Dores articulares podem afetar qualquer pessoa especialmente depois dos 40 anos de idade. Uma das articulações normalmente afetada é o joelho tendo como a principal causa a artrose. A artrose ou osteoartrite é um tipo de inflamação na articulação que causa dor, principalmente para se levantar ou caminhar. Pode apresentar ainda inchaço e estalos ao se movimentar. Pode ser incapacitante, impedindo a pessoa de fazer suas atividades do dia a dia e até dificultando ficar em pé.
Este artigo descreve o que é a artrose, seus principais sintomas, como é feito o diagnóstico, exames e tratamentos.
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Vídeo: ARTROSE (OSTEOARTRITE): Como curar?
O que é a artrose?
Antigamente acreditava-se que a artrose era uma doença degenerativa causada pelo desgaste da articulação devido ao seu uso com o passar da idade. Atualmente se entende que é uma doença bem mais complexa e que tem o processo inflamatório como uma de suas características mais comuns. O nome mais adequado da doença é osteoartrite, sendo que o sufixo “-ite” significa inflamação, e, portanto, osteoartrite significa literalmente inflamação óssea.
Para entender a doença, precisamos primeiro conhecer como funcionam as articulações do corpo.
As articulações servem para unir dois ossos e permitir a realização de movimentos. Elas são compostas basicamente por cartilagens, tendões musculares e líquido sinovial dentro de pequenas bolsas, as bursas.
As cartilagens são formadas essencialmente por proteínas, principalmente do tipo colágeno e servem para amortecer os impactos e evitar o choque direto de um osso contra outro.
Os tendões são a parte final dos músculos, a parte do músculo que se prende ao osso. Eles são os responsáveis pela estabilidade da articulação e por permitir o movimento. Muitas vezes as pessoas chamam essa estrutura de “nervo”, o que não é muito adequado pois os nervos são estruturas normalmente não visíveis a olho nú e que servem para transportar os sinais elétricos do cérebro aos músculos. Uma inflamação no tendão é chamada de tendinite.
O líquido sinovial é uma espécie de lubrificante que é encontrado dentro de pequenos bolsas dentro das articulações, as bursas. Serve para evitar atritos entre os ossos e tendões. Quando ocorre uma inflamação dentro dessas bolsas, as vezes os médicos chamam isso de bursite. Quando a bolsa se rompe pode ocorrer um derrame articular.
Na doença osteoartrite ocorre um processo inflamatório que acomete todas estas estruturas, podendo levar a derrame articular, espessamento e calcificação dos tendões, destruição de parte dos ossos articulares. Esse processo todo acarreta dores, inchaço, rigidez e calor no local da articulação afetada.
As principais articulações afetadas são as presentes nos: joelhos, mãos, quadril e coluna. Mas qualquer articulação pode ser acometida, inclusive os ombros. Algumas pessoas podem ter múltiplas articulações doentes ao mesmo tempo.
Quais os fatores de risco para o desenvolvimento da artrose?
É mais comum em mulheres do que em homens e com aumento da prevalência com o aumento da idade. É menos comum encontrar a doença em indivíduos com menos de 40 anos e raramente se manifesta antes dos 25.
A OMS estima que cerca de 10% dos homens e 18% das mulheres em todo o mundo tenham pelo menos uma articulação afetada pela doença em indivíduos com mais de 60 anos.
Parece que a herança genética tem algum fator de influência, mas até o momento não se sabe exatamente que genes estão envolvidos e nem como isso ocorre.
O excesso de peso tem um papel importante na osteoartrite, principalmente em articulações de joelho e quadril. Todavia, hoje entende-se que a obesidade tem um caráter inflamatório importante e isto pode ajudar a contribuir para o aparecimento da artrose em outras articulações como das mãos por exemplo. Além disso, a obesidade influencia na gravidade da doença. Quanto maior o peso, pior pode ser a doença.
Outros fatores de risco:
- Traumas articulares (quedas, fraturas, machucados prévios) podem predispor à doença.
- Profissionais que sobrecarregam as articulações (construção civil, agricultura ou qualquer um que tenha que movimentar ou carregar peso em excesso) podem ser mais afetados.
- Alimentos com excesso de gordura parecem predispor a processos inflamatórios.
- A vitamina D, responsável pela regulação do cálcio, pode ter algum papel na doença, mas ainda não é bem compreendida.
- A deficiência de vitamina K parece ter algum grau de influência na osteoartrite, principalmente devido ao seu papel de mineralização de cartilagens e ossos.
Como sei se tenho a doença?
Os principais sintomas da osteoartrite são:
- Dores nas articulações ao movimentá-las ou sobrecarregá-las (dor nos joelhos ao ficar de pé ou caminhar por exemplo, ou nas mãos ao pegar objetos).
- Rigidez principalmente pela manhã. Ao acordar pode levar alguns minutos até que a articulação se aqueça e fique lubrificada antes de permitir sua movimentação sem dificuldades.
- Dificuldade para se locomover. Principalmente devido à dor, ou na doença avançada, pela perda de função devido a destruição da articulação.
Os sintomas estão presentes normalmente em uma única ou poucas articulações, afetando apenas um lado do corpo, porém podem estar presentes dos dois lados com o passar do tempo, mas normalmente começam em um lado específico.
Um bom clínico geral, médico de família ou ortopedista está apto para fazer o diagnóstico e propor o tratamento.
O diagnóstico é feito basicamente com uma consulta médica e avaliação da articulação. O médico irá avaliar a história do aparecimento das dores, os aspectos de vida envolvidos (profissão, atividade física, sobrepeso, fatores de risco), bem como irá examinar as articulações, palpando e movimentando para avaliar estabilidade, dores, sinais de inflamação entre outros.
Exames de sangue ou de imagem normalmente não são necessários, sendo reservados para casos que não sejam típicos (início muito jovem, envolvimento de múltiplas articulações de uma só vez, perda de grande quantia de peso logo após a doença, entre outros) ou quando o médico tem dúvidas sobre o diagnóstico.
Um diagnóstico diferencial importante é com artrite, que é uma doença reumatológica e completamente diferente da osteoartrite. Na artrite são normalmente necessários exames de sangue para sua avaliação.
Radiografias tem pouca utilidade e a ressonância magnética tem menor sensibilidade do que a história clínica e o exame físico realizados pelo médico.
Alguns pacientes querem porque querem uma ressonância magnética. Acreditam que ali poderá estar a cura do seu problema. Mesmo em artroses mais graves, a ressonância magnética pode vir completamente normal e não ter nenhum valor para o diagnóstico ou tratamento, sendo reservada para casos específicos.
Como tratar a artrose do joelho?
Apesar dos tratamentos aqui descritos serem usados para qualquer articulação, eles têm maiores estudos e evidências em osteoartrite de joelhos, que são justamente as mais afetadas.
O tratamento consiste em medidas que possam reduzir os fatores de risco, bem como medicamentos, atividade física e eventualmente cirurgias para casos de maior gravidade.
Os objetivos do tratamento são amenizar a dor, reduzir a progressão da doença e melhorar a funcionalidade.
Antes de qualquer medida, o entendimento da doença é crucial. Por isso esse artigo.
Medidas não medicamentosas
Independente do grau da dor, articulações afetadas, idade, nível funcional ou outras doenças associadas, a principal medida não medicamentosa, base do tratamento, é a atividade física regular.
Até o momento não há um consenso sobre qual a melhor modalidade de exercício, duração, intensidade e frequência. Por isso o melhor exercício é aquele que você mais se adapte, goste e realmente pratique regularmente.
Os estudos com maiores evidências mostram que a prática de caminhada, bicicleta, remo e corrida na água são as melhores opções para reduzir a dor e evitar a progressão da artrose de joelhos. A hidroginástica ajuda, mas num grau bem menor.
Apesar de não existirem bons estudos, corrida ou salto devem ser evitados, especialmente em casos avançados. A ideia é que a sobrecarga articular dessas atividades pode piorar a doença.
A prática do Tai Chi Chuan (uma arte marcial chinesa), apesar de pouco comum no nosso país, parece trazer boas melhoras na evolução da doença.
A perda de peso tem um papel importante. Há sempre um número mágico nos estudos, que mostram que a perda de 10% do peso melhora em cerca de 50% os sintomas.
O uso de bengalas pode ajudar, principalmente em caso de desalinhamento de articulações, história de quedas, tonturas, dor moderada ou grave, ou ainda na resistência a outros tratamentos. A bengala deve ser usada na mão contrária ao joelho afetado. Se o joelho direito é o que dói, a bengala deve ir na mão esquerda, e vice-versa. Prefira bengalas que tenham ajuste de comprimento, pois permitem um uso mais duradouro e garantem mais conforto evitando dores em outras partes do corpo. Ela deve ser ajustada logo abaixo do osso do quadril, de forma que o cotovelo tenha uma leve flexão.
Medicamentos
Sendo uma doença inflamatória, os anti-inflamatórios são os medicamentos de escolha, principalmente na fase aguda da doença, aquela em que os sintomas estão mais evidentes.
Já escrevi em outro artigo dos riscos dos anti-inflamatórios, principalmente no uso de longa data (mais do que 2 semanas). Por isso, seu uso deve ser realizado pelo menor tempo possível, principalmente para ajudar e permitir a realização de atividades físicas (a base do tratamento).
Os anti-inflamatórios podem ser usados na forma de cremes ou pomadas aplicados diretamente na pele, tomados na forma de comprimidos, ou ainda serem injetados diretamente na articulação.
Apesar de fornecer um alívio quase imediato, a injeção intra-articular deve ser reservada para casos bem específicos. Pois, apesar de controverso, seu uso parece aumentar o risco de destruição da cartilagem hialina além de acelerar a progressão da doença. Seu efeito costuma não durar mais do que 4 semanas.
Outras medicações que podem ser utilizadas são a capsaicina tópica e alguns antidepressivos como a duloxetina. Seu médico saberá as indicações adequadas para esses casos.
Cirurgia
A cirurgia normalmente é indicada para casos em que a funcionalidade esteja muito comprometida ou o tratamento com atividade física e medicamentos não tenha surtido efeito.
Ela consiste na troca da articulação por uma prótese. É mais comum para o joelho e para o quadril (cabeça do fêmur). É chamada de artroplastia de joelho ou de quadril.
Existem inúmeros tipos de próteses, mas em geral elas têm duração de 10 a 15 anos, sendo então necessária a sua troca. Costumam permitir funcionalidade total, com pacientes fazendo caminhas e corridas mesmo com uso da prótese.
O ganho de funcionalidade depois da cirurgia pode ser lento, levando meses para se obter a funcionalidade completa. Os melhores resultados só são atingidos se realizado muita fisioterapia e acompanhamento adequados.
O maior risco da cirurgia é a infecção da prótese. Se isso acontecer, normalmente é necessária a realização de uma nova cirurgia, trocando a prótese por outra.
Outros tratamentos
Existem outros tratamentos que podem ser tentados, mas as evidências não são boas.
Entre eles pode-se citar: paracetamol, acupuntura, estimulação elétrica transcutânea do nervo, infiltração com ácido hialurônico, calor e frio local, condroprotetores, colágeno.
Conclusão
A osteoartrite é uma doença inflamatória comum na população, aumentando sua prevalência com a idade e afetando principalmente os joelhos. O diagnóstico é feito com uma consulta médica, normalmente não necessitando de exames adicionais. A base do tratamento consiste em atividade física regular e eventualmente medicamentos, principalmente os anti-inflamatórios. A perda de peso é primordial e o uso de bengalas pode ser benéfico para algumas pessoas. A cirurgia de troca da articulação é reservada para casos graves e que não melhoram com o tratamento base.
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Um forte abraço.
*Imagem que ilustra este artigo: © Filipovic018 de Getty Images Signature via canva.com.