O HIV é o vírus causador da AIDS, que hoje é considerada uma condição crônica, pois pode-se conviver com o vírus sem transmiti-lo-lo e com qualidade de vida. Apesar de o Brasil já ter sido um grande exemplo no combate ao vírus, a doença ainda é um grande problema de saúde. Em 2021 mais de 40 mil novos casos foram diagnosticados e 11 mil pessoas morreram em decorrência de problemas causados pelo HIV.
Neste artigo você vai saber a história do HIV, como se transmite a doença, quais seus eventuais sintomas, como deve ser feito o uso correto da medicação, onde conseguir os medicamentos e fazer o acompanhamento médico. No final você vai encontrar ainda informações sobre como se proteger e onde conseguir ajuda.
Boa leitura.
História do HIV
Remonta a 1981 os primeiros casos de uma pneumonia grave que afligia homens que eram previamente saudáveis e que tinham em comum o fato de terem relações sexuais com outros homens. Somente em 1984 é que se descobriu que um vírus era o causador dessa pneumonia e no ano seguinte se desenvolveu um teste capaz de diagnosticar a presença do vírus HIV no corpo humano. HIV é a sigla em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana.
A primeira medicação de combate ao HIV só veio a ser disponibilizada em 1987. Era o AZT, que no mesmo ano começou a ser vendido no Brasil, porém só sendo distribuído gratuitamente a partir de 1991 pelo Ministério da Saúde.
O entendimento da doença evoluiu muito e a partir de 1996 ela foi finalmente controlada com o uso de vários medicamentos que combinados podem manter o vírus inativo, tornando a doença crônica e evitando que pessoas morram ou tenham complicações pela doença.
Apesar de inúmeros avanços, a cura até hoje ainda não existe. Algumas vacinas para evitar a contaminação estão em fases de testes, mas nenhuma aprovada para uso geral até o momento.
Com o avanço do conhecimento e das pesquisas, muitas barreiras e preconceitos foram eliminados. Hoje sabe-se que HIV pode contaminar crianças, adultos, idosos, homens e mulheres, independente de orientação sexual. Muito ainda precisa evoluir.
O que é o HIV?
O HIV é um vírus que ataca o sistema imunológico, as células de defesa do corpo. Essas células, chamadas de leucócitos, são nossos “soldadinhos de defesa”. São elas que nos impedem de ficarmos doentes facilmente. E elas também são as responsáveis por curar o nosso corpo de infecções. Quando você pega um resfriado, possivelmente por um vírus que o seu sistema imunológico ainda não conhecia, você fica doente, mas em poucos dias melhora graças aos leucócitos em ação.
O vírus HIV atua destruindo justamente esses leucócitos defensores. Com o passar dos meses ou anos com o vírus em seu corpo, o sistema imune vai enfraquecendo a ponto de não conseguir mais defender o corpo de outros invasores. Nesse caso uma infecção por um simples vírus, fungo ou bactéria – que seria eliminado em poucos dias sem nem causar doença, ou causar apenas uma doença leve, – pode acabar causando uma doença tão grave quanto uma pneumonia, que pode até levar a pessoa ao hospital ou até a morte.
Como se transmite o HIV?
O vírus HIV é transmitido através do contato sexual, exposição a sangue ou ainda de mãe para filho durante o parto ou amamentação.
A principal forma de transmissão é por relações sexuais sem uso de preservativo com alguém com HIV. Isto inclui relação vaginal, anal e sexo oral. Mas o contato com o sangue presente em agulhas ou seringas contaminadas também é fonte de transmissão, principalmente entre profissionais de saúde, que têm mais chance desse contato.
O compartilhamento de agulhas para o uso de drogas injetáveis também pode ser fonte de transmissão, apesar de menos comum hoje em dia.
Quais os sintomas do HIV?
A maioria das pessoas que adquire o vírus HIV não desenvolve nenhum tipo de sintoma. Em poucos casos é possível ter a presença de febre, dor de garganta, dor nas articulações, dor nos músculos ou de cabeça. Quando presentes, eles duram menos de 2 semanas e desaparecem sem deixar vestígios.
No caso de uma doença sem tratamento e depois de muitos anos convivendo com o vírus, é possível ter inchaços nos gânglios linfáticos, algo que algumas pessoas chamam de “íngua”. Esse inchaço pode ser dolorido e é mais comum em região do pescoço, axilas ou virilhas.
Também é possível – depois de anos com o vírus – o aparecimento de infecções oportunistas, que se aproveitam do sistema imunológico enfraquecido. Neste caso podem aparecer febre, diarreia, perda de peso, infecções pulmonares, no cérebro, infecções na boca causadas por fungos, entre outros sintomas.
Como é feito o diagnóstico do HIV?
Se houver suspeita da doença ou em exames de rastreio, uma simples amostra de sangue é utilizada para fazer o diagnóstico.
No Brasil existem os testes rápidos que são feitos utilizando uma única gota de sangue. Estes testes são encontrados nos postos de saúde e também nas farmácias. Eles servem de rastreio apenas. Um exame positivo não deve ser interpretado como uma pessoa contaminada, sendo necessário realizar um segundo exame confirmatório. Eles detectam anticorpos apenas.
Além desses, existem os testes realizados em laboratório, sendo que o mais comum no país é o teste ELISA, que detecta anticorpos contra o vírus. Devido ao fato de que o teste ELISA também detecta apenas anticorpos, pode demorar até 45 dias para que o organismo crie estes anticorpos contra o HIV e então termos resultados confiáveis. Este tempo entre a contaminação e a detecção pelos testes é chamada de janela imunológica.
Existem outros exames chamados de testes de 4a geração, mais caros e que, além dos anticorpos, também detectam partes do vírus HIV. Neste caso a janela de detecção do vírus é reduzida para 15 dias. Ou seja, um teste de 4a geração pode detectar o vírus 15 dias depois da contaminação. Já o ELISA e o teste rápido podem levar até 45 dias. Este tempo é variável conforme o tipo do teste e fabricante.
Em casos positivos os próprios laboratórios fazem testes mais apurados de comprovação, eventualmente solicitando ao paciente uma nova amostra de sangue.
Por essa questão da diversidade dos testes, além da questão da janela imunológica diferente em cada teste, é importante procurar um médico ou profissional de saúde para saber interpretar corretamente o resultado dos exames.
O que é o CD4+ e a Carga Viral?
Existem inúmeros tipos de leucócitos de defesa no nosso corpo. O HIV costuma destruir principalmente um destes leucócitos chamados de linfócito CD4+. Quando este tipo de linfócito se reduz para valores abaixo de 200 o organismo fica muito suscetível a doenças oportunísticas. Neste caso o médico costuma prescrever medicações antibióticas para prevenir tais doenças.
Já a Carga Viral indica a quantidade de vírus no corpo. Quem tem HIV precisa ter a Carga Viral monitorada periodicamente. Normalmente isto é realizado a cada 6 meses, podendo ser num período mais curto no início do acompanhamento da doença.
O principal objetivo do tratamento do HIV é manter a Carga Viral indetectável. Isto significa que existe tão poucos vírus no sangue que os testes não conseguem detectá-los.
Diferença entre HIV e AIDS
AIDS, SIDA ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é o nome que se dá a doença causada pelo vírus HIV. Por convenção, uma pessoa está com AIDS apenas quando os níveis de linfócitos CD4+ caem para menos de 200 ou quando existe alguma infecção oportunista ativa.
Uma pessoa pode deixar de ter AIDS caso os níveis dos linfócitos CD4+ aumentem para mais de 200 e se a eventual doença oportunista esteja curada.
Como a medicação Antiretroviral (TARV) funciona?
Atualmente quem tem HIV utiliza 3 tipos diferentes de medicamentos ao mesmo tempo. Estes medicamentos combatem o vírus impedindo sua multiplicação. Eles são tomados uma única vez por dia e são indicados para todas as pessoas que tenham o diagnóstico confirmado.
As 3 medicações atualmente indicadas como primeira escolha são o Tenofovir (300mg), a Lamivudina (300mg) e o Dolutegravir (50mg). Normalmente são dois comprimidos, um contendo o Tenofovir e outro que é uma combinação da Lamivudina e do Dolutegravir.
Existem outras medicações que podem ser indicadas conforme cada caso.
Efeitos colaterais dos medicamentos
Antigamente a droga mais utilizada era o AZT e o efeito colateral mais temido era a lipodistrofia, que era uma perda de gordura de várias partes do corpo, especialmente do rosto.
Atualmente o AZT é utilizado apenas em casos especiais. Mas alguns destes medicamentos podem ter efeitos colaterais, sendo os principais a toxicidade para os rins e para o fígado. Por isso é necessário fazer exames para avaliar estes órgãos periodicamente.
Alguns medicamentos podem causar sonos vívidos especialmente no começo do uso, que costumam se resolver em algumas semanas.
Onde conseguir os medicamentos?
As medicações para o tratamento do HIV só são encontradas na rede pública via SUS. Essas medicações não são vendidas em farmácias.
Para conseguir a medicação é necessário, além da receita, um formulário específico para isso. O formulário pode ser preenchido, assinado e carimbado por qualquer médico brasileiro.
De porte dessa documentação, é possível obter o remédio em qualquer Unidade de Distribuição do país. Ou seja, você pode estar viajando para outra cidade e pegar o remédio na farmácia mais próxima de você, independente da cidade ou estado que o médico preencheu a receita. É possível obter a lista completa de todas as Unidades de Distribuição de Medicamentos no site azt.aids.gov.br.
Como é feito o acompanhamento da doença?
No início do tratamento o médico vai pedir diversos exames de sangue e urina, além de investigar a presença de outras doenças como tuberculose, sífilis, hepatites virais (A, B e C principalmente) e toxoplasmose.
Além disso, o CD4+ é monitorado a cada 6 meses até que se confirmem 2 valores consecutivos maiores do que 350. Após isso esse exame só é pedido em algumas condições específicas.
O exame mais importante é a Carga Viral. Esse exame é feito a cada 1 ou 2 meses no início do tratamento ou se houver troca de medicação. Uma vez que a Carga Viral estiver indetectável, ela é repetida a cada 6 meses. Lembre-se de que esse é o principal objetivo do tratamento para o HIV: Carga Viral indetectável.
Onde realizar os exames e o acompanhamento?
O acompanhamento do HIV pode ser feito completamente na rede pública. Em alguns estados isto é realizado em unidades de saúde e em outros em centros específicos para tal. Os médicos de família são capacitados para esse acompanhamento, sendo que casos complicados são encaminhados para médicos infectologistas. Procure a unidade de saúde mais próxima para se informar.
Se você preferir pode acompanhar com um médico da rede privada, com a coleta de exames em laboratórios credenciados da rede privada. Só é importante lembrar que a medicação só pode ser obtida pelo SUS e que nem todo laboratório está habilitado para realizar os exames de Carga Viral e CD4+.
Recomendações gerais
Toda pessoa que tenha HIV precisa reforçar os cuidados com sua saúde, sendo recomendado:
- Evitar outras ISTs, com uso de preservativo em toda relação sexual.
- Ter uma dieta equilibrada, evitando gorduras saturadas, e carboidratos simples.
- Realizar exercício físico regularmente.
- Evitar ou parar de fumar.
Quem está com a carga viral indetectável não transmite o vírus, e por isso esse é o grande objetivo do tratamento.
Posso tomar vacinas?
Pessoas portadoras do HIV podem e devem tomar todas as vacinas do calendário nacional, desde que estejam com o CD4+ acima de 350.
Para aquelas com CD4+ entre 200 e 350 é possibilidade tomar algumas vacinas, mas desde que bem indicadas pelo seu médico.
Há recomendação de algumas vacinas específicas para quem tem HIV como a que protege contra pneumonia (VPC13 e VPP23), e no caso da vacina da Hepatite B ela é realizada com 4 doses ao invés de com 2.
E seu eu estiver grávida ou quiser engravidar?
Existe o risco de transmissão do vírus HIV da mãe para o bebê. E isso ocorre durante o contato com o sangue materno durante o parto. Mulheres que querem engravidar precisam conversar com seu médico sobre os riscos envolvidos no seu caso.
É importante planejar a gestação previamente para evitar contaminar o parceiro, bem como eventualmente ter que ajustar a medicação para evitar problemas com o desenvolvimento do bebê.
Mas já adianto que se a doença estiver bem controlada, e com a carga viral indetectável, é possível ter uma gestação tranquila e um parto sem riscos de transmissão para o bebê, e sem contaminar o parceiro.
Porém, mulheres com HIV não devem amamentar, pois existe o risco da transmissão pelo leite materno.
Onde encontrar ajuda
Existe muita informação na Internet, porém nem todas são confiáveis.
Recomendo o Disque AIDS (0800 541 0197) que é um serviço mantido pelo Ministério da Saúde.
Além disso, os seguintes sites podem ser consultados:
Como se proteger para evitar pegar HIV?
Todo adulto deve realizar exames para rastreio de HIV pelo menos uma vez na vida. Aquelas que tenham maior risco, como pessoas que tenham relações sexuais desprotegidas com parceiros que não se conhece as condições de saúde ou ainda profissionais de saúde, devem fazer exames anualmente.
Existem medicações antirretrovirais que podem ser utilizadas para tentar evitar a contaminação pelo HIV (PrEP ou Profilaxia Pré-Exposição), porém elas só são indicadas para casos específicos. Consulte sua unidade de saúde ou seu médico de confiança para avaliar se é o seu caso.
Além disso, em caso de relação sexual de risco ou contato com sangue, lâminas ou agulhas potencialmente contaminadas, existe a indicação de uso de medicação de proteção (PEP ou Profilaxia Pós-Exposição ao HIV). Consulte seu médico para avaliar se há indicação.
E não esqueça que o preservativo (tanto o masculino quanto o feminino) é uma excelente forma de proteção.
Conclusão
O HIV ainda é uma doença com alta taxa de mortes no Brasil. É uma condição crônica pois pode-se conviver com o vírus sem transmiti-lo e com qualidade de vida. A doença é transmitida por contato com sangue ou fluidos contaminados, principalmente por relação sexual. O tratamento é feito com medicações anti retrovirais, que precisam ser tomadas diariamente e pelo resto da vida. O principal objetivo do tratamento é obter Carga Viral indetectável, pois nesta condição não se transmite o vírus e a doença não causa nenhum mal. Mulheres portadoras do HIV podem ter bebês sem a doença. Apesar de existirem medicamentos para prevenir e para tratar a doença, a melhor forma de prevenção ainda é o preservativo. Existem diversas fontes para se obter ajuda, sendo que os canais do Ministério da Saúde continuam sendo a opção mais confiável.
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Um forte abraço.
*Imagem que ilustra este artigo: © atakan de Getty Images Signature via canva.com.