Pneumonia: tem como evitar?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 9 meses

A pneumonia é uma das principais causas de hospitalização e a principal causa de morte por infecção no mundo. É mais comum do que você pode imaginar, atingindo principalmente idosos e pessoas com doenças crônicas.

Nesse artigo você vai aprender sobre os diversos tipos de pneumonia com ênfase na mais comum de todas, que é a pneumonia adquirida na comunidade. Vai entender como se pega pneumonia, quem tem mais riscos de complicar, e vai descobrir também quando é uma situação grave em que você não pode deixar de procurar ajuda médica.

No final vai descobrir quais os exames necessários para o diagnóstico, além de dicas de como se proteger da pneumonia.

Boa leitura.

O que é a pneumonia?

A pneumonia nada mais é do que a inflamação dos pulmões. Ela é causada por vírus, bactérias ou eventualmente fungos que se multiplicam dentro dos pulmões.

Nós sempre estamos em contato com vírus e bactérias e o nosso corpo nos protege através do sistema imunológico. Se por algum motivo o sistema imunológico está enfraquecido ou temos contato com uma quantidade grande de vírus ou bactérias devido à, por exemplo, uma gripe mais severa ou ainda covid-19, esta infecção pode complicar e se tornar uma pneumonia.

Pessoas que tenham doenças nos pulmões, como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica ou asma, têm mais chances de ter pneumonia.

Além disso, quem tem outras doenças crônicas como diabetes, insuficiência cardíaca, tenha sofrido AVC, ou tenha outras doenças que afetem o sistema imunológico, também tem mais chances de adquirir pneumonia.

A inflamação dos pulmões pode acontecer também por outras causas, como a aspiração do conteúdo do estômago em casos de pacientes internados, intubados ou com algum outro problema de saúde. Pode ainda ocorrer pela aspiração de alimentos ou outras partículas. É o famoso se engasgar com a comida. Ao invés da comida descer pelo esôfago até o estômago, ela pega o caminho errado e entra na traqueia.

Por sorte quando a traqueia é contaminada com alguma partícula estranha aparece o reflexo da tosse, justamente para expelir a substância nociva e que pode causar pneumonia. Essa causa é mais comum de levar a uma pneumonia em pessoas acamadas e muito doentes, normalmente internadas em ambientes de UTI e que por algum motivo não conseguem tossir. Estar inconsciente é um fator que pode levar a essa situação.

Tipos de pneumonia

Existem vários tipos de pneumonias, mas uma das questões mais importantes é saber onde essa pneumonia foi adquirida.

Por isso, com relação ao local, os dois principais tipos são a pneumonia adquirida na comunidade e a nosocomial (hospitalar).

Se você pegou pneumonia depois de estar há mais de 48 horas internado num hospital ou começou com sintomas poucos dias depois de um internamento, essa pneumonia é chamada de nosocomial, que é um sinônimo para hospitalar.

Já as pneumonias que não tenham relação com ambientes hospitalares são chamadas de adquiridas na comunidade.

Diferenciar esses tipos de pneumonia é importante pois o tratamento da pneumonia nosocomial será diferente da adquirida na comunidade, sendo que a hospitalar precisa normalmente de antibióticos mais fortes e por mais tempo.

É importante fazer o tratamento da pneumonia nosocomial no hospital de origem, ou pelo menos o médico precisa ter contato com esse hospital, para saber que tipos de bactérias estão circulando naquele ambiente para tratar a pneumonia de forma adequada.

Cada hospital tem um conjunto de bactérias mais comuns, e elas diferem de hospital para hospital, inclusive os da mesma cidade.

O que é a pneumonia dupla?

É comum as pessoas comentarem que escaparam de uma pneumonia e que tiveram sorte pois era uma pneumonia dupla.

Este termo é usado eventualmente para se referir ao simples fato de que a infecção da pneumonia atingiu os dois pulmões e não somente um deles.

Ter pneumonia simples (em um pulmão apenas) ou dupla (nos dois pulmões) normalmente não tem nenhuma influência na gravidade da doença, no tratamento e nas eventuais sequelas.

Como se pega pneumonia?

A pneumonia se pega por contato com vírus e bactérias presentes no ar, principalmente durante o inverno.

O frio faz com que fiquemos em ambientes mais fechados e aquecidos, o que favorece a multiplicação e a presença dos vírus e bactérias.

Não há evidências definitivas, mas o frio também diminui algumas proteções naturais do corpo, como por exemplo o movimento dos cílios existentes nas vias respiratórias e que são responsáveis por eliminar partículas estranhas. O frio também tende a ressecar as mucosas, o que pode favorecer a multiplicação de vírus e bactérias.

Mas é mais provável que você fique doente por ter contato com outras pessoas contaminadas do que simplesmente sair no frio a noite. Se não existem virus e bactérias no ar, não tem como você adoecer.

Então, se agasalhe quando sair no frio. Mas principalmente para manter o corpo aquecido e não necessariamente para evitar pegar gripes, resfriados e pneumonia!

Como saber se estou com pneumonia?

Os sintomas mais comuns da pneumonia são a febre, calafrios, falta de ar ou fôlego curto, dor no peito ao respirar e tosse. A tosse pode ser com ou sem catarro e a cor do catarro não indica se é uma infecção por vírus ou bactéria.

Além desses sintomas, também é possível ter um aumento dos batimentos cardíacos (palpitação), aumento da velocidade da respiração, vômitos, diarreia e confusão mental.

A maioria das pessoas tem febre de 38° C ou maior. Porém, idosos podem não ter febre, mesmo que bastante doentes.

Preciso ir ao médico?

Se você já teve gripe, já teve todos esses sintomas juntos (febre, dor no peito ao respirar, tosse, falta de ar) e possivelmente não teve pneumonia.

E então como diferenciar? A única forma é ser avaliado por um médico.

O médico vai auscultar seu pulmão, examinar sua garganta, avaliar seus batimentos cardíacos, a saturação de oxigênio, além de perguntar sobre sua história. Vai perguntar os sintomas que você está sentindo, quando tudo isso começou, se você tomou vacinas, além das medicações que você usa e as doenças que você trata.

Isso tudo pode descartar ou levar a uma forte suspeita de pneumonia. Porém, o diagnóstico de certeza, somente com uma radiografia do tórax.

A radiografia vai mostrar os sinais de infecção nos pulmões, deixando mais esbranquiçada e alterada a área afetada, além de demonstrar sinais de gravidade como o aparecimento de líquido na região dos pulmões.

Em alguns poucos casos o médico pode solicitar uma tomografia computadorizada do tórax. É um exame mais caro e demorado e que normalmente só é necessário em casos em que nenhum sinal tenha aparecido na radiografia. Isso normalmente é realizado em casos mais graves e em pessoas que estão internados em hospital.

Portanto, se você tiver sintomas de gripe ou refriado, você deve procurar um médico se:

  • Sua tosse piorar com o passar do tempo.
  • Sentir dificuldade para respirar.
  • Tiver dor no peito para respirar.
  • Se tiver qualquer doença conhecida no pulmão (DPOC, enfisema, asma ou outra).
  • Se tiver mais do que 65 anos de idade.
  • Estiver piorando dos sintomas da gripe ou resfriado.
  • Se você piorar repentinamente após melhorar de uma gripe ou resfriado.
  • Tenha feito um transplante de órgãos ou tenha alguma doença no sistema imunológico como HIV por exemplo.

Como é feito o tratamento da pneumonia?

Normalmente não temos como diferenciar rapidamente se a causa da pneumonia é um vírus ou uma bactéria. A cultura de bactérias pode levar dias para ficar pronta. Por isso, praticamente todas as pessoas com pneumonia são tratadas com antibióticos.

Eventualmente medicamentos antirretrovirais como o oseltamivir (tamiflu) podem ser utilizados. E isso se o início dos sintomas for muito recente, de menos de 48 ou 72 horas. Fora desse espaço de tempo eles não trazem benefícios. Para casos de pneumonia por covid-19, alguns antirretrovirais específicos para o vírus SARS-CoV-2 podem ser utilizados. O medicamento paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) é um dos antirretrovirais vendidos no Brasil.

Outra questão importante é definir se o tratamento precisa ser feito num hospital ou se pode ser feito em casa.

O médico vai se basear em critérios de gravidade da doença, além de fatores como a idade, sintomas e outras doenças associadas.

Medicamentos do tipo corticoides podem eventualmente ser utilizados. Mas eles normalmente só são recomendados para pacientes que tenham alguma doença prévia no pulmão (asma, DPOC, enfisema) ou que estejam em tratamento num hospital.

Preciso fazer tomografia do pulmão depois do tratamento?

Alguns médicos optam por pedir tomografia ou radiografia de controle depois de resolvida a pneumonia. Isso normalmente não é necessário. Mais importante do que o resultado de qualquer exame de imagem é avaliar como você está.

Portanto, só faz sentido um exame de imagem depois da melhora da pneumonia, se algum sintoma de dor ou dificuldade respiratória persistir. E mesmo assim, somente se os sintomas não forem explicados pela pneumonia.

Exames em excesso predispõe você a radiação desnecessária. Isso é chamado de iatrogenia.

Vou ficar com alguma sequela?

A maioria das pessoas começam a melhorar depois de 3 a 5 dias do início dos antibióticos. E a melhora esperada é simplesmente sentir-se melhor, com mais animo e disposição, além de redução nos sintomas de febre e tosse.

É normal ficar com um cansaço por um mês ou mais depois da cura da pneumonia. Mais a maioria das pessoas consegue voltar a sua atividade normal em uma ou duas semanas. Quem teve necessidade de internamento num hospital pode levar um mês ou mais para voltar as atividades usuais.

O importante é beber bastante líquido e descansar durante esse período de melhora. Procure se alimentar e tomar toda a medicação indicada, mesmo que esteja se sentido bem.

Uma avaliação com um médico é importante depois de uma semana da alta hospitalar para avaliar se você está melhorando. E muitas vezes uma visita posterior depois de um mês pode ser importante para confirmar a resolução da pneumonia.

Não é comum, mas pessoas que tiveram pneumonia podem ficar com diminuição da função pulmonar devido a um processo chamado de fibrose pulmonar. Além disso, a pneumonia pode piorar doenças já existentes como DPOC e insuficiência cardíaca.

Algumas pessoas podem se beneficiar de fazer fisioterapia respiratória, que costuma muitas vezes ser iniciada dentro do hospital. Porém as evidências que temos no momento não são conclusivas e por isso a indicação precisa ser individualizada e ter indicação médica.

Eventualmente seu médico pode indicar o uso de oxigênio por algumas semanas até a melhora completa do quadro. Isso é mais comum para quem tem alguma doença pré-existente no pulmão como DPOC. Se tiver interesse, leia meu artigo sobre a oxigenoterapia domiciliar prolongada na DPOC.

Tem como prevenir a pneumonia?

A vacinação é a melhor forma de prevenção da pneumonia. Além das vacinas contra os vírus da gripe (influenza) e da covid-19, que devem ser anuais ou seguir as recomendações vigentes, em alguns casos são indicadas vacinas contra pneumonia bacteriana.

Existem várias vacinas, mas basicamente duas são recomendadas para a proteção contra pneumonia bacteriana, que são as pneumocócicas VPC13 e VPP23. Elas são recomendadas para todas as pessoas após os 60 anos de idade. O ideal é tomar uma dose de VPC13 e, depois de 6 a 12 meses uma dose de VPP23. Recomenda-se ainda uma segunda dose de VPP23 cinco anos depois da primeira.

Em casos de pessoas que tenham doenças pulmonares como DPOC ou enfisema, e ainda para quem tem insuficiência cardíaca ou diabetes, essas vacinas podem ser obtidas de graça pelo SUS. Para os demais somente na rede particular. Procure um posto de saúde ou uma sala de vacinação da sua cidade.

Existe ainda a vacina VPC15 que começou a ser disponibilizada no Brasil em 2023. Ela protege contra 15 cepas da bactéria Streptococcus pneumoniae (pneumococo). E como o nome sugere a VPC13 protege contra 13 variantes do pneumococo. Apesar de parecer oferecer muito mais proteção, atualmente a VPC15 oferece apenas cerca de 1% a mais de proteção do que a VPC13. E por isso, tanto faz tomar a VPC13 ou a VPC15. Mas não há motivo para tomar as duas.

Essas vacinas são contraindicadas apenas se você tiver alergia grave a qualquer um dos componentes das vacinas. Algo raro. E a forma mais comum de saber isso é se você já teve alguma reação grave após tomar alguma vacina.

Além das vacinas, outra medida indiscutivelmente benéfica é parar de fumar. Quem fuma tem mais chance de ter pneumonia, outras doenças no pulmão, além de câncer, tanto no pulmão quanto em diversos outros órgãos do corpo.

Se você quer parar de fumar e está com dificuldades, leia meu artigo sobre o tabagismo. Você vai encontrar dicas do que fazer para parar e como obter ajuda se necessário.

Conclusão

A pneumonia nada mais é do que a infecção dos pulmões. Ela é causada principalmente por vírus e é mais comum de se adquirir fora do ambiente hospitalar, o que é chamado de pneumonia adquirida na comunidade. O diagnóstico é feito pela presença dos sintomas como febre, tosse, dor no peito e dificuldade para respirar, sendo indispensável a radiografia de tórax para confirmar a doença. O tratamento consiste no uso de antibióticos, sendo que em muitos casos é necessário internar o doente num hospital para ter um cuidado adequado. Para se proteger o ideal é parar de fumar e tomar as vacinas para gripe, covid-19 e as vacinas específicas contra pneumonia.

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Um forte abraço.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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