Câncer de pele: por que se preocupar?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

O câncer de pele é o tipo mais comum de câncer na população brasileira. Mama e Próstata vêm em segundo lugar. Apesar de ser mais encontrado em pessoas de pele clara e que se expõe frequentemente ao sol, todos podem ter a doença. Neste artigo vou te contar como se faz o diagnóstico e o tratamento da doença. Dicas para se proteger e quando suspeitar de uma lesão de pele são abordadas.

Boa leitura.

O que é o câncer de pele?

O câncer é uma doença em que algumas células do corpo começam a se multiplicar de forma desordenada.

No caso do câncer de pele – que é disparado o mais comum de todos os tipos de cânceres – ele se apresenta como manchas novas ou outras que já existiam e que mudam de comportamento (tamanho, forma, cor, sensibilidade). Outras formas de câncer de pele são os machucados ou lesões que não cicatrizam depois de 1 mês.

As maiores preocupações são:

  1. Lesões que crescem e que podem deixar cicatrizes importantes, especialmente em região de rosto, próximo de nariz ou olhos.
  2. Formação de metástase, que é quando as células da pele se desprendem do local de origem e começam a crescer e a se duplicar em outro lugar do corpo (fígado, ossos, pulmões, cérebro, entre outros).

Fatores que aumentam os riscos para câncer de pele

O cancer de pele é mais comum em pessoas de pele clara e com mais de 40 anos de idade. O principal fator de risco é a exposição solar aos raios ultravioletas (UV).

A genética também tem um papel importante, bem como a exposição à radiação ionizante e uso de medicamentos imunossupressores (como os usados por quem recebeu um órgão transplantado).

Quem mora na região sul do país tem mais chances de ser diagnosticado com câncer de pele. 

Tipos de câncer de pele

Normalmente se divide os tipos de cânceres de pele em melanoma e não melanoma. Isto porque os do tipo melanoma – mais raros – costumam ser mais agressivos e com maior potencial para causar metástase. Os cânceres do tipo não melanoma mais comuns são o basocelular e o espinocelular.

O INCA estima que em 2023, cerca de 31% de todos os diagnósticos de câncer no Brasil sejam de câncer de pele não melanoma. O do tipo melanoma deve corresponder a 1,3% dos cânceres diagnosticados.

Melanoma

O melanoma é a forma mais grave de câncer de pele, porém a mais rara. Ele pode invadir a região próxima e cair na corrente sanguínea, formando metástases distantes. Sua taxa de cura está diretamente relacionada com a precocidade que se faz o diagnóstico. 

Carcinoma BasoCelular (CBC)

O Carcinoma BasoCelular (CBC) é um câncer de pele muito comum. Ele tem pouca probabilidade de produzir metástases. Seu problema maior reside no fato de que ele é localmente invasivo e destrutivo da pele e das estruturas circundantes, incluindo o osso. Isso pode ocasionar cicatrizes desfigurantes quando não diagnosticado e tratado precocemente.

Carcinoma EspinoCelular (CEC)

Já o Carcinoma EspinoCelular (CEC) é um tipo de câncer de pele não melanoma que tem um potencial maior para metástases. Por conta disso, seu tratamento precisa ser mais cuidadoso e menos expectante que o CBC. Ele se origina de um tipo de célula da pele chamada de queratinócito.

Quando suspeitar de manchas ou feridas na pele?

Nem toda mancha na pele é um câncer. Para conseguir separar o joio do trigo, foram criadas algumas regras para tentar ajudar. Elas podem ser usadas para um autoexame de pele. Não há um consenso sobre sua periodicidade, mas deve ser aplicada sempre que uma mancha de pele levantar qualquer suspeita.

E um alerta: essas regras servem de triagem apenas. Na dúvida, independente do resultado dos testes abaixo, ou ainda na presença de lesões que não cicatrizam depois de um mês, procure um médico de confiança.

Regra do ABCDE

A regra do ABCD foi desenvolvida em 1985 por dermatologistas da Universidade de Nova York, e ajustada em 2014 para incluir o critério de Evolução. Essa regra talvez seja a mais popular entre clínicos e dermatologistas. 

Os critérios para avaliação de manchas suspeitas são:

  • Assimetria: Lesões que ao serem divididas ao meio por uma reta imaginária não formam duas metades iguais.
  • Bordas: Bordas irregulares.
  • Cor: Mais de uma cor na mesma mancha.
  • Dimensão: Maior do que 6mm no diâmetro.
  • Evolução: Alteração no tamanho, cor ou formato. Ou ainda o aparecimento de uma nova lesão ou mancha.

Na presença de 2 ou mais desses critérios numa mesma mancha ou lesão, recomenda-se procurar um dermatologista para avaliar a necessidade de uma biópsia. 

Checklist de 7 pontos

O Checklist de 7 pontos foi criado no Reino Unido a partir de um estudo retrospectivo com pacientes que tinham melanoma. Ela consiste em 3 critérios maiores, que valem 2 pontos cada, e outros 4 critérios menores que valem 1 ponto cada. 

Na soma de 3 ou mais pontos, deve-se procurar um médico para uma avaliação mais apurada.

Manchas da unha

Para as manchas da unha as regras são um pouco diferentes. Até existe um ABCDE modificado para as unhas, mas ele não é tão apurado. O dedão do pé e o polegar são os mais envolvidos, mas pode-se ter manchas suspeitas para melanoma em qualquer uma das unhas. 

Uma biópsia da unha deve ser realizada para o caso de manchas da matriz da unha (a parte mais próxima da pele) em qualquer uma das seguintes condições:

  • Pessoas com mais de 50 anos de idade;
  • Manchas escuras (marrom ou pretas);
  • Únicas;
  • Mais do que 3 mm de largura;
  • Coloração não homogênea;
  • Alteração na forma;
  • Margens irregulares.

Nevos ou pintas de beleza podem se transformar em câncer?

Os nevos, também chamados de pintas de beleza, são aquelas pequenas manchas arredondadas que são mais comuns em pessoas de pele clara.

Existem vários tipos de nevos e alguns podem sim ser precursores de melanoma. Porém eles são mais frequentemente apontados como marcadores de risco para o melanoma, pois a maioria dos melanomas não surgem de nevos preexistentes.

Os nevos comuns geralmente têm menos de 5 mm de diâmetro e podem ser elevados ou planos, com uma forma normalmente arredondada e de uma única cor uniforme. A maioria deles ocorre em áreas expostas ao sol.

A partir dos 40 anos é muito comum a presença de nevos rubis, que são nevos avermelhados e presentes normalmente em região de tronco (costas, peito e barriga). Estes são benignos e não se transformam em câncer. Podem eventualmente aumentar de tamanho e sangrar. Na dúvida consulte seu médico.

Rastreio

As evidências para o rastreio médico de manchas na pele durante os check-ups periódicos ainda não são robustas. 

Isto se deve pois nem toda lesão de pele é um câncer. O rastreio exagerado pode aumentar a chance de encontrar falsos positivos. Isto faz com que as pessoas sejam mais submetidas à biópsias que podem deixar cicatrizes. Além disso a questão psicológica da preocupação excessiva com relação a qualquer mancha que apareça no corpo pode fazer mais mal do que bem.

Feita essa ressalva, as melhores recomendações atuais indicam que pessoas que tenham maior risco de desenvolver câncer de pele podem se beneficiar de uma avaliação anual.

Os fatores de risco são:

  • Adultos de pele branca com 50 anos ou mais.
  • Mais de 50 nevos espalhados pelo corpo e/ou a presença de nevos grandes (atípicos/displásicos).
  • História pessoal de câncer de pele.
  • Imunossupressão, especialmente aqueles que faze uso crônico de medicamentos imunossupressores, como os usados por receptores de órgãos transplantados.
  • Indivíduos muito sensíveis ao sol e aqueles com fenótipo de “cabelo ruivo” (por exemplo pele clara, cor de cabelo ruivo ou loiro, sardas de alta densidade e olhos de cor clara [verde, castanho, azul]).
  • História familiar de melanoma em um ou mais parentes de primeiro grau ou em mais de um parente de segundo grau do mesmo lado da linhagem.

Para quem se encaixa em qualquer um dos casos acima, é sugerido um rastreio anual que envolve um exame de pele de corpo inteiro realizado por um médico com treinamento apropriado na identificação de melanoma.

O rastreio pode ser feito por qualquer bom médico clínico, porém a biópsia e o diagnóstico de lesões suspeitas, detectadas pelo clínico, são mais bem avaliadas por dermatologistas experientes.

Diagnóstico

Em manchas ou lesões suspeitas, a melhor forma para fazer o diagnóstico e confirmar a doença é através da realização de biópsia. A biópsia nada mais é do que analisar a pele doente em um microscópio, em busca de padrões de células cancerígenas. É papel de um médico patologista dar o laudo definitivo.

Para decidir pela biópsia o médico pode antes usar um equipamento chamado de dermatoscópio, que amplia a lesão e permite fazer uma avaliação mais apurada de manchas estranhas.

Se optado pela biópsia, para realizá-la é necessária a remoção cirúrgica da lesão. Muitas vezes o procedimento pode ser realizado no próprio consultório médico. Porém, o ideal é que seja feito por um médico treinado e habilitado. Isso porque remover a lesão é parte do tratamento. E deve-se tomar o cuidado de extrair toda a lesão, sem deixar células potencialmente cancerígenas no corpo, o que pode favorecer a recidiva do câncer. Além disso, a remoção da lesão pode deixar cicatrizes desfigurantes.

Infelizmente remover toda a lesão não é garantia de cura. O médico consegue remover o que ele está vendo, mas as células tumorais podem ter se espalhado e o médico nem sempre consegue enxergá-las. Somente o patologista, numa análise no microscópio é que conseguirá dizer se a lesão foi toda removida.

Para fazer isso ele analisa as bordas, as margens da lesão removida. Se essas margens contiverem apenas células saudáveis, então descreve no laudo que as margens estão livres, e que a lesão cancerígena foi provavelmente totalmente removida.

O laudo ainda vai informar se foram encontradas células tumorais e de que tipo são, pois como já afirmei: nem toda lesão suspeita é câncer.  

Tratamento

Se as margens estão livres, muitas vezes a principal conduta é expectante. Uma reavaliação semestral ou anual com o médico em busca de novas lesões ou recidivas pode ser suficiente. No caso de qualquer lesão suspeita, o ideal é procurar o médico o quanto antes.

Para o caso de tumores confirmados pela biópsia e que tenham margens comprometidas é necessária uma nova exploração cirúrgica, ampliando o local da cirurgia e removendo mais tecido que supostamente está comprometido. O médico pode também optar por apenas aguardar e reavaliar o local periodicamente – muitas vezes de 3 em 3 meses. Isto porque tem que se pesar o custo e o benefício. Pode ser que seja um tumor que tenha crescimento lento, numa pessoa idosa, e que a cirurgia possa trazer mais prejuízos do que benefícios.

Os prejuízos podem ser meramente estéticos, mas também podem comprometer a musculatura de alguma região, dificultando a movimentação ou acarretando perda de força. 

Cirurgia de Mohs

Em alguns casos, especialmente em regiões de face – em que ampliar o local da lesão possa acabar deixando uma cicatriz maior – o médico pode optar por uma cirurgia chamada de cirurgia de Mohs.

Na cirurgia de Mohs a lesão é removida com uma margem pequena e essa margem é avaliada ainda durante a cirurgia por um patologista. Se o patologista determinar que a pele removida ainda contenha células tumorais, nova retirada de lesão é realizada e o procedimento só termina quando o patologista informar que não há mais margem comprometida. É uma cirurgia cara e demorada, especialmente pela necessidade de inúmeras biópsias durante a cirurgia.  

Metástases

Infelizmente tumores de pele, principalmente os melanomas, podem causar metástases. Nestes casos o tratamento pode envolver quimioterapia e radioterapia. Cada caso é um caso e precisa de uma avaliação particular. 

Outros tratamentos

Alguns médicos propõe o uso de algumas medicações como forma de tentar evitar as recidivas de cancer de pele, especialmente os do tipo não melanoma. Infelizmente nenhuma medicação se mostrou muito promissora e vários estudos trazem resultados conflitantes. Os medicamentos mais usados são anti-inflamatórios, nicotinamida (vitamina B3) e o fluorouracil creme.

Prevenção

Já dizia Pedro Bial: Use filtro solar! Sério. A principal forma de se proteger é usando o filtro solar.

E ele tem seus segredos, tanto é que escrevi um artigo dedicado ao filtro solar. Lá eu explico a quantidade, qual o FPS adequado, quando reaplicar, entre outras questões.

A principal mensagem é a de usar o filtro solar todos os dias, independentemente se faça chuva ou faça sol, frio ou calor. 

Evitar a exposição ao sol e usar roupas protetoras também podem ajudar, especialmente para crianças e adolescentes.

Conclusão

O câncer de pele é uma doença muito comum. Usar uma das técnicas como a regra do ABCDE para avaliar manchas de pele estranhas é o primeiro passo para a detecção precoce da doença. O diagnóstico é feito com a biópsia das lesões suspeitas removidas cirurgicamente. Muitas vezes a remoção cirúrgica já é o tratamento, em outras é necessário ampliar as margens da lesão. Usar protetor solar é primordial. Na dúvida procure seu médico.

Se ficou com dúvidas, comente aqui ou nas redes sociais.

Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © simarik de Getty Images Signature via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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