Gordura no fígado: o que fazer?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 1 mês

O acúmulo de gordura no fígado ou esteatose hepática pode ocorrer pelo abuso de bebida alcoólica ou não ter nenhuma relação com o etilismo.

Neste artigo você vai descobrir possíveis causas para esse acúmulo, qual o problema de ter gordura no fígado e o que fazer para evitar ou reduzir essa gordura. 

Boa leitura.

O que causa gordura no fígado?

As principais causas de acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) são o abuso no consumo de bebida alcoólica e a síndrome metabólica. Quando a gordura do fígado não tem relação com o etilismo ela é chamada de esteatose hepática não alcoólica.

Excesso de álcool

Pessoas que bebem mais do que 2 doses de bebidas por dia (ou 30 gramas de álcool), têm mais chance de ter esse acúmulo pela bebida. 

Para se ter uma ideia, uma lata de cerveja (350 mL) tem cerca de 17 gramas de álcool, e uma dose de cachaça (50 mL) cerca de 25 gramas. Você pode fazer uma conta básica, olhando no rótulo da sua bebida e multiplicar o volume pelo teor alcoólico. Por exemplo, uma lata de cerveja de 350mL e que tenha teor alcoólico de 5%, terá aproximadamente 17,5 gramas de álcool (350 * 5%).

Consumir mais do que 30 gramas de álcool por dia aumenta em muito a chance de se ter acúmulo de gordura no fígado e suas complicações. O álcool em excesso na corrente sanguínea acaba se transformando em gordura, que se acumula justamente no fígado.

Mas a maior causa de acúmulo de gordura no fígado não é devido a bebida alcoólica. Ela está associada ao que a gente define de síndrome metabólica.

Síndrome metabólica

A síndrome metabólica é um conjunto de sinais que predispõe o organismo à várias doenças, dentre elas a esteatose hepática. Ela é definida pela presença de pelo menos 3 dos fatores abaixo:

  • Glicemia de jejum elevada (acima de 100 mg/dL) ou uso de medicação para diabetes;
  • Obesidade, definida como cintura abdominal acima de 102 cm nos homens e 88 cm nas mulheres;
  • Triglicerídios acima de 150 mg/dL ou em uso de medicação para reduzir os triglicerídeos;
  • HDL abaixo de 40 mg/dL nos homens e 50 mg/dL nas mulheres ou em uso de medicações para reduzir o colesterol;
  • Pressão Arterial acima de 130×85 mmHg ou em uso de medicações para reduzir a pressão.

Eu costumo dizer que a síndrome metabólica é a doença do Batman, pois ele vive em GOTHAM City:

  • G: Glicemia elevada
  • O: Obesidade
  • T: Triglicerídeos elevados
  • H: HDL baixo
  • A: pressão Arterial elevada
  • M: Mais de 2 sinais dos 5 anteriores indica síndrome metabólica.

Além de predispor a ter acúmulo de gordura no fígado, a síndrome metabólica também contribui para doenças como infarto e AVC

Qual o problema de ter gordura no fígado?

A maioria das pessoas que tem gordura no fígado não tem nenhum sintoma. Quando presentes eles costumam ser:

  • Cansaço
  • Indisposição ou mal-estar
  • Leve desconforto na região do fígado do lado superior direito do abdome, logo abaixo ou atrás das costelas. 

Quando essa gordura se acumula em grau muito elevado, ela pode evoluir para uma doença chamada de cirrose ou ainda predispor ao aparecimento de câncer no fígado.

A cirrose se apresenta como uma espécie de “endurecimento” do fígado pelo aparecimento de “fibras” em seu interior. Dependendo do grau da doença o fígado pode parar de funcionar e nesse caso é necessário um transplante.

Quem tem cirrose pode apresentar outros sintomas, como por exemplo:

  • Icterícia, que é o amarelão que aparece na pele e na parte branca dos olhos;
  • Fraqueza;
  • Inchaço de pernas;
  • Inchaço do abdome;
  • Vômito com sangue;
  • Presença de sangue nas fezes.
  • Em casos mais graves pode levar a confusão mental (encefalopatia hepática).

Mas calma, estes sintomas só acontecem em casos mais graves da doença. A grande maioria das pessoas que têm gordura no fígado não desenvolve qualquer sintoma no decorrer da vida.

Como sei se tenho gordura no fígado?

A maioria das pessoas descobrem que tem gordura no fígado por exames de imagem, normalmente por ultrassonografia do abdome. E estes achados são acidentais. A pessoa fez um ultrassom devido a alguma queixa qualquer no abdome e acabou descobrindo que tinha acúmulo de gordura no fígado.

Durante consultas de rotina, o médico pode suspeitar de um fígado aumentado de tamanho pela palpação do fígado, ou pelos sintomas relatadas. Nestes casos ele vai pedir exames para investigar, dentre eles o ultrassom de abdome. 

Uma vez diagnosticada o excesso de gordura no fígado é importante avaliar a causa. Às vezes ela é mais óbvia, como pelo relato de abuso de bebida alcoólica. Em outras vezes precisa-se descartar outras doenças que também pode contribuir para o acúmulo de gordura no fígado, entre elas:

  • Hepatites virais, principalmente hepatite C.
  • Doença de Wilson, que é uma doença rara relacionada ao acúmulo de cobre no corpo.
  • Desnutrição severa.
  • Abuso de algumas medicações ou drogas.

Além do histórico, que é de extrema importância para descartar ou suspeitar de outras causas da esteatose hepática, o médico pode pedir exames para avaliar a função do fígado, bem como para avaliar os fatores de risco para a síndrome metabólica.

Em situações em que a causa não seja clara com a história e os exames, o médico pode solicitar ainda uma biópsia do fígado.

Tem como evitar ou tratar?

Não existe um tratamento específico para o acúmulo de gordura no fígado.

A principal forma de evitar e de reduzir o acúmulo de gordura no fígado é controlar os fatores de risco:

  • Reduzir a ingesta de bebida alcoólica.
  • Reduzir o peso.
  • Praticar atividade física regular que contribui para a melhora de todos os fatores da síndrome metabólica.
  • Manter uma alimentação saudável, evitando gorduras saturadas e carboidratos simples.
  • Vacinação para hepatites A e B, de forma a evitar que a associação entre a gordura no fígado e a presença destas hepatites evoluam para cirrose.
  • Tratamento do diabetes se presente;
  • Tratamento do excesso de colesterol com estatinas ou outras medicações se necessária.

Uma vez que você saiba que tem gordura no fígado, é importante fazer um acompanhamento periódico com seu médico. Ele vai lhe ajudar a reduzir ou evitar os fatores de risco. Além de fazer um monitoramento da função do fígado e reavaliação periódica dos fatores de risco e da progressão da esteatose. 

Conclusão

Os principais fatores que contribuem para o acúmulo de gordura no fígado ou esteatose hepática são o abuso de bebida alcoólica e a síndrome metabólica. Quando em excesso essa gordura pode evoluir para cirrose ou cancer do fígado. A forma de detecção é principalmente por exames de imagem como o ultrassom abdominal. Para evitar a esteatose hepática o ideal é evitar bebida alcoólica, fazer atividade física regular, além de ter uma alimentação saudável. 

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*Imagem que ilustra este artigo: © Science Photo Library via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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