Anti-inflamatórios: riscos e benefícios

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 7 meses

A dor é o sintoma mais comum e está presente na esmagadora maioria das consultas médicas. Talvez por isso os anti-inflamatórios com função analgésica e antitérmica sejam os medicamentos mais usados pela população brasileira. A maioria deles podem ser comprados sem receitas nas farmácias e são tomados sem necessariamente uma orientação adequada. Ficar sem dor é indiscutivelmente ótimo, mas o uso indiscriminado de anti-inflamatórios, quando mal indicados ou sem orientação adequada, pode trazer consequências sérias ao corpo, sendo o prejuízo aos rins e ao estômago talvez as mais conhecidas, apesar de estarem longe de serem as únicas.

Este artigo explica o que é a inflamação e como os anti-inflamatórios funcionam. Você vai entender também quais os riscos de tomar estes medicamentos por conta própria. Vou te contar quais são os efeitos colaterais e quem em hipótese alguma não pode tomar anti-inflamatórios.

Boa leitura.

*Prefere assistir? O conteúdo deste artigo também está disponível no vídeo abaixo. 

Vídeo: DOR DE ESTÔMAGO, AZIA, ZUMBIDO no ouvido? O culpado pode ser o ANTI-INFLAMATÓRIO

DOR DE ESTÔMAGO, AZIA, ZUMBIDO no ouvido? O culpado pode ser o ANTI-INFLAMATÓRIO

O que é a inflamação?

inflamação é uma resposta normal do corpo quando sofre um trauma (machucado) ou quando é atacado por um micro-organismo (vírus, bactéria, protozoário). Na tentativa de se defender, o corpo produz toxinas para tentar destruir o invasor, além de aumentar a quantidade de células de defesa no local da infecção.

Esta resposta pode levar ao aparecimento de dor local devido à produção de agentes de defesa e sinalização. A região pode ficar quente e avermelhada devido a batalha que está ocorrendo. Pode ocorrer ainda o inchaço do local devido a reação do corpo de permitir que mais líquido proveniente do sangue seja deslocado até o local, facilitando que células de defesa cheguem até a inflamação.

Em alguns casos pode acontecer a febre, que nada mais é do que outro mecanismo de defesa do corpo para tentar aumentar o metabolismo e acelerar o processo de cura.

Porém, na tentativa de resolver de uma vez com a batalha, nem sempre o corpo acerta a medida da defesa, podendo acontecer uma resposta exagerada. Tal resposta pode levar a um processo de inchaço com danos aos tecidos ao redor da inflamação. Além disso, os sintomas de dor podem ser muito intensos, dificultando a execução das atividades diárias. 

A dor acontece para sinalizar que algo não está bem e que uma atenção é necessária. A febre pode ser benéfica, porém pode trazer junto sintomas de desânimo, cansaço ou perda de apetite. Em crianças pequenas a febre alta pode levar ao aparecimento de crises convulsivas (devido à imaturidade do cérebro e do sistema nervoso), o que costuma se resolver sem deixar sequelas, porém pode ser assustadora.

E é por isso tudo que os anti-inflamatórios têm sua grande importância.

O que são os anti-inflamatórios?

Os anti-inflamatórios são medicamentos que, como o nome sugere, agem justamente tentando reduzir a resposta inflamatória gerada pelo corpo. Eles atuam nos quatro principais sinais e sintomas da inflamação:

  • Dor.
  • Calor.
  • Rubor (vermelhidão).
  • Edema (inchaço).

Seu mecanismo de ação pode ser complexo, mas basicamente eles atuam diminuindo a sinalização da resposta inflamatória que acabam por reduzir os quatro sinais e sintomas da inflamação.

Existem duas grandes classes de anti-inflamatórios:

  • Anti-Inflamatórios Não Esteroidais (normalmente chamados apenas de anti-inflamatórios).
  • Anti-Inflamatórios Esteroidais (mais conhecidos pelo nome corticoide).

Anti-Inflamatórios Não Esteroidais (AINEs)

Os AINEs atuam principalmente inibindo ou evitando que o organismo produza prostaglandinas. Existem basicamente dois tipos de prostaglandinas: COX-1 e COX-2. Alguns anti-inflamatórios atuam inibindo ambas as prostaglandinas COX-1 e COX-2, outros atuam inibindo principalmente a COX-2.

Como a COX-1 é mais comum de ser encontrada no estômago, e um dos efeitos colaterais dos anti-inflamatórios é justamente causar úlceras estomacais, descobriu-se que os AINES seletivos para COX-2 têm menos efeitos no estômago. Porém alguns medicamentos seletivos para COX-2 acabaram aumentando a taxa de mortalidade das pessoas que o usavam. Estes medicamentos já foram descontinuados, mas outros específicos para COX-2 ainda são amplamente utilizados.

É possível classificar os anti-inflamatórios de acordo com sua estrutura química ou por sua seletividade pelas prostaglandinas. Com relação a essa última, é possível encontrar nas farmácias:

  • Seletivos principalmente para COX-1:
    • Ácido Acetilsalicílico (AAS ou Aspirina)
    • Cetoprofeno
    • Flurbiprofeno sódico
  • Atuando igualmente em COX-1 e COX-2:
    • Ibuprofeno
    • Indometacina
    • Piroxicam
    • Naproxeno
  • Seletivos principalmente para COX-2:
    • Ácido mefenamico 
    • Celecoxibe
    • Diclofenaco sódico ou potássico 
    • Etodolaco
    • Meloxicam
    • Nimesulida 
    • Salicilato de metila
  • Seletivos fortemente para COX-2
    • Etoricoxibe

Cada subclasse dessas possuem suas particularidades, variando o tempo de ação, bem como a indicação de uso.

Por exemplo, o ácido mefenamico é mais utilizado para tratar sangramentos uterinos anormais, a indometacina tem maior aplicação nas doenças reumatológicas. Nem todos estes são encontrados em todos os lugares. A nimesulida por exemplo não é comercializada nos Estados Unidos. Um dos motivos é que há a associação desse anti-inflamatório com casos graves de danos no fígado.

Independente da classe, todos os anti-inflamatórios compartilham dos mesmos efeitos colaterais, alguns com maior intensidade para um do que outro. Os principais efeitos indesejados incluem:

  • Úlceras estomacais
  • Sangramentos no estomago e intestino
  • Danos ao fígado
  • Dano aos rins
  • Zumbidos

Com toda essa variedade de tipos, é importante enfatizar que nem sempre um anti-inflamatório que é adequado para uma pessoa o será para outra. Por isso, sempre é bom lembrar: só use medicamentos indicados pelo médico.

Anti-Inflamatórios Esteroidais (Corticoides)

Os corticoides são uma gama de anti-inflamatórios muito mais potentes, pois além de reduzirem os sinais e sintomas de inflamações, atuam reduzindo a ativação do sistema imunológico, podendo ter atividades imunossupressoras conforme o tipo, a dose e o tempo de uso.

Alguns exemplos de corticoides são: predinisona, prednisolona, dexametasona, triancinolona, betametasona, beclometasona e fluticasona.

Os efeitos colaterais dos corticoides são inúmeros e eles não devem em hipótese alguma ser tomados por conta própria, sob risco de consequências severas.

Quanto maior as doses e maior o tempo de uso, piores podem ser os efeitos colaterais, que vão desde inchaço generalizado no corpo, redução da densidade dos ossos, catarata, descontrole do diabetes, gastrite, úlceras estomacais, distúrbios do humor, entre outros.

Outro grave problema é a síndrome de retirada de corticoides, quando eles são utilizados por muito tempo (duas semanas ou mais). Os sintomas que podem aparecer são náusea, vômitos, dor de cabeça, dores no corpo, aumento da frequência do coração, queda da pressão arterial, entre muitos outros.

Por tudo isso, enfatizo: Não tome nenhum medicamento, em especial corticoides, sem indicação médica.

Quais as formas de aplicação?

Os anti-inflamatórios podem ser aplicados de várias formas, dentre elas pode-se destacar: injetável (quando são aplicadas diretamente na veia ou no músculo), oral (na forma de comprimidos ou cápsulas) ou tópica (na forma de gel ou cremes). 

Os tópicos costumam ter menos efeitos colaterais, porém também são absorvidas pela pele e podem acabar na corrente sanguínea, tendo efeitos em qualquer outro lugar do corpo.

Anti-inflamatórios injetáveis são aplicados em hospitais, unidades de saúde ou pronto atendimentos. Têm efeito muito rápido (poucos minutos) e são usados para condições muito específicas de traumas por exemplo. Tem efeito no corpo todo e podem inclusive causar úlceras estomacais. Em alguns casos pode-se usar anti-inflamatórios injetados diretamente nas articulações. Apesar de ser uma prática relativamente comum, sua aplicação pode trazer consequências no longo prazo, especialmente com o uso repetido.

A forma oral é a mais comumente utilizada. Alguns acreditam que o efeito de dor no estomago que pode aparecer depois do uso prolongado de anti-inflamatórios tomados pela forma oral seja somente pelo comprimido entrar em contato com o estômago. Na verdade, o efeito se dá pela inibição das prostaglandinas COX-1 depois que o anti-inflamatório chega na corrente sanguínea. Nesse caso, a melhor proteção para o estômago é tomar o medicamento pelo menor tempo, conforme prescrito pelo médico e com o uso de protetores do estômago se indicados e receitados (normalmente isso é feito quando é necessário o uso prolongado dos anti-inflamatórios ou para pessoas que sabidamente tenham problemas no estômago).

Qualquer pessoa pode tomar anti-inflamatórios?

A resposta curta é direta é não. Certas pessoas não devem tomar anti-inflamatórios, em especial nos seguintes casos:

  • Presença de úlceras no estômago ou no intestino. Em alguns casos o médico pode indicar o uso do anti-inflamatório junto com um protetor do estômago.
  • Pessoas que já tiveram infarto ou AVC. Os anti-inflamatórios podem aumentar o risco de um novo infarto ou AVC (derrame). Porém a aspirina (AAS) é segura e pode ser indicada para esses casos. Somente o médico poderá lhe informar se é o seu caso.
  • Presença de doença renal, com baixa taxa de filtração glomerular. Nesse caso os anti-inflamatórios devem ser evitados a todo o custo, sob o risco de danificar ainda mais os rins.
  • Doença no fígado (cirrose). Como os anti-inflamatórios são metabolizados no fígado, há o risco de piorar ainda mais a doença.
  • Hipertensão arterial. Anti-inflamatórios podem aumentar a pressão arterial. Porém o médico pode receitar o medicamento para algumas situações específicas e por um tempo curto.
  • Gestação. Mulheres grávidas não devem tomar anti-inflamatórios, principalmente na segunda metade da gestação (após 20 semanas), sob o risco de antecipar o trabalho de parto ou trazer outras consequências para o bebê. Durante a amamentação há maior segurança para seu uso.
  • No caso de cirurgias ou para a realização de alguns exames (endoscopia por exemplo), é possível que o médico peça para você suspender o uso de anti-inflamatórios alguns dias antes do procedimento devido ao maior risco de sangramentos.
  • Alguns medicamentos podem interagir com os anti-inflamatórios, podendo potencializar os efeitos colaterais tanto do anti-inflamatório, quanto do medicamento sendo usado em conjunto. Nesse caso melhor perguntar para seu médico se o uso concomitante é seguro.

Orientações gerais

  • Não tome anti-inflamatórios ou quaisquer outras medicações sem a indicação de um médico.
  • Se precisar tomar, tome o anti-inflamatório pelo menor tempo possível e nas doses mais baixas, conforme orientado e prescrito por seu médico.
  • Não tome anti-inflamatórios simplesmente para tentar melhora uma dor de garganta ou outras dores em geral. Eles podem ser nocivos para você.
  • Não tome anti-inflamatórios se tiver doença no rim, no fígado ou se estiver grávida.

Conclusão

Os anti-inflamatórios são uma classe de medicamentos extremamente importantes e que ajudam a reduzir os sintomas de inflamação tais como a dor e o inchaço local. São seguros se bem indicados e utilizados por um tempo curto e nas doses adequadas. Os principais tipos são os anti-inflamatórios não esteroidais e os esteroidais (corticoides). Os principais efeitos colaterais incluem danos aos rins, fígado e dor ou sangramento estomacal. Não tome anti-inflamatórios ou quaisquer outros medicamentos sem o conhecimento de seu médico.

Espero que tenha gostado do artigo.

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Abraços e até a próxima.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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