câncer (o médico que a acompanha saberá individualizar cada caso).

Gestantes deve seguir a periodicidade do rastreio da mesma forma que mulheres não grávidas. Não há problemas em coletar o Papanicolaou durante a gestação. Mas aqui vale mais o bom senso do médico ou da enfermeira em avaliar a real necessidade da coleta durante a gravidez.

Mulheres jovens, com menos de 25 anos de idade, podem apresentar alterações nos exames de rastreio. Porém, estas alterações costumam regredir espontaneamente à normalidade sem qualquer intervenção. E por isso o Ministério da Saúde é desfavorável ou rastreio antes dos 25 anos.

Outros casos devem ser individualizados e avaliados com o médico.

E se o exame veio alterado?

A alteração mais comum nos exames de rastreio é o achado de células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASC-US). Esse achado não quer dizer que você tem câncer, mas é uma alteração que indica um cuidado maior no rastreio. Nesse caso, o rastreio do câncer de colo de útero deve ser realizado a cada 6 ou 12 meses, conforme a idade, ao invés de a cada 3 anos (mulheres com mais do que 30 anos de idade precisam de um rastreio mais breve).

Outro achado que indica mudança na periodicidade do rastreio são as lesões escamosas intraepiteliais de baixo grau (LSIL). Neste caso deve-se repetir o Papanicolaou em 6 meses para mulheres com mais de 25 anos, ou em 3 anos se mais jovens.

Algumas alterações benignas como inflamações, atrofia ou infecções não indicam câncer e nem alterações no rastreio de câncer de colo de útero.

Se forem encontradas alterações como lesões escamosas intraepiteliais de alto grau (HSIL), carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma, entre outras, o médico vai solicitar um exame chamado de colposcopia.

A colposcopia é um exame realizado com a ajuda de uma lente de aumento e que permite obter uma amostra de tecido da região do colo do útero. Em alguns casos serve até de tratamento de um tumor inicial.

Tem como se proteger?

A principal forma de se proteger é evitar o HPV. Para isso vacinar-se e evitar exposição ao vírus são essenciais.

Desde 2014 a vacina contra o vírus HPV é disponibilizada de forma gratuita pelo SUS (vacina HPV4 que protege contra 4 tipos de HPV). Todas as meninas entre 9 e 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos podem tomá-la. São duas doses com intervalo de 6 meses entre elas (0-6).

O ideal é que a vacina seja tomada antes da primeira relação sexual.

A vacina é recomendada até os 26 anos de idade. Porém se você não se vacinou até os 14 anos pelo SUS ou não completou as doses, a vacina só pode ser tomada na rede privada. E nesse caso a indicação é que seja utilizada a vacina HPV9, que além das 4 cepas que a vacina HPV4 protege, também protege contra outros 5 tipos. Ela deve ser aplicada em 3 doses, com a segunda dose 2 meses da primeira e a terceira dose após 6 meses da primeira (0-2-6).

A vacina HPV9 pode ser tomada até os 45 anos de idade, porém não há recomendação de tomá-la depois dos 26 anos, a menos que haja indicação de seu médico.

Os meninos também devem tomar a vacina por pelo menos dois motivos: evitar contaminar as meninas e para evitar câncer de pênis relacionado ao HPV.

E não é porque você tomou a vacina que a atividade sexual não precise de cuidados. Além de outras doenças que se pode adquirir, a vacina pode não funcionar para todos. Por isso, vacine-se mas se proteja com o uso de preservativo em todas as relações. O preservativo feminino também pode e deve ser utilizado. Só não use preservativo masculino e feminino na mesma relação. O contato do látex de um com o látex do outro pode facilitar o rompimento do preservativo.

Conclusão

O câncer de colo de útero é o terceiro tipo de câncer mais comum em mulheres. Ele é causado pelo vírus HPV que é transmitido por relação sexual. O rastreio periódico com o exame Papanicolaou permite a detecção precoce da doença e a vacina contra o HPV pode ajudar a evitar a doença. Tanto meninas quanto meninas devem tomar a vacina. Usar preservativo em toda relação também é uma boa medida para evitar o HPV e indiretamente o câncer de colo de útero.

Se ficou com dúvidas, comente aqui ou nas redes sociais.

Até a próxima.


*Imagem que ilustra este artigo: © Panuwat Dangsungnoen de Getty Images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

Escreva um comentário