Pressão alta: o que é e por que devo me preocupar?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

A pressão alta (ou hipertensão arterial) é uma das doenças mais prevalentes na população. Normalmente não dá sintomas e pode trazer consequências graves se não diagnosticada e não tratada. Este artigo tenta explicar o que é a pressão arterial, quais os valores aceitáveis, os motivos para você mantê-la sob controle e o que fazer para isso. Boa leitura.

 

*Prefere assistir? O conteúdo deste artigo também está disponível no vídeo abaixo. 

Vídeo: Como controlar a PRESSÃO ALTA: os SEGREDOS para mantê-la na meta

Está com a PRESSÃO ALTA? Entenda tudo sobre essa condição e como se cuidar

O que é a pressão arterial?

A pressão arterial é a força que o sangue exerce nos vasos sanguíneos, em especial nas artérias. São na realidade dois valores, medidos em milímetros de mercúrio (abrevia-se mmHg). O valor mais alto, escrito primeiro e chamado de pressão sistólica, representa a pressão que o sangue exerce quando o coração está bombeando esse líquido pelo corpo. O valor menor, chamado de pressão diastólica, é a pressão que o sangue exerce quando o coração está em repouso. Esse valor não é zero.

Imagine que seu coração é uma bexiga de aniversário vazia, sem nada dentro. Esse “nada” exerce a pressão zero. Já se você encher a bexiga com água (ou sangue na realidade), a pressão dessa água representaria a pressão diastólica (o valor menor). Já se você apertar essa bexiga com as mãos, agora a pressão dentro da bexiga com água e apertada, simboliza a pressão sistólica (o valor maior).

Se você colocar mais água na bexiga, a pressão diastólica aumentará e a sistólica possivelmente também. Já se você exercer mais força na bexiga, a pressão sistólica irá aumentar. Quando você come alimentos salgados, acaba retendo mais líquido dentro do corpo (o sal atrai a água num processo chamado de osmose), e isso acaba aumentando a pressão arterial. E é por isso que os remédios do tipo diuréticos (que fazem você fazer mais xixi e assim diminuem o líquido no corpo) contribuem para diminuir a pressão arterial.

Os médicos às vezes falam que a pressão está 120 por 80. E outras vezes dizem apenas 12 por 8. Apesar de a primeira forma (120×80) ser gramaticalmente a mais correta, não há problema em falar a forma simplificada (12×8). Elas significam a mesma coisa. E se o médico pedir para você anotar os valores da sua pressão, tanto faz anotar de uma forma ou de outra. O médico entenderá.

Quais os valores adequados para a pressão arterial?

O valor ideal de pressão arterial pode variar de pessoa para pessoa. A presença de outras doenças no coração ou em outra parte do corpo podem permitir que a pressão seja mais alta ou mais baixa. Além disso, pessoas idosas e que fazem uso de várias medicações podem necessitar de valores de pressão mais alta para evitar terem sintomas como tontura ou quedas. Além disso os valores ideais variam conforme o avança das pesquisas e estudos científicos.

Para a população em geral se busca atualmente valores abaixo de 120 para a sistólica (o maior valor) e 80 para a diastólica (o menor valor). Mas uma única medida de pressão arterial acima desses valores não significa que você tenha que tomar medicações para baixá-la. Somente o seu médico poderá avaliar os valores adequados.

Quando a pressão arterial está acima desses valores de forma constante, durante vários dias ou semanas, mesmo em situações de relaxamento, isto indica que você tem a doença pressão alta, também chamada de hipertensão arterial.

Como medir a pressão?

A pressão arterial varia conforme as atividades do dia. Quando você faz algum exercício físico, o coração vai precisar bombear mais sangue pelo corpo para aumentar as trocas gasosas no pulmão e distribuir mais oxigênio pelas células. Logo depois de se alimentar, parte do sangue pode ser priorizado para o sistema digestivo. Após consumir café ou fumar, o coração pode se acelerar. Se está ansioso, nervoso ou estressado seu coração também pode acelerar. Todas estas coisas fazem a pressão arterial aumentar. Quando dormimos ou estamos descansados e relaxados, a pressão tende a diminuir.

A maioria dos aparelhos disponíveis no mercado são digitais e de fácil utilização. Existem basicamente dois tipos de aparelhos: os que medem a pressão arterial no braço e os que medem no pulso. A maioria dos estudos foram realizados com aparelhos de braço, mas os de pulso parecem ter a mesma acurácia, desde que usada a técnica correta. Se for comprar um aparelho novo, os de braço parecem ser mais adequados e isentos de problemas com a técnica de medição. O aparelho de braço precisa ser utilizado com a abraçadeira de comprimento correto para o tamanho de seu braço. Seu médico poderá lhe ajudar nesta questão.

Para fazer um controle adequado da pressão e também para ajudar no diagnóstico da hipertensão arterial é necessário tomar alguns cuidados para sua correta aferição:

  • Meça a pressão com o estômago vazio, antes das refeições, ou espere pelo menos 1 hora depois de comer.
  • Não fume, tome café nem faça atividades físicas por pelo menos 30 minutos antes da aferição.
  • Sente-se numa cadeira com os dois pés no chão, pernas descruzadas e costas apoiadas.
  • Se o aparelho for de braço, prenda a abraçadeira de forma confortável no braço, 1 ou 2 cm acima da dobra do cotovelo.
  • Se o aparelho for de pulso, coloque o aparelho no pulso e coloque a mão sobre o peito, de forma que o aparelho fique na altura de seu coração. Ou apoie o cotovelo numa mesa e deixe seu braço levemente levantado de forma que o aparelho fique na altura de seu coração. Evite fechar, movimentar ou torcer a mão durante a medida.
  • Aperte o botão do aparelho para iniciar a medição.
  • Não fale durante a medição.
  • Anote os dois valores registrados pelo aparelho (lembre-se que o número maior é a pressão sistólica e o menor a pressão diastólica). 
  • O ideal é medir em vários períodos do dia: pela manhã, à tarde e à noite. Não precisa medir 3 vezes por dia, você pode medir pela manhã e a noite num dia, pela manhã e a tarde no outro, ou somente a noite num outro dia. O importante é ter várias medições em horário diferentes do dia.

Qual o problema de ter a pressão alta?

A pressão elevada faz com que o coração trabalhe de forma mais vigorosa, podendo-o fazer sofrer com os anos, podendo levar a doenças como insuficiência cardíaca e hipertrofia ventricular (aumento em tamanho de uma das partes do coração). Além disso as artérias sofrem pequenos danos em suas paredes. Tais lesões facilitam que partículas de colesterol (gorduras ruins) se fixem nos vasos sanguíneos, entupindo-os com o passar do tempo. Tal entupimento em artérias do coração podem levar a doença conhecida como infarto. Quando artérias da cabeça é que entopem a doença leva o nome de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico.

Se não bastasse tudo isso, uma pressão muito elevada pode favorecer o rompimento de alguma artéria, o que leva a sangramentos e que se ocorrerem dentro da cabeça tem-se a doença chamada de derrame ou AVC hemorrágico. Os rins também sofrem com a pressão elevada, o que pode levar a perda progressiva de sua função, necessitando em alguns casos de sessões de hemodiálise para substituir o seu papel.

Como controlar a pressão?

Mudanças de estilo de vida podem ajudar a manter um controle de sua pressão arterial:

  • Perca peso (se você estiver acima de seu peso ideal)
  • Tenha uma dieta rica em frutas e vegetais e com baixo consumo de gorduras, doces e grãos refinados, prefira trigo e arroz e outros grãos integrais.
  • Coma menos sal.
  • Faça pelo menos 30 minutos de exercício físico diário na maioria dos dias da semana.
  • Limite a quantidade de consumo de bebidas alcoólicas.
  • Pare de fumar.

Lembre-se de que hábitos de vida saudáveis melhoram em muito não apenas sua pressão arterial, mas sua saúde como um todo. Comece devagar, sem exageros. Se você nunca fez atividade física, comece com caminhadas de 10 ou 15 minutos uma ou duas vezes por semana. Troque as farinhas refinadas por farinhas integrais pelo menos uma vez na semana. Reduza os cigarros fumados no dia. É melhor alguma mudança, por menor que seja, do que nenhuma mudança.

Medicamentos

Os principais tipos de medicamentos utilizados para reduzir a pressão arterial são:

  • Diuréticos. Ajudam a eliminar o excesso de líquido fazendo-o urinar mais. Exemplos são: clortalidona, indapamida, hidroclorotiazida, furosemida.
  • Inibidores da enzima conversora de angiotensina ou bloqueadores dos receptores de angiotensina. Exemplos dessas classes: enalapril, captopril, ramipril, losartana, valsartana.
  • Bloqueadores de canal de cálcio. Alguns exemplos: anlodipino, diltiazem.
  • Beta bloqueadores. Exemplos: atenolol, metoprolol, carvedilol, propranolol.

Estes não são os únicos, existem outros que podem ser indicados para condições especiais, como a metildopa que é muito utilizada para controlar a pressão arterial de gestantes e a clonidina que ajuda em hipertensões resistentes.

Seu médico irá indicar um ou na maioria das vezes mais de um medicamento para ser tomado junto, sempre de classes diferentes. Ele fará ajuste de doses, aumentando ou suspendendo medicações conforme o que for mais indicado para você e também de acordo com a melhora da pressão arterial ou de eventuais sintomas colaterais.

O importante é nunca tomar a medicação de seu cônjuge ou de algum conhecido. Cada medicamento e dose tem uma indicação adequada para cada pessoa.

Além disso, um erro comum é tomar a medicação somente nos dias em que pressão está alta. A medicação foi projetada e testada para ser tomada diariamente, e seu uso contínuo é que traz um controle mais adequado e uniforme.

A maioria dos medicamentos de pressão foram desenvolvidos para serem tomados uma ou no máximo duas vezes por dia.

Por isso:

  • Tome as medicações todos os dias nos horários definidos pelo seu médico.
  • Não deixe de tomar o remédio se a pressão estiver nos valores adequados.
  • Não tome dose extra do remédio se a pressão estiver elevada sem o conhecimento de seu médico.
  • Procure seu médico se estiver mantendo valores de pressão elevadas em medidas diárias.
  • Não tome a medicação receitada para outra pessoa. Ela pode não ser adequada para o seu caso.
  • Se esquecer de tomar um comprimido, tome assim que lembrar, porém se esqueceu de tomar o remédio do dia anterior, não tome a dose dobrada.

Quando devo procurar um médico?

A pressão arterial elevada pode levar ao aparecimento de sintomas como dor de cabeça, tontura, náuseas e dor no peito, mas na maioria das vezes não apresenta sintoma algum. Muitas vezes ela é diagnosticada ao acaso quando alguém procura um médico devido a algum mal-estar ou dor de cabeça. Na maioria das vezes a dor de cabeça não é devido a pressão que estava alta, mas sim a pressão alta já estava instalada independente da dor de cabeça.

Os estudos não são definitivos, mas alguns consensos apontam que a partir dos 40 anos a chance de ter o diagnóstico de pressão alta aumenta muito, então uma visita anual ao médico a partir dessa idade parece razoável. 

Além disso, você deve procurar um médico imediatamente se você tiver a pressão arterial com valores acima de 180 x 120 ou sintomas de início súbito tais como:

  • Visão borrada
  • Dor de cabeça muito intensa
  • Confusão mental
  • Vômitos que não param
  • Fraqueza intensa
  • Dificuldade para falar
  • Falta de ar
  • Dor no peito.

Conclusão

A pressão alta é uma doença que na maioria das vezes não dá sintomas, mas pode trazer consequências graves no decorrer do tempo. Ela pode ser controlada com a mudança de estilo de vida, bem como o uso adequado de medicações. Visitas periódicas ao seu médico são essenciais, especialmente após os 40 anos.

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Um forte abraço.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

2 comentários em “Pressão alta: o que é e por que devo me preocupar?”

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