Meu filho vive doente. O que eu faço?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 28 dias

Uma queixa recorrente no consultório é a dos pais que trazem os filhos devido a estarem sempre doentes. Desde que iniciaram a vida escolar vão duas semanas para a creche ou escola e faltam outras duas por alguma gripe ou diarreia. As mães sempre dizem que o problema é que o filho tem baixa imunidade. Será? Até que ponto isso é normal e quando deve-se preocupar? É o que tento responder neste texto.

*Prefere assistir? O conteúdo desse artigo também está disponível no vídeo abaixo:

Vídeo: Meu filho VIVE DOENTE. O que eu faço?

Meu filho VIVE DOENTE. Será algo grave? O que eu faço?

Causas comuns de doenças em crianças

Nas crianças as doenças mais comuns são de longe as infecções respiratórias causadas por vírus e bactérias (gripes, resfriados, sinusites, bronquites, infecções de garganta). Outras doenças prevalentes incluem diarreias (virais, bacterianas, parasitoses), caxumba, rubéola, sarampo, alergias e asma.

Ter várias infecções respiratórias por ano parece ser normal até certo ponto

  • Na infância (0 a 2 anos): até 11 infecções respiratórias por ano;
  • Na idade pré-escolar (3 a 5 anos): até 8 infecções respiratórias por ano;
  • Na idade escolar (6 a 12 anos): até 4 infecções respiratórias por ano.

Sabendo que o resfriado comum pode levar até 15 dias para se resolver e que ter praticamente uma infecção respiratória por ano não significa um problema grave de saúde, uma criança antes dos 3 anos de idade pode ficar metade de um ano doente e mesmo assim não ter qualquer problema com seu sistema imunológico!

Ter mais infecções do que isso não necessariamente significa que há algum problema sério de imunidade.

Meu filho fica doente pois tem a imunidade baixa

A tal imunidade baixa parece ser um conceito utilizado principalmente pelos pais para tentar explicar o aparecimento de uma doença infecciosa. Levado o conceito ao pé da letra, uma baixa imunidade significaria que o sistema imunológico (as células ou “soldadinhos” de defesa) está com problemas e por isso a criança ficaria mais susceptível a ter infecções.

O acometimento por qualquer doença não quer dizer que a imunidade esteja baixa, mas a falta de cura dessa doença num período razoável é que pode sim indicar uma baixa imunidade. A maioria das doenças infecciosas são causadas por vírus e bactérias (a maioria por vírus) e é o próprio organismo quem dá conta de curá-las. Normalmente as infecções virais duram de 7 a 15 dias, independente do que se fizer (ir ao médico, na benzedeira, tomar remédios ou chás ou não fazer nada). As medicações servem principalmente para aliviar os sintomas ou reduzir a gravidade da doença e eventualmente encurtar seu ciclo natural (como no caso dos antibióticos e alguns antivirais). A ida ao médico se dá também para avaliar sinais e sintomas de possível doença grave, além de questões burocráticas como atestados e afastamentos. 

Sinais de que é preciso investigar mais a fundo

Mas e em casos de inúmeras infecções numa criança, quando deve-se preocupar? Quando investigar causas de problema no sistema imunológico, a tal imunidade baixa? Em 1987, após a morte do menino Jeffrey Modell devido às complicações de uma doença genética que afeta o sistema imunológico, seus pais criaram a Jeffrey Modell Foundation, uma organização sem fins lucrativos criada para pesquisar causas e tratamentos para imunodeficiências infantis. As pesquisas da fundação levaram a criação de uma lista com 10 sinais de alarme para as imunodeficiências primárias.

Os sinais, adaptados para a realidade brasileira pela Associação Brasileira de Imunodeficiência, são:

  1. Duas ou mais pneumonias no último ano.
  2. Quatro ou mais novas infecções de ouvido no último ano.
  3. Estomatites (feridas na boca) de repetição ou monilíase (sapinho) por mais de dois meses.
  4. Abscessos (furúnculos) de repetição ou ectima (infecção de pele com o aparecimento de feridas com saída de pús).
  5. Um episódio de infecção sistêmica grave como meningite, osteoartrite (infecção no osso) ou septicemia (infecção no sangue).
  6. Infecções intestinais de repetição / diarreia crônica (que persiste por meses).
  7. Asma grave, doença do colágeno ou doença autoimune.
  8. Efeito adverso ao BCG e / ou infecção por micobactéria.
  9. Aparência física ou comportamento (fenótipo) sugestivo de síndrome associada à imunodeficiência.
  10. História familiar de imunodeficiência.

O simples fato de seu filho preencher qualquer um dos critérios acima não significa que ele tenha uma doença grave. A lista serve principalmente para alertar os médicos para não deixar de pensar em doenças do sistema imunológico e investigar ou encaminhar para um especialista adequado em caso de suspeita de problemas no sistema de defesa do organismo. 

Recomendações

E como faço para garantir que meu filho se mantenha saudável? A saúde começa com um pré-natal bem feito, com a realização de exames de rastreio de doenças mais prevalentes e acompanhamento periódico da gestante. Após o nascimento, ter um médico de referência para o acompanhamento do seu filho parece ser uma medida apropriada. Pediatras e médicos de família são uma boa opção.

Consultas de rotina

Existem rotinas bem estabelecidas para consultas de rotina de crianças (puericultura), que consistem em entender a rotina e o desenvolvimento da criança, examiná-la completamente, além de pesar, medir o comprimento/altura e a circunferência da cabeça. Estas medidas, aliadas à diversos marcos de desenvolvimento, fornecem informações valiosas para garantir a saúde de seu filho.

A periodicidade das consultas de rotina em crianças, recomendada pelo Ministério da Saúde são:

  • Na primeira semana.
  • 1 mês.
  • 2 meses.
  • 4 meses.
  • 6 meses.
  • 9 meses.
  • 1 ano.
  • 18 meses.
  • Consultas anuais a partir dos 2 anos de vida próximas ao mês do aniversário.

Crianças que precisem de maior atenção devem ser vistas com maior frequência.

Amamentação e alimentação

Amamentação exclusiva até os 6 meses de idade, seguido de uma dieta equilibrada, evitando doces e guloseimas e priorizando frutas, verduras e alimentos in natura são essenciais pois fornecem os nutrientes necessários para manter o corpo em funcionamento perfeito, incluindo a fabricação de células de defesa, e assim facilitando a cura de eventuais doenças que venham a aparecer.

A Rita Lobo criou o projeto Comida de bebê, que têm 40 vídeos curtos ensinando como preparar refeições nutritivas e saudáveis para crianças. O projeto foi realizado em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP e segue o preconizado pelo Ministério da Saúde.

E para te ajudar ainda mais com a alimentação saudável leia meu artigo com orientações sobre como fazer a introdução alimentar do bebê.

Vacinas

Está mais do que comprovado de que as vacinas salvam vidas. Elas garantem um sistema imunológico saudável pois criam anticorpos contra organismos nocivos à saúde. Uma forma de se conseguir anticorpos é pegar doenças, porém as consequências podem ser graves, inclusive fatais. A outra forma, mais saudável, é se vacinar.

A primeira vacina que todos tomam ainda na maternidade é contra a hepatite B. A segunda vacina é a BCG (Bacilo Calmette–Guérin), que protege contra formas graves da tuberculose e é a que normalmente deixa uma cicatriz no local da aplicação no braço direito. Em alguns estados brasileiros ela é aplicada ainda na maternidade. Em outros, a vacina é aplicada nos postos de saúde ou na rede particular e deve ser aplicada nos primeiros dias de vida.

Além dessas, existem inúmeras outras que devem ser aplicadas: Rotavírus, Tríplice bacteriana (Difteria, Tétano, Coqueluche), Haemophilus influenzae b, Poliomielite (VIP e VOP), Pneumocócicas, Meningocócicas, Influenza, Febre Amarela, Hepatite A, Tríplice viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola), Varicela (Catapora), HPV, Dengue e Covid-19.

Algumas vacinas são de dose única, mas a maioria precisa de duas ou mais doses para uma melhor resposta do sistema imunológico. Procure um posto de saúde ou consulte o calendário de vacinas para crianças disponível na Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A recomendação é a de levar seu bebê uma vez por mês em uma unidade de saúde até os 6 meses de vida e depois, de 3 em 3 meses até os 2 anos de vida. Assim se garante que não seja perdida nenhuma dose das vacinas recomendadas.

As consultas regulares com o pediatra ou médico de família também é a oportunidade para verificar se as vacinas estão em dia. 

Conclusão

As doenças respiratórias causadas por vírus e bactérias são de longe as mais comuns nas crianças. Ter várias gripes por ano não significa que haja algum problema com o sistema imunológico. Estimular hábitos saudáveis, vacinas de acordo com o calendário, além de acompanhamento médico regular podem favorecer a manter a saúde em dia. Em caso de dúvidas, procure seu médico.

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Um forte abraço.


*Imagem que ilustra este artigo: © skynesher de Getty Images Signature via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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