Lombalgia – Quando as costas doem

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 1 mês

Lombalgia, dor lombar ou simplesmente dor nas costas é um problema que praticamente todas as pessoas terão pelo menos um episódio em algum momento de sua vida. Na maioria das vezes a dor é de baixa intensidade e some em poucos dias sem deixar sequelas. Porém, algumas vezes pode indicar uma condição mais séria. E quando persiste por vários meses pode se tornar um desafio para se ver livre dela. Este artigo apresenta os principais sintomas da dor nas costas e indica quando é necessário procurar ajuda médica. O tratamento e algumas dicas de como evitá-la também são apresentados.

Boa leitura.


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Vídeo: DOR NAS COSTAS: O que fazer para melhorar de acordo com a ciência

DOR NAS COSTAS: É grave? Devo procurar ajuda?

Introdução

Talvez a queixa mais comum em qualquer consultório médico seja a dor nas costas, especialmente na região lombar, aquela região localizada logo acima do quadril e que usamos para apoiar as costas em almofadas.

Na maioria das vezes a dor lombar é passageira e dura alguns dias ou semanas, desaparecendo da mesma forma que veio. Quando ela dura mais do que 3 meses, os médicos a classificam de dor lombar crônica. Raramente a dor lombar é uma condição médica de urgência.

Quando a dor iniciar na lombar e irradia para uma ou ambas as pernas atingindo a região abaixo dos joelhos e chegando até os pés, ela é chamada de ciática. Este nome é dado devido ao nervo ciático. Este nervo parte da região lombar e enerva a região das pernas e dos pés e, que, quando comprimido na região lombar, causa a dor que inicia nas costas e irradia (corre) até o pé.

Pessoas obesas, sedentárias e idosas têm mais chances de ter lombalgia.

Quais as causas da lombalgia?

A esmagadora maioria das dores lombares (cerca de 85%) são dores nos músculos da região das costas sem uma causa específica. Acredita-se que isso possa ser devido ao famoso “mau jeito”. Pessoas sedentárias acabam tendo uma musculatura mais enfraquecida de toda a região lombar. Movimentos mais intensos ou repetitivos, ou ainda o levantamento de algum peso maior do que o usual pode acabar sobrecarregando a musculatura e causando a dor

Outras causas menos comuns, mas não tão raras, incluem:

  • Osteoartrite (artrose): Um processo inflamatório crônico que atinge as articulações. É mais comum nos joelhos, mas em alguns casos pode afetar as costas. A dor piora ao se movimentar e melhora com o repouso,
  • Fratura de vertebra: Em caso de traumas, quedas, acidentes, uma vertebra pode quebrar ou trincar, o que leva a dor.
  • Hérnia de disco (radiculopatia): A coluna é formada por vários ossos empilhados (as vértebras). Entre as vértebras existe um disco de cartilagem que absorve os impactos. Além disso, um par de nervos sai de cada espaço entre as vértebras. Se um disco de cartilagem se rompe (normalmente por causa de algum desgaste natural ou por excesso de peso, má postura, genética), parte da cartilagem pode extravasar e comprimir algum nervo. É comum sentir formigamento na região da perna e pés, além de perda de força e dificuldade para caminhar. Quando afeta o nervo ciático pode ser chamada de dor ciática.
  • Espondilolistese: Nesta doença as vertebras ficam desalinhadas e além da dor nas costas ocorre a sensação de formigamento e perda de força dos pés e pernas.
  • Escoliose grave: Escoliose é quando a parte da coluna lombar é muito mais curvado do que o usual. A dor é mais comum ao se movimentar.
  • Cifose grave: A cifose é quando a coluna na parte torácica fica muito curvada. Não é incomum de se ver em pessoas idosas que caminham arcadas neste caso. A dor é mais comum ao se movimentar.
  • Depressão: Doenças psiquiátricas, principalmente a depressão podem levar à dores lombares. Algumas vezes não há uma causa específica.
  • Pancreatite: Uma inflamação no pâncreas pode levar a dor nas costas. Costuma ser uma dor que afeta a faixa superior do abdome. Enjoos e vômitos costumam estar presentes. 
  • Nefrolitiase (pedra nos rins): A dor da nefrolitiase costuma ser mais superior, à lombar próximo das costelas. Costuma ser uma dor muito intensa e sem posição que deixe a pessoal confortável e sem dor. Na maioria das vezes afeta apenas o lado das costas em que se encontram as pedras.
  • Aneurisma de aorta: O aneurisma é quando uma parte do vaso sanguíneo sofre uma dilatação, normalmente por um enfraquecimento da parede do vaso. Na região da aorta isso pode levar à dor nas costas. Normalmente só causa sintomas quando muito grande.
  • Herpes Zoster: O herpes zoster é causado pela reativação do vírus da catapora. A doença é caracterizada por pequenas bolinhas cheias de um líquido transparente. Atingem somente um lado das costas e podem desencadear uma dor muito intensa.
  • Prostatite: uma inflamação na próstata pode causar dor nas costas.
  • Endometriose: A endometriose é uma doença em que os tecidos da região do interior do útero, responsáveis pela menstruação, acabam escapando do útero e entrando na região dos ovários ou do interior do abdome. A dor nas costas causada pela endometriose é mais comum durante o período menstrual.
  • Doença inflamatória pélvica (DIP): é uma doença em que ocorre uma infecção na região da pelve da mulher, usualmente por um conjunto de bactérias que entram na pelve a partir da região vaginal. É comum vir associada com febre e corrimento vagina. 

Causas mais graves e raras incluem:

  • Osteomielite vertebral: A osteomielite é uma infecção do osso. É uma condição rara e normalmente associada a infecções de pele mais graves após cirurgias ou ainda em pacientes que ficam acamados por muito tempo, levando a formação de feridas muito graves na região das costas.
  • Abcesso na região da coluna: O abcesso, furúnculo ou licenço é uma coleção de pús em alguma região do corpo. É rara de existir na região da coluna e pode estar associada a outras doenças de baixa imunidade como HIV sem tratamento.
  • Cancer metastático: Quando um cancer se espalha para outro lugar do corpo ele recebe o nome de metástase. Se o cancer metastático se fixar na região da coluna, pode levar a dores nas costas.

Como é feito o diagnóstico da causa da dor lombar?

Se você leu todo o artigo até aqui, em especial o subtítulo anterior, deve ter percebido que cada tipo de doença tem uma particularidade, seja associada à outra condição, em um local específico, ou com piora ou melhora com movimentos por exemplo. Por isso, uma boa conversa com o médico, com o médico explorando os sintomas, seu início, duração, fatores de melhora ou piora, doenças associadas, medicações em uso, entre outros, costumam ser suficientes para determinar a causa da dor lombar.

O exame físico, com a palpação, movimentação do corpo, verificação de força e sensibilidade ajudam a confirmar o diagnóstico.

Quando em dúvida, o médico pode solicitar exames para determinar ou confirmar a causa da dor.

Os exames costumam ser pedidos apenas em situações em que a dor tem mais do que 4 semanas de duração ou quando algum sinal de gravidade estiver presente. A radiografia, tomografia computadorizada e a ressonância magnética costumam ser os principais. O ultrassom abdominal também pode ser utilizado para confirmar ou descartar outras causas. Exames de sangue para comprovar ou descartar infecções também podem ser eventualmente solicitados pelo médico. Mas somente são pedidos de forma direcionada pela história e pelo exame físico. Leia o texto sobre iatrogenia para saber o motivo de não serem pedidos exames desnecessários.

Como tratar a dor lombar?

Dores agudas

Nas dores agudas (menos do que 4 semanas de início ou piora) e inespecíficas o tratamento de escolha costuma ser feito com o uso de anti-inflamatórios por um tempo curto, desde que não haja contraindicações.

Relaxantes musculares também podem ser indicados pelo seu médico.

O uso de analgésicos simples como paracetamol não parece trazer melhoras, mas, podem ser tentados se indicados pelo médico.

Se a dor não melhorar o médico pode prescrever outras medicações como opióides, antidepressivos, entre outros.

Outros tratamentos:

  • Calor local: o uso de compressas quentes pode ajudar a aliviar a dor.
  • Acupuntura: as evidências são controversas, mas é uma alternativa que pode ser tentada.
  • Tratamento da causa específica (remoção das pedras dos rins, antibióticos para causas infecciosas por bactérias, entre outras)

Nas dores lombares inespecíficas agudas a recomendação é que se mantenham as atividades usuais. O ideal é evitar atividades físicas de alta intensidade até a melhora das dores, mas o repouso não é indicado.

Dores crônicas

Quem tem lombalgia crônica – aquela presente por mais de 1 ou 3 meses, de origem inespecífica ou causada por artrose, se beneficia com a realização de atividade física regular, alongamento, além de fisioterapia para casos selecionados.

Não há uma atividade física específica, e a melhor é aquela que você goste e faça. Leia o artigo sobre exercício físico para mais informações sobre como fazer.

Como evitar dores nas costas?

A atividade física regular é a principal recomendação. Caminhada, alongamento, pilates, yoga e Tai Chi Chuan podem e devem ser experimentados.

Corrigir vícios de postura também pode ajudar. O principal deles é o de evitar dobrar a região do quadril ao se abaixar, dando preferência para dobrar os joelhos ao levantar ou colocar objetos no chão, fazendo força nas coxas. Pode ser difícil no início, pois pode causar um certo desiquilíbrio, mas com a rotina fica mais fácil.

O colchão influencia na dor nas costas?

É comum ouvir de alguns pacientes: “Ah, vou comprar um colchão ortopédico. Deve ser o meu colchão velho o problema das minhas dores”.

Não temos muitos estudos a respeito, mas duas pesquisas mostraram que os colchões de firmeza média são melhores do que os mais duros em relação à melhora da dor nas costas. Os estudos foram feitos baseados na escala europeia de firmeza de colchões e não há uma correlação direta com o padrão brasileiro de densidade. Os tais colchões ortopédicos não seguem normas padronizadas no Brasil, mas pela definição são colchões mais firmes que prometem se adaptar melhor ao seu corpo, mantendo a coluna alinhada. Eles são normalmente produzidos com uma chapa de madeira em seu interior.

Na falta de estudos e padronizações, escolha o colchão que mais lhe agrada, ficando ciente de que há indícios de que os mais duros tendem a ser piores para as dores nas costas.

Quando procurar o médico?

Para as dores leves, de início recente e sem nenhum outro sintoma associado, normalmente não há necessidade de ir ao médico.

Procure ajuda em caso de:

  • Dor iniciada após quedas ou acidentes.
  • Associada a perda de peso inexplicada.
  • Uso crônico de corticoides (prednisona, prednisolona, entre outros).
  • Presença de alterações na pele, como manchas escuras, feridas, bolhas.
  • Associada a perda de força, alterações da sensibilidade ou formigamento.
  • Dificuldade em segurar a urina.
  • Presença de febre ou outra doença.
  • Com diagnóstico, investigação ou tratamento de cancer em qualquer parte do corpo.
  • Em caso de osteoporose.
  • Dor severa que o impede de realizar as atividades diárias.
  • Dor que não melhora após 4 semanas do início.

Médicos de família, clínicos gerais e ortopedistas estão habilitados para fazer o diagnóstico e o tratamento.

Conclusão

A dor nas costas é muito comum e praticamente todas as pessoas vão ter pelo menos um episódio na vida. A dor leve sem associação com nenhum outro sintoma ou doença, normalmente não precisa de nenhum tratamento ou atenção. De qualquer forma o importante é manter suas atividades, evitando o repouso.

Se a dor não melhorar em um mês, for incapacitante ou ainda tenha outras doenças ou sintomas associados, um médico deve ser consultado.

O diagnóstico na maioria das vezes não requer nenhum exame. Para as dores crônicas e de forma a evitar a recorrência, exercícios físicos são indicados.

Espero que tenha gostado do artigo.

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*Imagem que ilustra este artigo: © Africa images via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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