Alzheimer: Que demência é essa?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 2 meses

Uma demência é um distúrbio neurológico que interfere na vida diária e na independência do indivíduo acometido e que afeta um ou mais domínios cognitivos (aprendizagem e memória, linguagem, função executiva, atenção complexa, função perceptivo-motora e cognição social).

A forma mais comum de demência em idosos é a doença de Alzheimer, responsável por cerca de 60 a 80% dos casos.

O Alzheimer não tem cura e neste artigo você vai conhecer os sintomas, quando suspeitar da doença, como é feito o tratamento, além dos cuidados gerais com o doente.

No final ficará sabendo algumas dicas para tentar prevenir e evitar esta demência.

O que é a doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer ou simplesmente Alzheimer é o principal tipo de demência tanto no Brasil quanto no mundo. Ela afeta principalmente os idosos e se caracteriza por uma perda seletiva da memória.

A doença tem relação com o acúmulo de alguns tipos de proteínas em partes do cérebro. A principal proteína associada com o Alzheimer é a beta amiloide. Uma outra recebe o nome de tau.

Cérebro em atividade
Fonte: © TheDigitalArtist de pixabay via canva.com.

É o próprio organismo quem produz essas proteínas, não se conhecendo ainda nenhuma forma adequada de evitar sua formação.

A doença costuma aparecer depois dos 65 anos de idade, sendo muito incomum antes dos 60 anos.

Fatores genéticos são importantes, principalmente os genes relacionados com a proteína beta amiloide. Quem tem um parente de primeiro grau (pai ou mãe) com Alzheimer, tem de 10 a 30% de chances de desenvolver a doença.

Outra questão relacionada com a genética é que quem tem síndrome de Down comumente desenvolve Alzheimer. Neste caso a doença costuma aparecer por volta dos 50 anos de idade.

A doença de Alzheimer começa de forma insidiosa, com os sintomas se desenvolvendo aos poucos. Os primeiros déficits percebidos são os relacionados à memória recente (esquecimentos de fatos ou eventos atuais), evoluindo para dificuldades em se realizar atividades gerais e dificuldades com a fala, além de alterações de comportamento.

Quem foi Alois Alzheimer

Alois Alzheimer foi um psiquiatra e neuropatologista alemão que foi o primeiro a entender que o Alzheimer era um tipo específico de demência. Ele fez medicina em Berlim, tendo se graduado em 1887 aos 23 anos de idade.

Alois Alzheimer
Alois Alzheimer – Fonte: Domínio público

Logo após a formatura ele foi trabalhar num asilo de Frankfurt atendendo doentes psiquiátricos. Em 1901 ele se interessou por uma paciente em particular com um tipo peculiar de sintomas comportamentais. A paciente faleceu em 1906 e Alzheimer dissecou o cérebro dela, sendo o primeiro a identificar as placas amiloides e emaranhados neurofibrilares. Essas anomalias se tornariam mais tarde os identificadores característicos da doença de Alzheimer.

Alois Alzheimer morreu aos 51 anos, em 1915, de insuficiência cardíaca causada indiretamente por uma infecção bacteriana.

Quais os sintomas da doença de Alzheimer

O principal sintoma observado na doença de Alzheimer é a perda de memória recente. É comum a pessoa esquecer os itens de uma lista de compras de mercado por exemplo. Também pode ficar repetitiva, perguntando ou relatando várias vezes a mesma coisa.

Perda de memória
Fonte: © Proxima Studio via canva.com

A perda de capacidade para realizar tarefas do dia a dia também pode aparecer no começo ou com o avanço da doença. A pessoa começa a ter dificuldade em pagar contas, fazer compras, cozinhar ou usar o celular.

Outros sintomas comuns com a evolução do Alzheimer:

  • Dificuldade com as palavras. A pessoa não consegue entender uma palavra ou tem dificuldades para lembrar de algum nome para um objeto.
  • Dificuldade em se concentrar e de raciocínio. A pessoa não consegue fazer contas simples ou de acompanhar conversas mais complexas.
  • Dificuldade para dirigir e encontrar caminhos antes conhecidos. O doente pode se perder na rua e não conseguir encontrar o caminho de casa.
  • Dificuldades em sentir e interpretar cheiros.
  • Tende a ficar mais tempo na cama, dormindo e acordando várias vezes durante a noite.
  • Também pode apresentar mudança de comportamento, ficando irritada, agressiva, e muitas vezes prefere ficar isolada.

Sintomas psicóticos como alucinações, além de convulsões também podem ocorrer, mas são menos comuns.

Perda de memória é normal?

É importante distinguir o esquecimento do Alzheimer daquele ocasionado por falta de atenção. Esse último é comum em pessoas idosas e também relacionado a nossa vida com excesso de estímulos (principalmente o celular).

Para separar esses dois esquecimentos gosto de citar o exemplo das chaves de casa.

Molho de chaves
Fonte: © swalls de Getty Images Signature via canva.com.

Ao chegar em casa você coloca as chaves em alguma mesa qualquer, diferente daquele local que estava habituado a usar. No dia seguinte vai sair de casa e não consegue lembrar onde colocou as chaves. Procura, procura e de repente acha. Ou mesmo não encontra. Mas em outro momento, quando encontra, se lembra que tinha perdido. Esse é o comportamento típico da falta de atenção.

No Alzheimer é comum a pessoa perder as chaves e sequer se preocupar que tinha um conjunto de chaves. Quando encontra as chaves se questiona sobre quem é que deixou aquele molho de chaves ali.

Alzheimer precoce

Existe uma condição genética, porém relativamente rara (menos de 5% dos casos), em que indivíduos entre 30 e 60 anos manifestam a doença de Alzheimer. E nesse caso, ela é chamada de Alzheimer precoce.

Alguns genes associados ao Alzheimer precoce são o PSEN1, PSEN2 e APP. Porém, para se ter uma ideia de como estamos longe de entender essa condição, os casos somados de portadores desses genes correspondem a menos de 1% dos casos de Alzheimer precoce.

DNA
Fonte: © Billion Images via canva.com.

A evolução do Alzheimer precoce costuma ser semelhante à da doença de Alzheimer que afeta o idoso.

Qual a evolução esperada da doença

A evolução da doença se dá normalmente num período de 8 a 10 anos entre o início dos sintomas e o óbito. Mas pode variar entre 3 e 20 anos.

Os problemas cognitivos vão se acentuando e a pessoa pode evoluir com dificuldade para se alimentar sozinha e de se cuidar.

É comum a desidratação e problemas nutricionais no estágio final da doença.

Quando suspeitar de Alzheimer

Qualquer pessoa com dificuldades de se lembrar de fatos recentes, ou mesmo de pessoas, fisionomias, ou qualquer comportamento diferente do usual (repetir perguntas, fatos ou demostrar dificuldades com as atividades do dia a dia), especialmente se iniciado depois dos 65 anos de idade, deve procurar um médico para uma avaliação.

Essa dificuldade de lembrar das coisas recentes ou de realizar tarefas pode não ser percebida pelo próprio paciente, mas sim por um familiar. É importante que o familiar vá junto na consulta, pois ele pode dar pistas importantes sobre a capacidade cognitiva do paciente.

Como o médico confirma que alguém tem Alzheimer

Ainda não há nenhum exame específico que detecte o Alzheimer em vida. O diagnóstico de certeza somente é possível com uma biópsia do cérebro, algo que só pode ser realizado após a morte, o que acaba sendo impraticável.

Sendo assim, ao suspeitar de uma demência, o médico vai revisar todo o histórico do indivíduo, incluindo as medicações em uso, avaliar a capacidade cognitiva, bem como realizar um exame neurológico

Exames de sangue também podem ser pedidos, especialmente para descartar outras condições que possam estar causando os sintomas neurológicos, como hipoglicemia, deficiência de vitamina B12, hipotireoidismo, sífilis ou HIV afetando o cérebro.

É comum também de o médico pedir uma ressonância magnética do cérebro. A ressonância pode demonstrar alguns sinais sugestivos da doença, mas não a comprovação. O principal objetivo desse exame é o de afastar outras causas que possam estar causando a demência, incluindo um tumor cerebral ou AVC.

Imagem cerebral
Fonte: © digicomphoto de Getty Images via canva.com.

Outros exames de imagem como a tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT) ou o PET Amiloide também pode ser pedidos. Eles ajudam mais a diferenciar o Alzheimer de outras demências. Estes não são exames obrigatórios e atualmente ainda tem um cunho mais de pesquisas do que de evidências robustas e que tragam alguma mudança para o paciente. São necessários mais estudos para se determinar os parâmetros para diferenciar um cérebro normal de um com Alzheimer nessas imagens.

Testes cognitivos

Os dois principais testes disponíveis e validados atualmente para avaliar a capacidade cognitiva são o Mini Exame do Estado Mental (também chamado de Mini Mental) e a Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA).

Estes testes são constituídos de uma série de tarefas que o médico pede para o paciente executar, desde lembrar de palavras, executar contas, desenhar, nomear objetos, escrever frases, entre outros.

Não são exames autorrealizáveis e dependem do treinamento do examinador para poderem ser realizados e interpretados com confiabilidade e precisão. Por isso, não tente fazê-los sozinho.

Teste cognitivo
Fonte: © Robert Kneschke via canva.com.

Procure um neurologista, geriatra ou médico de família. Estes especialistas costumam ser habilitados para saber qual o melhor teste para você e a melhor forma de se realizar.

Se não for Alzheimer, o que pode ser?

Excluídas as causas que podem levar a alterações cognitivas temporárias e tratáveis, como hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, uso de alguns medicamentos e alterações na taxa de açúcar do sangue, e comprovando-se que não há um tumor ou outra condição no cérebro que esteja levando aos sintomas de alterações cognitivas, o médico irá avaliar a possibilidade de outras demências, sendo as mais comuns e que devem ser consideradas no diagnóstico de Alzheimer:

  • Demência vascular: Essa demência é causada por um AVC ou outra doença que afete a circulação sanguínea no cérebro. Ela pode coexistir com o Alzheimer.
  • Demência por corpos de Lewy: Esta é provável a segunda demência mais comum depois o Alzheimer. Ela se difere devido ao aparecimento de alucinações, parkinsonismo (um tipo de tremor), flutuações na capacidade cognitiva e alterações no sono.
  • Demência frontotemporal: É uma demência que possui diversas apresentações, incluindo alterações de comportamento e dificuldades na fala, sendo esta última a principal alteração encontrada.
  • Parkinson: A doença de Parkinson é caracterizada por tremores involuntários e dificuldades de movimento, porém, com o avançar da doença é possível que se desenvolvam sintomas de demência.

O diagnóstico dessas demências é clínico. Ou seja, não existe nenhum exame específico que as confirme. Apenas o histórico e a ausência de outras doenças (ou a presença delas no caso da demência vascular e do Parkinson), é o suficiente para se determinar a doença em curso.

Qual o tratamento

Existem basicamente 2 classes de medicamentos para o tratamento da doença de Alzheimer: os inibidores da colinesterase e a memantina.

Os inibidores da colinesterase (donepezila, rivastigmina e galantamina) costumam ser a medicação de escolha para os casos iniciais da doença.

A memantina fica reservada para os casos mais avançados, e pode ser tomada inclusive junto com um inibidor da colinesterase.

Não há evidências robustas e definitivas de que as medicações alterem o curso natural da doença. O que se sabe é que elas podem melhorar a capacidade cognitiva, pelo menos parcialmente. Porém, nem todos os doentes se beneficiam destas medicações. Alguns tem mais efeitos colaterais do que benefícios.

E nunca é demais lembrar que não se deve tomar qualquer medicação sem indicação e acompanhamento médico adequados.

Outros medicamentos

  • Vitamina E: A vitamina E é uma medicação que tem indicação para alguns pacientes com Alzheimer. Porém, alguns estudos mostraram que altas doses de vitamina E aumentam as chances de morte e problemas cardíacos na população em geral. Mas as evidências não são conclusivas e não há estudos investigando esse desfecho em pacientes com Alzheimer. De qualquer forma, os benefícios da vitamina E para o Alzheimer são modestos. Ou seja, não é para todos e somente o médico poderá fazer a indicação adequada.
  • Aducanumab: Em 2021 foi aprovado pelo FDA (o órgão americano equivalente à nossa ANVISA) o medicamento aducanumab para o tratamento do Alzheimer. Esse medicamento foi descontinuado em 2024 por falta de segurança. Apesar da premissa da medicação, que é a de combater as placas amiloides, ser empolgante, os estudos ainda não são definitivos. A medicação até o momento tem recomendação de ser utilizada apenas para fins de pesquisas científicas, até que se estabeleça se há reais benefícios e quem são as pessoas que podem se aproveitar deles.
  • Outros: Lecanemab e Donanemab são outras medicações que estão em fases finais de estudo e que podem eventualmente se tornar úteis no futuro para combater o avanço do Alzheimer.

Cuidados gerais

Além das medicações voltadas especificamente para a melhora da capacidade cognitiva, outros cuidados são importantes para o portador da doença de Alzheimer.

Acompanhamento médico regular

Além da necessidade de reavaliar o déficit cognitivo, ajustar medicamentos, orientar e tratar todo e qualquer doença ou problema médico, manter o controle dos demais fatores de risco para doenças cardiovasculares é extremamente importante.

Isso porque um AVC ou infarto podem trazer consequências devastadoras para quem tem Alzheimer. Além disso, o controle do colesterol e da pressão arterial podem contribuir para atrasar o déficit cognitivo.

Atividade física

Toda e qualquer tipo de atividade física, desde que não tenha nenhuma contraindicação, pode e deve ser estimulada. Caminhadas com cuidadores e familiares podem ser uma opção simples e facilmente realizável.

idosos caminhando
Fonte: © Pressmaster via canva.com.

Quem faz exercícios regulares tem melhora de sintomas depressivos, além de manutenção da capacidade física, o que pode evitar quedas e também reduzir a dependência de terceiros.

Eventualmente o médico pode indicar um acompanhamento com um fisioterapeuta.

Nutrição

É muito comum que com o avanço da doença a alimentação se torne um problema. Os pacientes reduzem seu apetite e recusam a alimentação. Isso torna-se um desafio especialmente para os cuidadores.

Tentar fazer mais refeições, porém em menor quantidade, pode ajudar. Comidas coloridas, saborosas e que se comam com a mão (finger food) também devem ser tentadas. Muitas vezes o cuidador precisa de paciência e dedicação para conseguir algum tipo de refeição adequada.

Suplementos nutricionais podem ser uma alternativa, mas não devem ser a primeira escolha.

Dietas restritivas (sem açúcar, vegana, hipocalórica) também não costumam ser indicadas.

De toda forma, o ideal é contar com o apoio e as orientações de um médico e de um nutricionista.

Mesmo com todas as alternativas a ingestão de alimentos costuma se reduzir no Alzheimer avançado. Por conta disso, algumas famílias optam pela alimentação por gastrostomia, um tubo ligado direto no estômago e que leva alimentação sem necessidade de deglutição ou mastigação. Essa alternativa não é recomendada para todos pois os estudos não mostram melhora no tempo de vida do doente e ela também não está isenta de complicações como infecções, entupimento do tubo, entre outras.

Medicações

Muitas medicações predispõem a complicações, aumentando o risco de quedas ou outros efeitos colaterais indesejados como sonolência excessiva.

Por isso, é comum o médico suspender os medicamentos que não fazem mais sentido em alguma fase da doença.

Para saber mais a respeito, leia meu artigo sobre a desprescrição.

Quedas

As quedas são uma das principais preocupações. Pois, a eventual perda de massa muscular pela desnutrição, associada às alterações cognitivas e perda de capacidade motora por falta de atividade física contribuem para que elas aconteçam.

Queda em Idoso
Fonte: © akaratwimages via canva.com.

O assunto é extenso. Para mais informações leia meu artigo completo sobre como evitar as quedas.

Perambular ou se perder

Pacientes com Alzheimer estão sob risco de se perderem ao saírem sozinhas. Se isso acontecer, pode ser um sinal de que o paciente precise de um cuidador em tempo integral.

Mesmo morando em instituições de longa permanência (asilos, casas de repouso), o risco de sair sozinho e se perder ainda existe.

Há ainda o risco de quedas, machucados, ficar sem tomar medicações e ainda violência nessas andanças.

Homem perdido
Fonte: © Warchi de Getty Images Signature via canva.com.

Se o risco for grande, é importante manter algum tipo de identificação com o doente contendo pelo menos um telefone de contato. Pode ser um cartão no bolso, um pingente ou pulseira com informações gravadas, ou algo preso à roupa.

Direção

É difícil dizer qual é o momento de abandonar o volante, mas em regra geral, pacientes com Alzheimer devem abrir mão da direção no momento do diagnóstico ou pelo menos com o avançar da doença.

Isto pode ser um grande desafio, especialmente para aqueles que moram sozinho, ou que sejam o único motorista da família.

Apesar de não existir uma abordagem simples, os familiares precisam ficar atentos à essa questão e o médico pode ajudar com aconselhamento e orientações.

Convivendo com o Alzheimer

Viver com uma doença demencial pode ser assustador e desafiante. É necessário que tanto os pacientes quanto os cuidadores se informem sobre a doença. O conhecimento dá a capacidade de lidar melhor com situações e eventuais decisões futuras. As informações abaixo são apenas algumas breves reflexões a respeito.

Pacientes

Para quem tem Alzheimer é importante manter a sua saúde em dia. Isto inclui fazer check-ups médicos regulares, ter boa alimentação, praticar exercício físico, dormir bem, e evitar atividades que o coloquem em risco (dirigir, cozinhar, andar sozinho).

Explicar a doença para outros pode ajudar no cuidado. O entendimento da doença por todos é importante para aprender a lidar com ela e seus desafios.

Para quem mora sozinho, é importante procurar obter ajuda nas atividades do dia a dia, seja com um amigo, familiar ou funcionário.

É importante, especialmente nos estágios iniciais da doença, fazer planos para o futuro. Onde e com quem morar, necessidade de ajuda de outros, questões financeiras, planos de saúde, em quem confiar se não puder mais tomar decisões por si só. Estas são apenas algumas das questões importantes a serem respondidas.

Cuidadores

Ser cuidador de alguém com Alzheimer pode ser um enorme desafio. Mais ainda se esse alguém for um familiar próximo.

Algumas dicas:

  • Ajuste a casa para evitar riscos, especialmente o de quedas e o de evitar o acesso fácil à medicamentos, facas e instrumentos que possam causar incêndios. Leia meu artigo sobre quedas em idosos.
  • Evite mudanças bruscas de ambientes. Seja mudar as mobílias de lugar quanto mudar de local de moradia. Nem sempre isso é possível, mas um ambiente familiar pode ser benéfico para quem tem Alzheimer.
  • Crie rotinas saudáveis de sono. Evite ruídos e luzes em demasia durante a noite.
  • Encoraje as atividades físicas. Por mais simples que sejam, elas colaboram para manter o corpo saudável e melhoram a questão comportamental.
  • Fale lentamente e evite dar muitas opções. Se precisar que haja alguma escolha, apresente apenas duas alternativas.
  • Deixe anotações na geladeira, micro-ondas ou outro lugar de fácil acesso para informações úteis, como números de telefones de familiares, cuidadores ou de emergência médica.
  • Tenha paciência ao responder questões repetitivas.
  • Evite entrar em conflitos com a pessoa com Alzheimer. Gentilmente tente mostrar que a ideia está errada. E se não der certo, tudo bem.
  • Procure cuidar de si mesmo. É natural que quem cuida de alguém se descuide de si mesmo. Procure reservar um tempo do dia ou da semana para seus próprios autocuidados.

Tem como prevenir?

O fator genético não tem como mudar. Porém, existem diversos fatores de risco que parecem influenciar no desenvolvimento de demências e possivelmente na doença de Alzheimer e que podem ser alterados.

Montando quebra cabeças
Fonte: © studioroman via canva.com.

Nenhum deles tem comprovação definitiva sobre a influência em causar o Alzheimer, mas todos merecem atenção e é o que de melhor temos até o momento.

  • Pressão alta: A pressão elevada favorece o acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos de todo o corpo, incluindo o cérebro. E isto por si só pode ter algum tipo de relação tanto com a demência vascular quanto com o Alzheimer.
  • Colesterol elevado: Não há uma relação direta entre o uso de estatinas (que são os principais medicamentos para tratar o colesterol) e a prevenção de Alzheimer. Porém o simples fato de que o colesterol contribui para o entupimento dos vasos sanguíneos, incluindo os do cérebro, é motivo mais do que suficiente para mantê-lo sob controle. Seja com alimentação equilibrada e exercícios físicos, quanto com medicamentos, se necessário.
  • Diabetes: Não se sabe ao certo o motivo, mas o diabetes parece estar associado a maiores riscos de demência, incluindo ainda favorecimento de doenças cardiovasculares. Por isso a necessidade de se manter o açúcar do sangue sob controle.
  • Exercício físico: Vários estudos têm tentado mostrar que a prática regular de exercícios físicos protege contra o Alzheimer e outras demências. Apesar de não haver correlação definitiva, o fato é que se exercitar regularmente melhora a circulação sanguínea e a oxigenação das células de todo o corpo, o que pode por si só proteger contra o Alzheimer. Os efeitos parecem mais benéficos para quem começa a fazer exercícios antes da terceira idade.
  • Medicações: Até o momento não existe nenhuma medicação comprovada que evite o Alzheimer. O uso de vitaminas, terapias hormonais, anti-inflamatórios, ginkgo biloba e até mesmo canabis é desencorajada por não termos nenhuma boa evidência na prevenção do Alzheimer nem de qualquer outra demência.
  • Exercícios para a memória: Os exercícios para a memória melhoram a capacidade cognitiva no curto prazo, porém não há evidências definitivas sobre a melhora no longo prazo. Também não há nenhuma indicação exata de que tipo de exercício ou duração que seja mais adequado. De qualquer forma, leitura, palavras cruzadas, jogos de tabuleiro, e toda e qualquer outra atividade que estimule o cérebro pode e deve ser incentivada para todos.
  • Reserva cognitiva: Altos níveis educacionais parecem estar relacionados com um efeito protetor para o Alzheimer, ou pelo menos com o atraso no avanço dos sintomas. Talvez o melhor entendimento da doença e a criação de estratégias próprias para burlar as dificuldades cognitivas possam ajudar a explicar esse atraso da doença.
  • Qualidade do sono: Não há estudos definitivos que mostrem que a qualidade do sono tenha um efeito protetor no Alzheimer. Mas dormir bem ajuda na consolidação e formação de memórias de longo prazo, o que pode melhorar a capacidade cognitiva e trazer uma proteção indireta.
  • Trauma cerebral: Proteger a cabeça contra traumas é importante. Apesar dos traumas não terem associação direta com o Alzheimer, um trauma cerebral pode ser muito prejudicial, especialmente para o portador da doença. Usar capacete na prática de esportes violentos ou durante a prática de esportes em duas rodas é simplesmente essencial.

Onde obter mais informações

Informações de qualidade nem sempre são fáceis de encontrar. Existem muitos sites e principalmente vídeos por aí com informações duvidosas e promessas fáceis de saúde.

Um bom site e com informações confiáveis é o Alzheimer’s Association. É uma organização mundial de saúde voluntária, criada em 1980, voltada para o cuidado, suporte e pesquisa da doença de Alzheimer.

A página do Ministério da Saúde, dedicada ao Alzheimer também tem boas informações.

Conclusão

A doença de Alzheimer é a principal demência que afeta idosos em todo o mundo. Ele se caracteriza principalmente por uma perda seletiva da memória. Ela tem relação com o acúmulo de proteínas beta amiloides em partes do cérebro. Sua evolução é lenta e leva normalmente 8 a 10 anos entre o início da doença e o óbito. Qualquer pessoa com queixa de perda de memória recente ou alteração de comportamento deve procurar um médico. Não existe nenhum exame definitivo para o diagnóstico da doença, sendo os exames indicados para se descartar outras doenças. Testes cognitivos costumam revelar os déficits cognitivos e são essenciais. O tratamento é feito com medicações que ajudam a melhorar a capacidade cognitiva, porém eles não impedem o avanço da doença. Não há evidências definitivas sobre como se prevenir, mas bons hábitos de vida parecem ajudar.

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*Imagem que ilustra este artigo: © wildpixel de Getty Images Pro via canva.com.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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