Vacinas para adultos e idosos: Quais são e por que tomar? [2024]

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

Quando criança a gente costuma ter um acompanhamento regular com um pediatra ou médico de família. Isso favorece com que a gente tome todas as vacinas recomendadas. Mas os adultos e idosos acabam deixando de lado as vacinas, tomando apenas as disponibilizadas nas campanhas, em especial a da covid-19 e a da gripe. Mas você sabia que existem outras vacinas recomendadas para adultos e idosos e que podem te ajudar a evitar doenças? Além disso, você sabe o que são e como as vacinas funcionam? É o que apresento neste artigo.

*O objetivo desse texto não é te convencer a tomar vacinas. A ciência já mais do que comprovou de que vacinas são seguras e são um dos fatores responsáveis por nossa expectativa de vida aumentar muito nas últimas décadas. O objetivo é apresentar as recomendações de vacinas de acordo com o conhecimento científico atual.

O que são vacinas?

As vacinas são uma forma de ensinar nosso corpo a produzir mecanismos de defesa para combater doenças. Elas estimulam o corpo a produzir anticorpos, que são uma espécie de “soldados” que combatem os inimigos causadores das doenças (vírus e bactérias).

Nem toda doença tem vacina. Isso porque elas nem sempre são simples de se produzir. Em algumas doenças, como a AIDS, o vírus acaba se “escondendo” em algum lugar do corpo que os anticorpos não conseguem entrar. Em outras é porque os cientistas ainda não conseguiram desvendar o mecanismo completo de ação do vírus causador da doença.

Como os vírus e bactérias deixam você doente?

Nosso corpo possui soldados, digo, anticorpos especializados em cada tipo de vírus ou bactéria causadora de alguma doença. Para algumas doenças o corpo tem anticorpos específicos contra cada variação do vírus causador.

Um exemplo é o caso da Covid-19. Você deve ter ouvido que existem inúmeras mutações e inclusive vacinas diferentes para algumas cepas específicas, que são mais transmissíveis ou que tenham consequências mais graves.

Além desses anticorpos específicos e treinados para lutar contra uma variação de um vírus em particular, nosso corpo possui outros anticorpos “genéricos”. Esses lutam contra qualquer corpo estranho invasor. Porém esses genéricos não são tão “fortes” e muitas vezes demoram a entender que estão sendo atacados por alguns vírus.

Se você é infectado por algum vírus que seu corpo não conhece, os anticorpos genéricos entram em ação para tentar te defender. Eles demoram para responder e por isso você fica doente. Com o passar dos dias o corpo acaba conseguindo entender o vírus novo e cria anticorpos específicos contra eles. Quanto isso acontece, o anticorpo é replicado muitas e muitas vezes e acaba vencendo os vírus invasores. Dessa forma você fica curado. E de quebra ainda ganha anticorpos defensores específicos contra a doença que você teve. E assim você não fica mais doente se encontrar o mesmo vírus por aí. Legal, não?

Qual o problema de se infectar com vírus e bactérias?

As doenças infecciosas (causadas por vírus e bactérias) às vezes podem causar sintomas graves, deixando-o muito mal e fazendo você se tratar num hospital. No hospital, os medicamentos e cuidados são principalmente para cuidar dos sintomas, e não para eliminar o vírus. Para boa parte das infecções casados por bactérias existem os antibióticos, mas para os vírus não. Quem acaba eliminando o vírus é o seu próprio sistema de defesa. O tratamento no hospital é mais para ajudar o sistema imunológico a agir. 

Mas em algumas vezes a doença fica tão séria que a pessoa acaba tendo consequências mais sérias. Às vezes precisa de cuidados em uma Unidade de Terapia Intensiva, podendo até perder a vida. 

Para evitar tudo isso foram criadas as VACINAS!

Como as vacinas agem?

As vacinas são uma forma de você conquistar anticorpos contra um vírus ou bactéria específico sem precisar se infectar com ele. Existem vários tipos e várias técnicas utilizadas para isso, mas em suma, a maioria das vacinas contém uma pequena parte de um vírus ou então do vírus inativada ou morto. Dessa forma o vírus não causa doença.

Em contato com o vírus inativo, o corpo começa a produzir anticorpos contra o agente invasor. Estes anticorpos ficam de prontidão para agir e destruir o invasor em caso de um ataque, um contato com o vírus ou bactéria. Assim, o agente invasor tem dificuldades para se multiplicar, evitando a doença, ou permitindo que no máximo você tenha uma forma mais branda da infecção.

Algumas vacinas não conseguem produzir uma boa resposta na produção de anticorpos com uma única dose. É comum vacinas que precisam ser dados 2 ou 3 doses e o corpo mantém a proteção pelo resto da vida.

Para outras, a proteção não dura muito tempo. Esse é um dos motivos de que você precisa tomar vacina contra gripe todo ano (e provavelmente contra a covid-19). Outro problema é que alguns virus sofrem mutações muito rápidas e assim a vacina deixa de fazer seu efeito.

Qual a importância de se vacinar?

Além de evitar que você fique doente, as vacinas acabam dificultando que os vírus circulem, impedindo assim que pessoas não vacinadas tenham contato com os vírus. Dessa forma menos pessoas ficam doentes.

Outra questão é que com menos vírus circulando, menos mutações acontecem. E se o vírus não muda, as vacinas antigas continuam protegendo todo mundo.

Quais os efeitos colaterais?

Na maioria das vezes as vacinas não causam nenhum sintoma. Os efeitos colaterais mais comuns incluem:

  • Dor no local da aplicação.
  • Dor de cabeça ou dor no corpo.
  • Febre.
  • Inflamação ou reação alérgica no local da aplicação.

Estes efeitos costumam durar 1 ou 2 dias e somem sem deixar sequelas.

E ter ou não ter sintomas não quer dizer que vacina fez ou deixou de fazer efeitos. Eles são simplesmente uma resposta à vacina.

Pode tomar duas vacinas diferentes no mesmo dia?

A maioria das vacinas pode ser aplicada no mesmo dia em locais diferentes do corpo sem comprometer sua eficácia. As vacinas injetáveis são aplicadas no músculo, então a resposta imunológica inicial vai se dar no próprio local da administração.

Quando aplicadas no mesmo dia, é comum se aplicar cada vacina em um local diferente do corpo. O objetivo disso é principalmente para facilitar o rastreio de eventuais reações alérgicas no local da aplicação.

Não sei e não tenho comprovante de que tomei alguma vacina. Faz mal tomar de novo?

Especialmente para adultos, é comum não saber ou não ter registro de ter tomado alguma vacina. Os registros ainda são feitos em papel na maior parte do país, com alguns estados ou prefeituras criando sistemas de controle. O SUS tem um sistema, mas ainda não está completamente funcional. E as vacinas aplicadas na rede particular acabam tendo registro em sistema próprio ou numa carteirinha de papel.

Se você não sabe se tomou, é seguro tomar as vacinas como se nunca tivesse tomado. Ela não vai fazer nenhum mal para você. Pelo contrário, vai reforçar a imunização.

Quais as contraindicações das vacinas?

São poucas as contraindicações das vacinas, entre elas incluem-se

  • Reação alérgica grave a alguma vacina: É raro, mas algumas pessoas podem ter alergia a algum dos compostos utilizados nas vacinas. As vacinas não são contraindicadas a pessoas que tenham algum tipo de alergia, mas sim para aquelas que tenham alguma reação grave à alguma vacina.
  • Vacinas feitas de vírus vivos atenuados: Pessoas que tenham alguma doença que esteja afetando o sistema imunológico ou que tenham feito transplante de medula recente, não devem tomar vacinas. 
  • Gestantes ou mulheres considerando engravidar nos próximos 28 dias devem evitar vacinas de vírus vivos devido a possibilidade de afetar o feto.

Estar doente não contraindica a vacinação. Muitas vezes os médicos recomendam esperar algumas semanas até você melhorar de alguma gripe ou outra doença, para só então tomar uma nova dose de alguma vacina. Isto é apenas para não confundir os sintomas da doença pré-existente com alguma reação da vacina. Se por exemplo você estiver doente, tomar vacina e ficar com febre no dia seguinte, não será possível saber se a febre é uma simples reação da vacina ou alguma complicação da doença existente.

Mitos sobre as vacinas

Algumas informações importantes sobre as vacinas:

  • Vacinas não causam doenças: Algumas pessoas ficam com gripe logo depois de se vacinarem, mas isso é mais provável por você ter se contaminado com algum vírus antes mesmo da vacina, e iria ficar doente independente de ter tomado a vacina.
  • Vacinas não causam autismo: Inúmeros estudos mostraram que não há relação entre vacinas e autismo. Até teve um médico inglês que foi cassado devido a propagar informações falsas sobre isso. Lembre-se de que fatos científicos se comprovam com compilados de muitos estudos e não com apenas um.
  • Ficar imunizado pegando a doença pode trazer consequências: ficar doente “naturalmente” é uma forma de se proteger contra outras infecções, porém pode trazer graves sequelas e até causar a morte. Algo que não acontece com as vacinas.
  • Vacinas não são tóxicas: algumas vacinas utilizam o alumínio para causar uma reação imunológica maior no local da aplicação e melhor a efetividade da vacina. A quantidade desse metal é muitas vezes menor do que aquela que você ingere quando consome alimentos cozidos em panelas de alumínio. E comer alimentos cozidos em panela de alumínio é seguro.

Vacinas indicadas para adultos e idosos

As recomendações a seguir são para adultos e idosos à partir dos 20 anos de idade e estão de acordo com o preconizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e pelo Ministério da Saúde.

Se você não sabe seu estado vacinal, procure uma unidade de saúde ou um centro de vacinação da sua cidade levando sua carteirinha de vacinas, se você tiver uma.

Pacientes imunocomprometidos ou que tenham alguma condição especial de saúde só devem tomar vacinas de acordo com indicação médica para o seu caso.

Vacinas recomendadas para todos

As vacinas a seguir são recomendadas de rotina para todos os adultos e idosos:

  • dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, protege contra Difteria, Tétano e Pertussis [Coqueluche]): São 3 doses para quem nunca tomou (1 de dTpa e 2 de dT [difteria e tétano]). Deve-se tomar uma dose de reforço a cada 10 anos. Para quem tem contato com lactentes a recomendação é antecipar o reforço em 5 anos. No SUS esta vacina (dTpa) está disponível para gestantes. Para não gestantes tem apenas a dT no SUS.
  • Influenza (gripe): Uma dose anual. A vacina da gripe disponível no SUS protege contra 3 tipos de virus e a da rede particular contra 4 vírus ou cepas diferentes. A SBIM aponta que a tendência é de a vacina tetravalente ser incorporado no SUS nos próximos anos. Mas qualquer uma que você tomar irá te proteger.
  • Covid-19: A vacina da covid só está disponível nos postos de saúde públicos. E de acordo com o calendário do Ministério da Saúde de 2024 é recomendada para:
    • Pessoas entre 5 e 60 anos, saudáveis e que não pertençam aos grupos prioritários*: a recomendação é a de ter tomado pelo menos duas doses da vacina contra covid na vida.
    • Para quem nunca se vacinou: a recomendação é de tomar duas doses com intervalo de pelo menos 4 semanas entre elas.
    • Quem é imunocomprometido deve tomar pelo menos três doses, além de reforços semestrais.
    • Os idosos (com 60 anos ou mais) e gestantes devem tomar uma dose de reforço a cada 6 meses.
    • Já pessoas dos grupos prioritários* devem se vacinar anualmente contra covid.
    • *Grupos prioritários:
      • Trabalhadores da saúde (médicos, enfermeiros, técnicos e demais profissionais);
      • Pessoas vivendo ou trabalhando em asilos ou instituições de longa permanência;
      • Indígenas, ribeirinhos, quilombolas;
      • Puérperas (45 dias após o parto);
      • Pessoas com deficiência permanente;
      • Pessoas com comorbidades (diabetes, alguns casos de pressão alta, doenças cardíacas, pulmonares, renais, hepáticas, entre outras);
      • Pessoas privadas de liberdade;
      • Funcionários do sistema carcerário;
      • Pessoas em situação de rua.
  • Herpes Zoster: À partir dos 50 anos de idade. Existem dois tipos [VZA atenuada e VZR inativada]. A recomendação é a de tomar a VZR em duas doses com intervalo de 2 meses entre elas. A VZR tem mais eficácia e duração da proteção que a VZA. Espere 6 meses para tomar a primeira dose de VZR se você teve Herpes Zoster. Só tem na rede particular.
  • Pneumocócicas (VPC13/VPC15 e VPP23): proteção contra pneumonia. Recomendada após os 60 anos de idade. Uma dose de VPC13 (ou VPC15), esperar 6 a 12 meses e tomar uma dose de VPP23. Recomenda-se uma segunda dose de VPP23 cinco anos depois da primeira. VPC15 só tem na rede particular. As demais estão disponíveis no SUS, mas é necessário solicitação médica para a VPP23.
  • Dengue: Temos duas vacinas disponíveis a Qdenga e a Dengvaxia.
    • A Qdenga é mais atual e tem indicação para pessoas entre 4 e 60 anos de idade. São duas doses com intervalo de 3 meses entre elas. Tem no SUS, mas ainda não disponível para todos.
    • Já a Dengvaxia só pode ser tomada por quem já teve dengue e que tenha entre 9 e 45 anos de idade. São 3 doses em intervalos de 6 meses entre elas. Somente disponível na rede particular.

Vacinas recomendadas para quem não tomou quando criança

As vacinas a seguir são recomendadas para aqueles que não tomaram ou não sabem se tomaram as doses completas quando crianças ou adolescentes:

  • SCR (Sarampo, Caxumba e Rubéola): Duas doses com intervalo de 1 mês entre elas. Até os 60 anos. Após, somente a critério médico. Tem no SUS.
  • Varicela (Catapora): Duas doses com intervalo de 1 a 2 meses entre elas. Até os 60 anos. Após, somente a critério médico. Só na rede particular.
  • Febre Amarela: Uma dose após os 5 anos de idade. Até os 60 anos. Após, somente a critério médico. Tem no SUS e na rede particular.
  • Hepatite A: Duas doses com intervalo de 6 meses entre elas. Até os 60 anos. Após, somente a critério médico. Só na rede particular.
  • Hepatite B: Três doses, sendo a segunda com um mês e a última dose após 6 meses da primeira (0-1-6). Só tem no SUS.
  • Hepatite A e B: É uma versão combinada das vacinas anteriores, tomada em 3 doses como a da Hepatite B. Até os 60 anos. Após, somente a critério médico. Só tem na rede particular.
  • HPV4 ou HPV9: Protege contra o vírus HPV responsável pelo câncer de pênis e de colo de útero.
    • A HPV4 está disponível no SUS para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos, sendo que até 2024 eram preconizadas duas doses e desde então passou a ser em dose única. A vacina protege contra 4 cepas do HPV.
    • Já a HPV9 está disponível somente na rede privada e, além das 4 cepas da HPV4, protege contra outras 5 cepas do HPV. Menores de 15 anos devem tomar 2 doses e acima dessa idade (se ainda não foram vacinados), 3 doses. A vacina tem indicação até os 45 anos de idade. Mas o recomendável é que se tome antes de iniciar a vida sexual.

Vacinas para casos especiais

Recomendadas à critério médico para situações especiais e disponíveis somente na rede particular:

  • Meningocócicas conjugadas ACWY, C ou B: protegem contra meningite. 
  • Virus Sincicial Respiratório (VSR): É uma vacina liberada em 2023 no Brasil e com indicação para idosos acima de 60 anos e que tenham doença cardíaca, pulmonar, hepática ou renal. Protege contra os resfriados causados pelo vírus VSR. No momento em dose única e só tem na rede particular. Ainda precisamos de mais estudos para saber se há necessidade de doses de reforço dessa vacina.

No âmbito do SUS, algumas vacinas estão disponíveis e são recomendadas para casos especiais como imunodeficiências, HIV, câncer, profissionais de saúde entre outros. Estas vacinas só são normalmente disponibilizadas nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE). Estes costumam estar localizados apenas nas capitais. Consulte sua unidade de saúde para saber mais detalhes. E para saber os requisitos de cada vacina especial disponível nos CRIE consulte o Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais.

Conclusão

As vacinas são uma forma segura de se conseguir proteção contra uma doença sem precisar ficar doente. Além de protegerem quem tomou, acabam ajudando a reduzir a circulação dos vírus e evitando que mesmo quem não se vacinou fique protegido. O principal efeito colateral é dor no local da aplicação. Eventualmente também pode aparecer febre ou mal-estar que melhoram em poucos dias. A principal contraindicação é para quem teve alguma reação grave a alguma vacina. A vacina do tétano deve ser reaplicada a cada 10 anos. Já a da gripe é anual. A vacina contra o Herpes Zoster e as pneumocócicas são indicadas para todos os idosos. A vacina do covid-19 ainda é um processo em constante evolução, mas no momento há indicação de reforço para idosos a cada 6 meses.

Espero que o artigo tenha sido útil. 

Qualquer dúvida é só comentar aqui ou nas redes sociais.

Um forte abraço.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

Escreva um comentário