Insuficiência Venosa Crônica – para além das VARIZES

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

As varizes são muito comuns, principalmente nas mulheres. Elas são causadas por defeitos nas válvulas existentes nas veias, principalmente das pernas. Além da questão estética, as varizes podem doer, inchar e favorecer o aparecimento de feridas. Este artigo apresenta detalhes de como as varizes se formam, como é feito o diagnóstico e tratamento, além do que pode ser feito para tentar evitá-las.

Boa leitura. 

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Vídeo: VARIZES: por que as tenho e COMO RESOLVER

VARIZES: por que as tenho e COMO RESOLVER

O que são as varizes e como se formam?

Sistema circulatório sanguíneo

Para entender o que são as varizes é importante entender antes como o sangue circula pelo corpo. O sangue sai do coração por uma artéria, a aorta, que se ramifica em várias outras artérias levando oxigênio e nutrientes para todos os órgãos. As artérias mais próximas do coração são bem grossas e vão ficando cada vez mais finas ao chegar nos órgãos, incluindo as pernas e os dedos dos pés e das mãos. O sangue então retorna pelas veias, trazendo o gas carbônico e produtos desnecessários para as células e que serão reciclados no fígado e eventualmente eliminados pelos rins.

É fácil perceber que para o sangue chegar até os pés, a gravidade tem um papel primordial. Porém, essa mesma força que ajuda o sangue a descer, dificulta o retorno do sangue para o coração.

Válvulas

Para facilitar esse processo, as veias possuem válvulas que impedem o refluxo do sangue. Ou seja, as válvulas abrem para o sangue subir e fecham, impedindo o retorno do sangue. Quando essas válvulas deixam de funcionar adequadamente, formam-se as varizes. As varizes são veias com defeitos nas válvulas e consequentemente com mais sangue do que conseguem suportar. Os vasos podem se tornar dilatados e tortuosos. O excesso de sangue dentro desses vasos pode deixar as veias aparentes e causar dor e inchaço das pernas. Em casos mais graves, feridas podem aparecer nas pernas.

Bomba venosa

Além das válvulas, os músculos dos pés e da panturrilha ajudam a empurrar o sangue dos pés e pernas para o coração. Quando caminhamos o sangue presente nos pés é “espremido” e empurrado para cima. As panturrilhas ajudam a complementar esse processo, bombeando o sangue sempre que são contraídas durante caminhadas ou outro tipo de atividade física envolvendo as pernas.

As varizes podem aparecer em qualquer lugar do corpo, mas são mais comuns nas pernas justamente por ser onde a gravidade exerce sua maior influência.

Quando as varizes apresentam sintomas por muitos meses ou anos, a doença recebe o nome de insuficiência venosa crônica.

Sintomas da insuficiência venosa

Os principais sintomas da insuficiência venosa crônica são:

  • Presença de varizes nas pernas. Varizes profundas podem não ser visualizadas, mas as mais superficiais tornam-se evidentes;
  • Sensação de peso ou cansaço nas pernas principalmente no final do dia;
  • Dor nas pernas;
  • Sangramento das varizes;
  • Inchaço de toda a perna e/ou dos tornozelos no final do dia;
  • Alterações de cor da pele. Na doença mais avançada a pele pode ficar avermelhada ou acastanhada;
  • Presença de feridas (úlceras venosas). Estas feridas podem infeccionar e serem bem doloridas.

Normalmente os sintomas melhoram ao deitar e pioram no final do dia, devido a ação da gravidade. Além disso os sintomas podem existir em apenas uma das pernas ou em ambas, além de poderem ter intensidades diferentes em cada perna.

Como é feito o diagnóstico?

Um bom médico de família, generalista ou cirurgião vascular é capaz de fazer o diagnóstico apenas baseado na história e nos achados do exame físico das pernas.

Quando existe dúvida sobre o diagnóstico ou para ajudar a classificar a gravidade da doença e propor um tratamento mais agressivo, o médico pode solicitar um exame de ultrassom venoso com doppler (ou duplex). O doppler é a parte do exame que permite visualizar o sentido do fluxo sanguíneo, podendo demonstrar refluxos e a incompetência das válvulas venosas.

Níveis de gravidade

Os médicos costumam classificar o grau das varizes, de forma a padronizar e indicar o tratamento adequado.

A forma mais comum de se classificar as varizes são com um sistema conhecido por CEAP, que é a sigla para Clinical-Etiology-Anatomy-Pathophysiology. Em português, numa tradução literal, seria: Clínica-Etiologia-Anatomia-Patofisiologia. O componente mais importante para você entender é a Clínica. Os demais são detalhes que dependem normalmente de exames para serem classificados e muitas vezes servem apenas para estudos científicos.

O componente Clínica do CEAP é dividido em 6 categorias principais:

  • C0: Sem sinais visíveis ou palpáveis de varizes;
  • C1: Presença de varizes bem finais (telangiectasias ou veias reticulares);
  • C2: Varizes de calibre médio e mais visíveis (varicoses);
  • C3: Presença de inchaço (edema) na perna;
  • C4: Alterações na pele, com escurecimento ou mudança da cor da pele próxima às varizes;
  • C5: Sinais de úlceras ou feridas curadas e cicatrizadas;
  • C6: Presença de feridas (úlceras) ativas.

Como tratar a insuficiência venosa crônica?

No caso de varizes que não apresentam sintomas, sendo o que incomoda é apenas a questão estética, os tratamentos mais comuns são a escleroterapia e a terapia superficial à laser.

Na escleroterapia, um produto químico é injetado nas veias causando sua obstrução total. Normalmente são feitas apenas para veias de até 6 mm de diâmetro. A escleroterapia pode ser utilizada para o caso de varizes que sangram facilmente.

Já a terapia à laser utiliza a luz para destruir os vasos aparentes e com válvulas incompetentes.

Ambos os tratamentos têm aplicação mais estética e não garantem o reaparecimento das varizes. Por isso normalmente não são cobertos por planos de saúde. 

Quando a doença apresenta sintomas (CEAP C3 ou superior) alguns tratamentos podem ser propostos pelo médico:

  • Hidratação da pele. O uso diário de hidratante, especialmente após o banho, ajuda a manter a pele saudável, evitando alterações de cor e formação de feridas. 
  • Elevação das pernas. Quando a presença de dor ou inchaço, as pernas devem ser elevadas por pelo menos 20 minutos e numa altura mais alta do que o coração, usando 2 ou mais travesseiros embaixo das pernas e pés.
  • Atividade física regular. Caminhadas, ciclismo ou qualquer outro exercício que comprima as panturrilhas são indicados, desde que realizados de forma regular e não causem dor ou desconforto. 
  • Meias de compressão. As meias de compressão são um dos principais tratamentos utilizados e mesmo pacientes graves (CEAP C6) podem se beneficiar de seu uso.
  • Medicamentos. Quando as meias de compressão não puderem ser utilizadas, o médico pode indicar o uso de alguns medicamentos. Os mais comuns são os flebotônicos. Consulte seu médico para saber se você pode e deve usá-los, bem como a dose recomendada.
  • Cirurgia de ablação. Existem diversas técnicas utilizadas, todas objetivando obstruir o fluxo de sangue na veia doente. Isto é feito para reduzir o inchaço e os sintomas. O aspecto, principalmente de vasos muito grandes e tortuosos também melhoram. Só são indicados para doenças avançadas (CEAP 4 ou maior). São realizadas por um cirurgião vascular.

*Na presença de feridas nas pernas, um médico deve ser consultado. Isto é necessário para que uma avaliação adequada seja realizada, avaliando a necessidade de uso de antibióticos, debridação da ferida (remoção de restos da ferida) ou outro tratamento de forma e evitar a cronificação e a piora dos sintomas. Enfermeiras são especialistas em cuidados com feridas e também podem auxiliar.

Como usar as meias de compressão

Procure um médico para ter uma indicação adequada. Se você tiver insuficiência arterial periférica juntamente com a insuficiência venosa, não deve usar as meias de compressão.

O indicado são meias ¾ de compressão entre 20 e 30mmHg, mas o médico pode indicar compressões diferentes conforme o seu caso. A medida da circunferência da panturrilha e do tornozelo costuma fazer parte da receita médica.

Orientações:

  • Coloque as meias pela manhã.
  • Se recomendado pelo médico, proteja feridas ulceradas com gaze antes de colocar a meia.
  • Sente-se em uma cadeira com as costas bem apoiadas para facilitar.
  • Se tiver dificuldade em vestir a meia, eleve os membros por 20 a 30 minutos antes de tentar novamente.
  • O uso de uma meia de seda leve por baixo pode ajudar a vestir a meia compressiva.
  • Tire a meia a noite e lave-as se possível.
  • Hidrate bem a pele das pernas e pés.

Tem como evitar a formação das varizes?

Existem diversos fatores de risco para a formação de varizes, sendo os principais:

  • Avanço da idade;
  • Mulheres;
  • Histórico familiar de varizes;
  • Ficar muito tempo em pé;
  • Obesidade;
  • Gravidez;
  • Tabagismo;
  • Acidentes ou cirurgias envolvendo as pernas.

Parar de envelhecer e mudar a genética ainda não é possível. Sendo assim, as melhores opções para tentar evitar as varizes são:

Salto alto causa varizes?

Apesar de muitas pessoas considerarem que o salto alto possa levar à formação de varizes, isso não tem comprovação científica. Parece que o uso de saltos mais baixos pode diminuir a pressão da panturrilha, podendo melhorar os sintomas. Já saltos muito elevados podem talvez piorar os sintomas

Apesar de não existirem estudos conclusivos sobre o tema, o fato é que o uso de saltos por tempo prolongado pode trazer dores e inchaço nos pés e pernas, mas não tem necessariamente influência nas varizes. 

De qualquer forma, o uso de salto alto não é recomendado como tratamento de varizes existentes e muito menos para evitá-las. 

Conclusão

A insuficiência venosa crônica é uma doença muito comum. A doença se deve à falha nas válvulas que impedem o refluxo de sangue nas veias. Os sintomas mais comuns são a presença de varizes, dor, inchaço, sensação de peso nas pernas, alterações de cor e feridas nos casos mais graves. O diagnóstico é feito por um médico habilitado apenas baseado na história e no exame das pernas no consultório. O tratamento consiste principalmente no uso de meias compressivas, podendo ser auxiliado com medicamentos e com cirurgias nos casos mais graves. 

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Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © Azat_ajphotos de Getty Images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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