AVC ou derrame: dá para prevenir?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido popularmente como derrame decorre da falha na oxigenação de parte do cérebro. É uma emergência médica e se não reconhecido e tratado a tempo, pode deixar sequelas graves. Este artigo descreve os tipos de AVC, seus sintomas, diagnóstico, formas de tratamento e prevenção.

Boa leitura.

*Prefere assistir? O conteúdo deste artigo também está disponível no vídeo abaixo. 

Vídeo: AVC ou derrame: como saber se você está tendo um AGORA

AVC ou derrame: como saber se você está tendo um AGORA

O que é o AVC?

De forma simplificada um AVC ou Acidente Vascular Cerebral é um dano ocorrido no cérebro como resultado da interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro devido a uma artéria entupida ou pelo rompimento ou extravasamento de sangue de um vaso. 

Quando o AVC é decorrente do entupimento de uma artéria, ele recebe o nome de AVC isquêmico. Isquemia é o termo médico usado para se referir ao interrompimento de fluxo sanguíneo em algum lugar do corpo e a consequente falta de oxigenação da região irrigada. 

Se uma artéria é rompida ou o sangue extravasa por ela, ocorre o AVC hemorrágico. Hemorragia é justamente o termo médico para se referir a um sangramento. Um AVC hemorrágico também vai levar a falta de oxigenação dos tecidos do cérebro, mas além disso haverá um aumento de pressão dentro da cabeça, devido ao sangue extravasado.

Existe ainda uma outra condição chamada de Acidente Isquêmico Transitório ou AIT. Um AIT é uma interrupção temporária do fluxo sanguíneo do cérebro e que se resolve espontaneamente sem deixar sequelas.

Mesmo que o AIT seja temporário é de extrema necessidade procurar ajuda médica, pois quem teve um evento passageiro tem grandes chances de ter um AVC (que pode deixar sequelas), e a investigação da causa, bem como algumas medicações e mudanças no estilo de vida, podem ajudar a evitá-lo.

Quais os sintomas?

Dependendo da parte do cérebro afetada ocorrem os sintomas do AVC, que aparecem de forma súbita e incluem:

  • Fraqueza repentina ou sensação de formigamento ou dormência em um ou ambos os braços ou pernas;
  • Dificuldade em falar, fala confusa ou arrastada;
  • Boca torta ou com dificuldade em abrir um dos lados;
  • Confusão mental ou dificuldade para compreender os outros;
  • Dificuldade para caminhar ou ficar em pé;
  • Visão borrada ou embaçada.
  • Dor de cabeça súbita e repentina.

Se você ou qualquer pessoa ao seu redor estiver sentindo qualquer um desses sintomas, iniciados de forma súbita, ligue imediatamente para o SAMU no telefone 192.

Por que ocorre o AVC?

Qualquer pessoa pode ter um AVC, inclusive crianças. Nas crianças é um evento raro e normalmente devido a alguma anomalia dos vasos da cabeça ou outra doença existente desde o nascimento.

Existem 3 subtipos de AVC isquêmico: trombótico, embólico e por hipoperfusão. Sendo assim, as principais causas do AVC isquêmico são:

  • Trombótico – causado por um trombo (obstáculo) que fecha o fluxo de uma artéria. O mais comum é devido ao entupimento dos vasos por placas de gordura, mas também podem ocorrer por um dano no interior de uma artéria (chamado de dissecção).
  • Embólico – causado por um êmbolo (coágulo) que se forma em outra parte mais grossa dos vasos e que acaba migrando e entupindo uma região mais estreita.  A causa mais comum é devido a um problema no coração chamado de fibrilação atrial, quando uma parte do coração (o átrio) bate de forma errada.
  • Hipoperfusão – quando um problema em outra parte do corpo, muitas vezes o coração, ou por uma perda de sangue muito grande, leva à falha no fluxo sanguíneo no cérebro. É menos comum. 

Já no caso do AVC hemorrágico (o derrame), as principais causas para o rompimento de algum vaso com extravasamento de sangue dentro do cérebro são:

  • Pressão arterial muito elevada;
  • Acidente com trauma direto na cabeça ou indireto como por exemplo numa freada muito brusca de um carro ocasionada por uma colisão; 
  • Mal formação dos vasos da cabeça;
  • Uso de drogas como cocaína;
  • Cancer no cérebro e ruptura de um aneurisma (dilatação anormal de um vaso) são mais raros, mas são causas possíveis.

Como é feito o diagnóstico de AVC

O diagnóstico de um AVC precisa ser realizado num hospital especializado, que tenha serviço de neurologia, bem como equipamentos de tomografia computadorizada e outros preparados para tratar um AVC. A equipe do SAMU sabe que hospitais são esses, por isso a necessidade de chamá-los e não simplesmente levar o paciente para o hospital mais próximo.

Além dos detalhes da história (quais os sintomas, quando começaram, doenças pré-existentes), um exame clínico apurado com exame neurológico é obtido pelo médico.

Feito isso, uma das primeiras dúvidas que o médico precisa responder diante de um quadro de AVC é diferenciar o AVC entre isquêmico e hemorrágico, pois as condutas imediatas são diferentes.

Para saber se o AVC é hemorrágico, uma Tomografia Computadorizada é o exame de escolha. Muitas vezes os médicos utilizam contraste para conseguir visualizar melhor o interior do cérebro e descobrir se há um sangramento no interior da cabeça. O AVC isquêmico as vezes não apresenta nenhuma alteração na tomografia, sendo verificado alguns sinais somente alguns dias depois com um novo exame.

Exames de sangue podem ser pedidos, muitas vezes para descartar outras doenças que podem simular um AVC, como a hipoglicemia, por exemplo.

Outros exames realizados com menor urgência para tentar identificar a causa do AVC incluem:

  • Eletrocardiograma (avaliar fibrilação atrial ou outras doenças cardiacas);
  • Ecocardiograma (para investigar doenças no coração, incluindo suas válvulas);
  • Ecodoppler de artérias carótidas (um tipo de ultrassom dos vasos que levam sangue até a cabeça).

Como se trata o AVC

Se o AVC é isquêmico, a tentativa é a de desfazer ou remover o trombo que está interrompendo o fluxo sanguíneo. Isto pode ser feito basicamente de duas formas:

  • Com medicamentos antitrombóticos que agem para tentar desfazer quimicamente o coágulo. Para serem efetivos esses medicamentos precisam ser iniciados em até 4,5 horas do início dos sintomas. E por isso a necessidade de urgência em chegar até um hospital adequado.
  • Através da trombectomia, que consiste em tentar remover o coágulo com um equipamento introduzido diretamente nos vasos sanguíneos, tentando fazer a remoção mecânica do coágulo. Isto tem benefícios se realizado em até 24 horas do início dos sintomas.

Já no AVC hemorrágico não se podem usar antitrombóticos, pois esses podem agravar ainda mais o sangramento. Normalmente o próprio organismo dá conta de coagular o sangue e fechar o sangramento. A tentativa então é a de tentar evitar efeitos colaterais. Isso pode ser feito de algumas formas:

  • Se o paciente usa algum medicamento anticoagulante, os médicos podem usar antídotos para esses medicamentos, de forma a tentar conter o sangramento.
  • Cirurgias no crânio podem ser realizadas para tentar descomprimir áreas afetadas pelo sangue extravasado, reduzindo assim a pressão dentro da cabeça e amenizando os possíveis danos ao cérebro.
  • O controle rigoroso da pressão arterial é mandatório e realizado com medicações aplicadas diretamente na corrente sanguínea.

Sequelas

É difícil saber que sequelas poderão ficar de um AVC. Elas estão relacionadas à área do cérebro afetada pela falta de oxigenação.

Algumas vezes o paciente sai do hospital andando e falando como se nada tivesse acontecido. 

Outras vezes pode ficar com um lado do corpo paralisado, ou com dificuldade para se alimentar, falar ou compreender a fala.

Nos casos mais graves o paciente pode ficar acamado e depender completamente da ajuda de terceiros.

Infelizmente, o óbito pode ser um desfecho possível.

Como prevenir

Várias condições de hábitos de vida influenciam na chance de ter um AVC. Algumas podem ser modificadas e ajudar a prevenir o aparecimento da doença:

Além dessas condições que podem ser modificadas, outras condições também aumentam as chances de AVC:

  • Idade acima de 40 anos;
  • Doença no coração, incluindo fibrilação atrial;
  • Histórico de AIT prévio;
  • Histórico familiar de doença cardíaca ou AVC.

Eventualmente um AVC pode ocorrer em pessoas saudáveis, com bons hábitos de vida e sem nenhum fator de risco.

Um acompanhamento regular com seu médico com os chamados checkups, semestrais ou anuais, são essenciais na prevenção.

Terapia antiplaquetária

No caso de pessoas que tiveram AVC isquêmico e que tenham baixa chance de ter algum sangramento, o médico pode prescrever – ainda no internamento hospitalar – uma medicação muito conhecida: o AAS ou aspirina.

A ideia do uso do AAS é a de tentar reduzir a chance de o sangue coagular, evitando assim um novo AVC isquêmico. Ele só tem indicação de ser usado em pessoas que já tiveram um AVC, e não para prevenir um AVC em quem nunca teve um.

Antigamente os médicos prescreviam AAS para quase todos os pacientes, numa tentativa de “afinar o sangue” e prevenir o AVC. Os estudos atuais mostraram que só há reais benefícios em pessoas que já tiveram um AVC, e mesmo assim não é para todos. Converse com seu médico a respeito.

Além do AAS, o clopidogrel também pode ser utilizado em casos selecionados.

Se você usa AAS ou aspirina, saiba que um dos efeitos colaterais é a dor de estômago. Existem preparados revestidos, que supostamente deveriam servir para evitar isso. Porém, os estudos têm mostrado de que ela tem os mesmos efeitos colaterais do que a aspirina mais simples e mais barata.

E se por algum motivo você está tomando aspirina ou AAS revestida, saiba que ela deve ser tomada antes das refeições, para aproveitar o ambiente ácido do estomago para a remoção da camada protetora. Já o AAS ou aspirina comum devem ser tomados, normalmente, após o almoço.

Anticoagulantes

Para pacientes que descobrem que a causa do AVC foi um coágulo produzido no coração, devido à fibrilação atrial, o médico pode prescrever medicações anticoagulantes.

As mais comuns são a varfarina e os anticoagulantes orais diretos, com nome comercial de dabigatrana, apixavana, rivaroxabana e outros.

Revascularização de carótidas

Se o fluxo sanguíneo das artérias carótidas (que levam o sangue do coração para o cérebro) estiver bastante comprometido, cirurgia para a desobstrução desses vasos pode ser indicada para casos específicos.

Conclusão

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é o resultado do dano ocorrido no cérebro em decorrência da interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro. Pode ser isquêmico (pelo entupimento se uma artéria) ou hemorrágico (pelo rompimento ou extravasamento de sangue de uma artéria). Os principais sintomas são dificuldades de movimento, da fala, da compreensão, de caminhar e alterações da visão. É necessário o atendimento em hospital preparado o mais rápido possível pois o tempo para se evitar sequelas é muito curto, de menos de 5 horas. Em caso de sintomas ligar para o SAMU no 192 é a melhor opção. Cuidar dos principais fatores de risco como a pressão arterial, diabetes, colesterol elevado, parar de fumar, controlar o peso e fazer atividade física regular é obrigatório para quem já teve um AVC e uma ótima forma de evitar a doença. Medicamentos podem ser necessários tanto para controlar os fatores de risco quanto para tratar eventuais causas do AVC.

Espero que o artigo tenha sido útil.

Se tiver dúvidas, escreva nos comentários e me siga nas redes sociais para se manter informado.

Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © stockdevil de Getty Images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

Escreva um comentário